sexta-feira, 29 de setembro de 2017


A agenda de retrocessos está incrível.

Este país deve se orgulhar da façanha de todo mês emplacar mais e mais retrocessos.

Em São Paulo os retrocessos estão no âmbito municipal (PSDB), estadual (PSDB) e federal (PMDB). Ainda não estou acreditando nas fotos dos colegas recebendo oração de pastores evangélicos e literalmente colocando a cidade à venda a contento do mercado financeiro, imobiliário e especulativo.

Quando penso que o fundo do poço da agenda política vergonhosa ou corrida para acessar o poder chegou ao fim às notícias revelam que esse poço não tem fundo.

O PSDB é considerado o partido mais rejeitado pela população? Como? Quando aconteceu isso? Aqui em São Paulo? Então alguém explica o motivo de ter o mesmo partido há anos no estado e agora mais recente na prefeitura. Ah sei. E eu sou o bozo, só pode.

O presidente tem apenas 3% da população que considera o seu governo como bom/ótimo e ainda continua no cargo. Mesmo após nova denúncia de corrupção o presidente interino do PMDB continua no cargo executando as reformas a todo vapor e pelo indicativo permanecerá até 2018.

Aliado a esse golpe o inesperado do golpe surge sem dó: PMDB e PT se articulam, melhor dizer se aliam para candidaturas no nordeste. Daí vem o sopro, vento estranho ou perdido com Ciro Gomes ao dizer se eleito anulará todas as reformas do presidente interino. Ops. Será esse o sinal galático? Ainda é possível crer na política partidária?

Enquanto isso os Movimentos não cessam.

Os atos contra a homofobia ganham fôlego, 15 mil pessoas protestam contra a cura gay.

A igreja avança e se coloca nas instituições educacionais com ensino religioso. (?)

Adeus filosofia e artes.

Entra a obediência no amém sem pensar.

A Ocupação do MTST em São Bernardo do Campo é de revoltar na quantidade de famílias sem moradia e admirar no empenho de resistir e lutar pelo direito à moradia no centro da cidade.

No ABCD além da moradia tem o transporte público precário e absurdamente abusivo no valor da passagem. E chega 2080 mas não chegará o metrô naquela região, assim vejo como ex moradora de cinco bairros de SBC que detestava os busão e valores de passagens.

Os estudantes em São Paulo se organizam para manifestar contra a retirada do passe livre de estudante porém com pouquíssimo apoio da população.

E quando as expressões sociais explodem nas ruas rumo a greves?
O que paralisa retrocessos é greve.
Então o agora se ajusta pausadamente, nas redes sociais.

Sendo assim, seguimos.

Conversar sobre filmes, séries, canções, finais de semana, mar, bichos ou qualquer coisa tem sido melhor pois causa menos estresse e aborrecimentos.

A série Top Boy da Netflix serve para compreender a questão das drogas para além do óbvio sejam eles pelos vícios, usuários e comércios no contexto social relativamente mais favorável. Ali existe pobreza, mas não é a mesma que conhecemos.


Não interessou as partes clichês da série, mas as histórias de vida das crianças/jovens que pelo visto o autor faz questão de apontá-las.



Em tempos de Redução da Maioridade Penal por aqui, vale a pena assistir outra série com contexto econômico completamente diferente do nosso, porém com os mesmos problemas na segurança pública e judiciário. O filme/série é do Spike.

 
       
Seria tão importante se estas duas séries estivessem traduzidas para o português e disponibilizadas na rede para além da Netflix para que todos compreendessem que a Redução da Maioridade Penal não tem nada a ver com justiça e segurança. Ou ainda que a guerra às drogas está longe de ser questão da segurança pública. Quem sabe até mês que vem. 

sábado, 23 de setembro de 2017

A poesia na falta de cor

A poesia que me cabe já não é mais a de ver cor onde não há, não é mais a de usar lentes para modificar o que vejo, não é mais a de fotografar o que tenho medo de esquecer, não é mais a de clarear o que escuro está, nem muito menos a de ver beleza onde o que é dito feio se alojou.

A poesia dos meus dias se tem feito no que é, aquilo que se mostra e não sei porque insiste em ser. A poesia que me mareja os olhos é a de ver e aceitar. É a de receber o nublado sem ter que sentir falta do sol, é a de notar a ausência sem ter que pensar na presença, é a de perder sem supor como seria ganhar. A poesia que me preenche é agora a do sentir sem parâmetros. Meus extremos não se dialogam mais, eles são o que são, cada um em sua singularidade e vivendo o seu momento e espaço sem ser necessário ser invadido pelo seu contraponto. Minha poesia está no respeito do agora. Aquilo que me vem e que não ficará para sempre e por isso apenas está. A minha alma agora brilha ou ofusca de acordo com aquilo que é, não mais com o que eu gostaria que fosse, não mais com o que gostariam que fosse, não mais com o que não é.

O positivismo que tirava a poesia da minha vida, inventava de ver beleza nos dias cinzas, coloria o preto e branco das minhas lembranças, apagava o que se recusava ter cor, escorreu-se pelo ralo e eu nem se quer senti o desespero do que não se tem volta. Escorreu pelos olhos e eu em câmera lenta vi ele se esvaindo até a última gota. Foi-se embora e tchau. Vou aceitar também.

O que me tirava a poesia não era os problemas ou a falta de cor e brilho que me arremete de tempo em tempo no girar da roda da vida. A poesia me era arrancada pela expectativa da poesia alheia. Eu vivi uma vida de poesias que não eram minhas. O que sei é que todo o colorido que se deu em minha vida, foi pela falta de respeito em aceitar o que é feio e incolor na natureza, foi por ver o ruim como inferior ao bom. Se minha alma sentiu dor, foi por pintar de arco-íris as tempestades que deveria ter me molhado. Eu antecipava o arco-íris, não deixava a chuva vir. Ilusão de viver uma vida que não é vivida, apenas adiada. Para quando? Para nunca. E se eu aceitasse a sombra dos dias ruins? Se eu acolhesse o céu nublado de minhas manhãs? Se eu aceitasse o que é feio sem tentar maquiar o imperfeito? A poesia se desfez assim pra mim.

Desmascarei as muitas máscaras que me vesti e desbotei as cores do que para mim é incolor. Me vi despindo de tantos Eus, de palavras que não eram minhas, de focos que não eram meus. Antes, quando me faltava poesia e me deparava com uma pedra, eu via tudo, menos uma pedra. Não era permitido ver pedra, tudo tinha que ser flor. Hoje não me falta poesia, aprendi a ver uma pedra, o que está além dela, o que é ser ela e não mais pintar uma flor no lugar do que é pedra. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

"Você é tudo, e tudo é você..."

Era um dia como qualquer outro. Lá estava ela indo para o seu serviço, enquanto olhava as paisagens passar pela janela. Olhava as crianças nas calçadas, e sentia saudade de sua infância, das bonecas que há muito deixara para trás. 
Divagava em meios aos pensamentos diversos que nos atingem nessas viagens de ônibus. Se considerava uma pessoa de sorte por poder sentir aquilo que sentia: a paz.

Num determinado momento da viagem, numa parada do coletivo, viu subir um rapaz, bem apessoado. Ela era a única naquele ônibus, àquele horário. Todos os outros assentos estavam livres.

O rapaz fazia uso de fones de ouvido. Escutava algo no seu celular.

Para surpresa da moça, o garoto sentou ao seu lado. Foi educado, pediu licença, mas ela estranhou.
Por quê o menino não procurou outro lugar pra sentar? O ônibus estava vazio. Só ela de passageira.

Ia pensando nessas coisas quando o rapaz perguntou assim, de repente:

- Moça, posso pedir um favor?

A cara de espanto que ela fez foi impossível de disfarçar. 
Meio sem jeito, meneou positivamente com a cabeça.

- Poderia ouvir uma música comigo? Te dou um lado do fone, e a gente ouve!
Por favor... É muito importante pra mim...

- Lógico, óbvio, claro que ela ficou desconcertada. Afinal, um estranho estava ali ao seu lado, e pedia que ela ouvisse o quê ele estava ouvindo.

- É que vou descer já já... - Tentou desvencilhar-se ela.

- Por favor, eu insisto... A música é curtinha...

Não tinha jeito. 
Pensou durante uns dez segundos, olhou para o rapaz, no qual não sentiu maldade, e por isso, aceitou o convite.

Colocou então o fone em sua orelha direita. O rapaz, por sua vez, ficou com seu fone na esquerda dele.

Play apertado, eis que a música inicia. 
Era uma música romântica, mas totalmente fora da situação da qual ela participava no momento.
Teve o ímpeto de perguntar para o menino o por quê de ser justamente aquela música, mas quando voltou seu rosto para o mesmo, percebeu que ele estava com os olhos fechados.

Ficou então sem graça de perguntar.
O quê será que aquela música despertava nele? E por quê justamente ela foi convidada por ele para ouvi-la com ele?

Claro, com o ônibus vazio, ele poderia ter se sentado em qualquer uma das poltronas, mas não. Foi até ela, e fez aquele convite. 

"Você é tudo, e tudo é você..."

Ela já conhecia aquela letra, aquela melodia. A música era antiga. Tristemente romântica, romanticamente triste.

Decidiu então seguir viagem, ouvindo a música ao lado do rapaz, que viajava no coletivo ao lado dela, e em seus pensamentos, através da canção.

Estranho.

Sentiu uma tristeza. Não sabia por quê. 
Na realidade, até pensou saber: Tratava-se do garoto, que também tinha uma fisionomia triste.
Mas começou a pensar que achava isso pelo motivo de a música ter uma melodia triste, e que aquele estranho sentimento era fruto da emoção causada por aquela faixa.

De olhos fechados, o menino não parecia mais estar ali. 
Dois minutos e cinquenta e sete segundos que pareceram uma eternidade.
A promessa do menino revelara-se verdadeira. A música foi curta.

Quando acabou, e o silêncio veio, parecia que ela não ouvia o ronco do motor. Não ouvia mais nada.
Se perdeu no momento do estranho menino.

Ele abriu lentamente seus olhos, e só então ela percebeu que suas mãos eram seguradas pelas dele. 
Recuou então, como quem pede desculpas. Ele deu um leve sorriso, guardou o celular no bolso.

- Muito obrigado! Jamais esquecerei esse momento. Não se esqueça de que, se ainda não é, você ainda será tudo na vida de alguém. Seja feliz!

Sem saber o por quê, seus olhos marejaram. Num sinal de positivo, apenas balançou levemente a cabeça pra cima e pra baixo.

O ônibus parou, e o rapaz se foi.

Nunca mais o viu.
Mas não existe uma só vez em que escute a música, e não se lembre dele.

"Você é tudo, e tudo é você..."
Publicado originalmente aqui.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Descobriram

Quarta-feira. Já era tarde e eu estava dormindo quando o telefone tocou. Olhei o número para saber se eu poderia atender xingando. “Número privado”. Ótimo, além de tudo eu teria que ser diplomático. Tentei disfarçar o sono com um lacônico “alô”. Como resposta só consegui ouvir um “Descobriram...” antes que a ligação caísse. Era só o que faltava. Algum idiota ligou para o número errado. O jeito era voltar pra cama e amaldiçoar o sujeito até pegar no sono de novo.

Foi só deitar para surgir a dúvida. E se não foi engano? De repente alguém estava tentando me avisar sobre algo que descobriram! Mas o que era tão urgente que não poderia esperar pelo dia seguinte?

Corri para as redes sociais. Facebook, Instagram, Twitter, Whatsapp, portais de notícias. Nenhuma descoberta bombástica que justificasse a ligação misteriosa. Pensei em ligar para os amigos mais próximos. Loucura. Como eu explicaria uma ligação tarde da noite perguntando se descobriram alguma coisa? Pareceria uma ligação de um ex, bêbado, em plena madrugada de sábado.

Descobriram algo sobre mim, só pode ser. Mas o quê? Eu que sou tão correto. Comecei a vasculhar a memória para saber o que poderia me denunciar. Aproveitei que o computador ainda estava ligado e apaguei todos os meus arquivos. Filmes, músicas, séries, e-books... pirataria é crime!

Mas não fiquei tranquilo. Tem tanto computador pirateando arquivos no mundo, por que logo o meu? Pode ter sido algo no mundo real, ao invés do virtual. Teve a vez que eu furei fila no banco, mas já faz tempo! Eles cobram taxas abusivas e eu vou ser punido por isso?

Quando a moça do supermercado me devolveu troco a mais eu só percebi quando cheguei em casa, não iria voltar lá por causa de mixaria. As uvas que eu belisquei antes de pagar foi para experimentar e ver se estavam gostosas! Além do mais, o cliente tem sempre razão.

Confesso que só não apelei para o meu advogado porque não tenho um advogado. Nunca precisei, sempre falei mal deles, mas agora me retrato, falei mal, mas não foi por mal, só fui na onda dos amigos! O que eu não daria por um habeas corpus preventivo numa hora dessas.

Já passava das quatro da manhã, eu havia desfeito o gatonet, listei um grupo de pessoas para as quais eu pediria desculpa, por vezes sem nem saber o porquê, imaginei todas as situações possíveis. Olha, aquele pum no ônibus lotado foi sem querer, eu estava distraído e... bobagem. Quem iria descobrir?

O primeiro raio de sol do dia foi como a lâmpada de ‘eureka’ brilhando na minha cabeça. Eu passei pela faixa de pedestre sem parar para que aquele pobre coitado atravessasse! Pude reconstituir o olhar de fúria que ele me lançou quando busquei sua reação no retrovisor. Adiantaria pedir desculpas? Ele deve ter anotado a placa, fez uma busca detalhada, encontrou toda a documentação do carro, tinha meu endereço, telefone, sabia onde eu trabalhava.

Eu estava acabado. A falta de sono e o peso de ser um criminoso me deixaram com uma aparência cadavérica. Não havia decidido se eu me entregaria para a polícia ou se tentaria o habeas corpus preventivo. Uma coisa era certa, minha vida havia mudado. Não poderia seguir como se nada tivesse acontecido.

A primeira ação do dia seria pedir demissão. Martelava na minha cabeça a voz do capitão Nascimento. “Pede pra sair!” e eu pediria. Melhor que ser escoltado por policiais brutamontes na frente dos colegas de trabalho, em uma condução coercitiva.

Quando cheguei ao escritório todos estavam reunidos na sala de café, como de costume. Entrei sem jeito e antes que pudesse fazer o fatídico anúncio, o Lobato me encarou.

“Rapaz! Você está acabado, hein? Te liguei ontem à noite, mas meu crédito acabou. Descobriram o endereço do cliente?”

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Diploma de ódio

Dentro de todas as mentiras que nos fizeram acreditar, uma se destaca: o ódio que uma mulher sente pela outra.
Poucas mentiras tiveram mais poder do que essa, foi escrita nas pedras, desenhada nas paredes e tatuada no chão.

É fato que o ódio existe e navega pelo coração humano, mas não está direcionado a todas as pessoas de um gênero ou outro que cruzem no seu caminho. Odiar uma mulher que um dia te prejudicou não significa ''odiar'' todas.

Mas ódio ensinado é pior do que arma carregada, sempre está ali em alerta, acorda ao menor sinal e não escuta argumentos nem explicações.

Escutei uma conversa entre duas jovens, sobre uma terceira que estava acabando um mestrado. As duas jovens fizeram uma lista de motivos pelos quais o mestrado da terceira não valeria nada, a lista incluía suposições de que ela teria recebido ''ajuda'' de um professor, que a faculdade era ruim, que nem era bom o mestrado, enfim, parecia que tudo levava a mesma conclusão: o importante era odiar a moça.

Depois de um tempo elas voltaram a conversa e começaram a se divertir com uma história, parece que a moça que fez o mestrado tinha ficado muito tempo longe dos estudos, ficou insegura e contratou uma professora particular para dar uma refrescada e assim tentar um vestibular. Ficou dois anos com aulas particulares, e não eram tanto para se fortalecer nas matérias, mas para vencer sua insegurança. Depois conseguiu entrar na faculdade e acabou fazendo um mestrado.

Não sei os motivos da insegurança da moça, mas posso adivinhar um por um, porque são iguais ao de todas. Crescemos escutando que é bom estudar e ser inteligente, mas não é por essas qualidades que o teu príncipe vai te achar e se apaixonar, ele procura beleza e você tem que ser linda para ser amada.

Sem beleza, não tem amor e quem quer viver assim? Cercada de diplomas e sem um Romeu?

E nas ruas o discurso continua, mulheres fortes que entraram na política ou subiram nas carreiras sempre são criticadas pela sua aparência, quantas vezes escutei e li pessoas dizerem sobre mulheres poderosas ''que bom que é alguém na vida, porque com aquela cara e corpo, não vai achar marido''.

Pois é, isso é dito a todas, a cada segundo, a cada minuto, a cada hora, sem beleza não há vida e diplomas são para as feias, as que não tem outro jeito de sobreviver no mundo, já que não vão conseguir um ''macho'' para sustentá-las.


Somos doutrinadas para sonhar em sermos divas e um dia de nossas vidas, nem que seja um dia, entrar em um lugar e ser vista por ''ele'', essa figura mítica masculina que rege nossas vidas.

E quem é incentivada a sonhar com um mestrado, um doutorado? Não dá tempo!

E colocar um negócio propio? Já viu mulher lidar com o mundo real? Não consegue!

Estudar para muitas é um grande sacrifício, não pelo tempo, mas pela crença de que não é boa o suficiente para aquilo, porque a mensagem é sempre a mesma, mulheres são emocionais e não enfrentam bem os desafios acadêmicos.

E o outro lado da moeda também se aplica, o truque é fazer a mulher se sentir mal, então alguém pergunta se ela estudou, responde que não e logo vem o julgamento ''nossa, mas podia ter pelo menos terminado o ensino médio''.

Ah, sim, mulheres que não estudam se sentem mal, mulheres que estudam se sentem mal. É o mesmo jogo. 

Muitas mulheres que não estudam não o fazem por diversos motivos, o excesso de trabalho, responsabilidades, um marido inútil, filhos pequenos, mas o principal motivo é que não se sentem inteligentes o suficiente, se veem pequenas diante de um tubarão que não existe. Essas mulheres levam orçamentos domésticos, mas não se acham capazes de passar em uma prova de matemática, lidam com centenas de problemas todos os dias, mas não acreditam poder cumprir prazos de trabalhos e provas.

E tudo isso é mentira armada, ódio plantado. O patriarcado nunca quis mulheres em bancos de escolas e faculdades, não é do interesse deles nossa entrada a nenhum mundo que os faça perder o controle que tem sobre nossas vidas.

Nossa suposta burrice é mentira inventada, e tem sido assim durante séculos, nos fizeram acreditar que o mundo acadêmico é demais para nossas pequenas mentes. Depois plantaram o ódio que dizemos ter umas pelas outras, e pronto, o dano estava feito. 

Estamos acostumadas a olhar outra mulher com o mesmo olhar que recebemos do patriarcado, de desprezo e ódio.

E era uma história sobre duas jovens que falavam de uma terceira, ironizavam o mestrado que a moça tinha concluído, era ódio líquido que escorria pela boca.

Se a mentira não tivesse atravessado nossa vida seria uma história sobre duas jovens que se inspiraram em uma terceira e resolveram fazer alguma coisa de suas vidas. Pararam de se sentir mal com o que viam os outros fazerem e resolveram se mexer. Podia ser uma história sobre duas jovens que ficaram comovidas com o esforço da terceira, que contratou um professor particular para entrar em uma faculdade. Podia ser uma história de inspiração, uma mensagem extraordinária a todas as mulheres, acreditem na sua capacidade, inteligência e conquistem o mundo.

O bom é que as mentiras são frágeis paredes que um bom martelo derruba e podemos derrubar essa. Não somos burras e podemos estudar, evoluir, ter um negócio, ou ser dona de casa, não importa o que queremos ser, importa não se sentir burra.

O outro problema que o ódio traz é a conta alta, sim, pagamos pelo ódio que sentimos, ele nos puxa para baixo. Cada vez que vemos o sucesso de alguém e pensamos que poderia ser o nosso, vamos para baixo. Ódio não inspira, pelo contrário, te faz sentir mal.

A moça ao lado estudou, mudou de emprego, viajou, começou do zero?
Especular sobre como conseguiu isso e querer diminuir, não ajuda ninguém. Bom mesmo é olhar para o lado e se inspirar, pensar que se ela conseguiu, bom, eu posso estar mais perto do que quero. Foi possível para ela? Pode ser para mim. Em vez de jogar ódio e ressentimento, é melhor se aproximar e puxar uma conversa, conhecer um pouco inspira mais.

Mulheres são inspiradoras pela alta resistência a tudo, pela profundidade do seu amor e intensidade, e porque seguem em pé, apesar de tudo.

Quem está perto e muda algo, te prova que isso é uma coisa possível, sim, podemos reconstruir nossa vida, apesar de toda a terra que é jogada no nosso rosto.

E tenha a certeza, nenhuma mulher teve nada fácil nesta vida, todos escutamos as mesmas bobagens, recebemos as mesmas cargas de ódio e somos convencidas desde pequenas do nosso fracasso.

Quando odiar uma mulher sem motivos se pergunte se é real ou uma reação ao ódio que foi ensinado, se não é apenas um resto do lixo que carregamos. 

E pense duas vezes, se inspire, é mais fácil enfrentar um dragão quando sabemos que alguém já fez isso, do que ficar paralisada sem acreditar que pode fazer isso.

Todas as mulheres tiveram e têm os mesmos desafios, se inspire nas diferentes maneiras de enfrentá-los, de vivê-los.

Era uma história que poderia ser sobre duas jovens falando de uma terceira e no fim dizendo ''poxa, escutei a história dela e me senti inspirada para mudar minha vida, porque ela é parecida a mim, talvez seja eu, talvez seja eu lá na frente, quando tudo já deu certo''.


Iara De Dupont










quinta-feira, 7 de setembro de 2017

independência ou sorte?

Do alto do morro
um urro nos surra o sono

se aproxima ligeiro
aos galopes
solitário

sua ira 
irrompe a noite
e rasga o céu

sem nenhum exército.

do alto do sono
um sonho urra
ansiando morros:

Independência
ou
Sorte?