quarta-feira, 29 de março de 2017

entre chefes e trabalhadoras (es) o que escolher?

Certo dia, numa manhã qualquer estava sentada naquela  mesa, com uma das mãos no queixo enquanto a outra arrastava o mouse para correr os olhos nas  linhas dos contratos sociais para identificar se era falso ou verdadeiro e quais seriam uma tentativa de  fraude.

Era uma mistura de tédio e desânimo e cansaço às 07h e 50m da manhã. E no começo era normal chegar muito cedo, tendo em vista que morava muito longe e tinha que sair às 05h e 50m de casa para chegar às 08h em ponto.

Quando perdia o horário do ônibus ou tinha trânsito naquela maldita Anchieta chegava 10/15 minutos depois do horário ou então cedo demais. Acontecia também  de quase todos os dias sair após o horário, tipo duas horas depois ou mais.

Mas que porra que tanto fala de horário?

Calma.

É importante frisar a ação do – tempo - na vida de qualquer ser humano para tratar de qualquer assunto.

Adoraria poder falar de: unicórnios, flores, cabelos, ETs, unhas, gatinhos fofos, bichos fofínissimos,  músicas,  efeito sanfona ou qualquer gigolé, farofada, grelo ou caraio de frivolidades  deste mundo de coisas materiais e imateriais. Juro queria falar de qualquer coisa menos sobre a perda de direitos já conquistados.

É o que tem para agora, então vai.

Das 07h e 50m da manhã às 19 ou 20 horas da noite (pois nunca saia no horário, às vezes acontecia de sair até 21 horas) era tempo suficiente para observar tudo que acontecia com um olho no contrato e outro olho no curral/pasto/gado.

Eis aí a vantagem de ser quieta mas observadora. A arte de conseguir absorver mais do ambiente e da vivência para registrar na memória o que interessa.

Foi numa manhã dessa que os olhos saltaram e os ouvidos ficaram alertas para a presença de dois ou três homens, bem apessoados de fino trato que ficavam durante horas em cada setor e  alguns minutos com cada funcionário e horas e horas no computador escrevendo e escrevendo, era os tais auditores ou o momento de auditoria da empresa.

Qualquer ser humano que trabalhou em empresas de médio ou grande porte, no setor financeiro/lojas ou teve familiares e parentes que trabalhavam em chão de fábrica sabe o que são os momentos de auditorias que nada mais servem para avaliar ganhos e perdas, sejam de lucros e atividades da força de  trabalho numa empresa. No resumo geral, a ordem dos cortes.

Pois bem.

Entre fatos e exageros da rádio peão tinha de tudo, desde justificar esta auditoria com venda de logo/marca da empresa, ou venda da empresa até terceirizar o trabalho de todos, seja nas lojas, na matriz ou na fábrica. Veja que o assunto terceirizar era comum e também uma possibilidade desde sempre.

A auditoria como previa a rádio peão serviu para atualizar os donos da empresa do quanto estavam perdendo dinheiro e agilidade processual das atividades de trabalho com excesso de funcionários e cargos.

Noutras palavras a empresa que antes da auditoria tinha plano de carreira, faixa salarial, benefícios e carga horária diferentes de repente numa bela manhã todas as funções e salários dos funcionários das lojas foi padronizada, exceto o gerente que ganhava comissão de vendas.

Os funcionários com função de vendedor e caixa (30 horas), estoquista e atendente (40h) do dia para noite amanheceram com mesma carga horária (40h), salário e função - assistentes administrativos da loja -  exercendo todas as atividades a depender da necessidade. Então uma hora era estoquista, noutra caixa,  em outra vendedor e assim conforme a necessidade e remunerados com mesma faixa salarial e/ou igualmente. Aqueles que não aceitaram foram dispensados.

A redução de funcionários, cargos e salários e aumento de atividades  piorou a vida de quem não teve escolha e aceitou ficar. De inicio não sentiram a diferença porque foram dispensados e receberam direitos trabalhistas, logo depois recontratados e conforme os meses vieram descobriram a precariedade nas condições de vida e salário. Do financeiro percebia a rotatividade de funcionários  e as queixas de muitos com vários anos de empresa.

Cabe ressaltar que os auditores se basearam no mercado de trabalho americano, com ponderações de que lá não tinha essa distinção de cargo e salário  para funcionários de grandes redes de lojas.

A terceirização na prática visa exatamente isso, igualar salários e funções bem como aumentar a concorrência e carga horária uma vez que para garantir a vaga é necessário mostrar desempenho e produção ou noutras palavras o empregador e/ou contratante deve usufruir ao máximo do seu tempo de vida.

Agora imagina esta mudança no chão das fábricas para todas as atividades.

Imagina as profissões com faixa salarial reduzida e desvalorizada e independente da formação terão que aceitar as condições que forem impostas pelos contratantes.

Uma coisa é ver os trabalhadores do setor de prestação de serviços na maioria responsável pela limpeza serem terceirizados outra bem diferente é imaginar o médico, enfermeira, bancários, técnicos de qualquer setor, engenheiros e eteceteras sendo terceirizados e desvalorizados. Ah sem direito a rescisão do contrato,  nenhuma empresa terceirizada dispensa funcionário evita-se ao máximo pagar direitos.

No setor público a terceirização visa diminuir exponencialmente o número de concursos públicos para qualquer setor e aumentar a produção para como dizem por aí produzir riquezas.

Mas se ainda resta dúvida e acredita que a terceirização irá gerar mais empregos pense: por que os franceses não aceitam a reforma trabalhista mesmo dispondo de bem estar social mínimo?

 Mas a terceirização ainda tem como objetivo abrir o caminho para popularizar a ideia de profissional liberal e/ou autônomo, cuja finalidade é o trabalhador deixar de ser assalariado para ser chefe, ao invés de carteira de trabalho será CNPJ.

A falácia da autonomia e slogan: seja seu chefe, faça seu próprio horário e determine as suas condições de trabalho são ideias amplamente difundidas na grande mídia  há anos e com força total através das startaps sob a justificativa de que o país precisa investir no empreendedorismo, no campo das novas ideias.

PLIM!  NOVAS IDEIAS, GRANDES NEGÓCIOS! PLIM!

Os pobres e classe média almejam e desejam de todo ser se tornarem chefes (empresários, microempresários, microempreendedores) e não vejo problema nisso, se compreenderem que a sorte dos negócios não é para todos.

A desigualdade de oportunidades, de articulações (relações interpessoais que agora com gestores no Estado se ampliam) e investimento financeiros a título de crédito em financeiras e bancos é uma realidade e constatação para pequenos e médios empresários. Pouquíssimos fogem a regra, digamos 1/2 entre os poucos ricos que existem no globo.

A oportunidade financeira está destinada para quem  nasceu em berço de ouro, para quem tem história centenária com direito a herança. Você tem isso? Não. Então avia, anda e pisa ligeiro nas ruas para garantir seus míseros direitos.

Empresas individuais e empreendedoras não sobrevivem dois/três anos no mundo dos CNPJs, também não conseguem empréstimos e facilidades de investimentos, não se trata apenas da burocracia do estado, está para além e como dizem o Brasil é um cemitério de CNPJs.

A ideia de que o trabalho terceirizado vai aumentar empregos para girar a economia é para abrir precedente e oportunidade mais adiante de tornar você caro assalariado num trabalhador autônomo ou mais conhecido por pessoa jurídica.

Esse é o sonho de consumo da chefia dos mercados de trabalho e financeiros: consolidar o trabalho autônomo ou a prestação de serviço por meio do trabalhador liberal, aquele que emite nota fiscal e possui CNPJ.

Uma vez sendo pessoa jurídica deverá pagar mais impostos. Os impostos que hoje as empresas não pagam, mas financiam partidos políticos através de caixas dois será pago daqui alguns anos pelo trabalhador autônomo.

Então os favoráveis a esta modalidade de trabalho – trabalhador autônomo ou liberal  justificarão o trabalho autônomo em termos mais tempo e dinheiro. Agora você é o dono do seu tempo. Imagina quantos empregos será preciso para manter a sua família.

Outra justificativa é que o Brasil precisa se atualizar e aproximar da realidade dos países desenvolvidos, pois as formas de contrato de trabalho estão ultrapassadas.

A realidade de países desenvolvidos que investem as arrecadações de impostos no mínimo de bem estar social em educação de qualidade e saúde até certa idade não pode ser comparado com último país a abolir a escravidão e promove a proteção e integridade dos devedores da Receita Federal mantendo em plena atividade.

Também não podemos cair nesta falácia de que a vida irá melhorar quando querem nos vender a ideia de que existe um rombo na previdência por conta do número de beneficiários; quando sabemos que os maiores devedores da previdência são as empresas e portanto empresários.

Bora combinar um baguio aqui,  de  que forma levar a sério empresários que compactuam com trabalho análogo a escravidão, não pagam direitos trabalhistas e dispõem de brechas a la vonté nas leis para abrir novas empresas mudando apenas o número de CNPJ,  preferem pagar caixa dois ao invés de pagar impostos e concorrer no tal livre mercado capitalista?

Fala  sério hein.

Assim conseguimos entender o empenho da FIESP em marcar presença através do PATO em atos de 2015 a 2016.

Devemos notar  a liberdade política quando empresários devem milhões para a Receita Federal e nada acontece, quando se fosse noutro país aquele super desenvolvido é prisão na certa. 

Nos  EUA quem deve ou frauda a Receita Federal é preso e com direito a multa, o Lobo de Wall Street ilustra isso de forma bem didática.

Não é segredo para quem trabalha que os direitos trabalhistas sempre foram motivo de reclamação e desgosto  para os empregadores/patrões/empresários e chefes.

O trabalho assalariado e com garantia de direitos como conhecemos hoje ou até 22/03/2017 é um direito conquistado recentemente se comparado com período escravocrata (400 anos?!) quando a mão de obra negra e indígena  foi escravizada com o descobrimento desta terra para a exploração.

A Era Vargas foi a responsável pela implementação da CLT, o autor - Getúlio Vargas -  o populista ou  pai dos pobres como se referem na época consolidou esse direito no estado.  

De lá para cá temos quase 90 anos da CLT e pouco mais da metade de anos da consolidação dos direitos trabalhistas. Direitos que não se aplicam a todos, uma vez que em pleno século XXI existem denuncias de trabalho escravo inclusive de terceirizados pipocando pelo país.

Neste momento caótico com aprovação da terceirização do trabalho, (ainda que exista mandado de segurança) e retrógrado com reforma da previdência não existe separação entre direitista,  capitalista, liberalista, esquerdista, socialista, comunista e anarquista. A única separação existente é: trabalhadores (as) e chefes!


  

E aí o que vai ser?



segunda-feira, 27 de março de 2017

Vendedor de chocolate

Estava em pé, olhando pela janela e pensando no futuro. Não sei se ter consciência de que o problema não é exclusivamente meu torna as coisas mais suportáveis... Tá todo mundo na merda. Todo mundo não, 1% da população mundial passa muito bem, obrigada. Para todo o restante, a constante ameaça contra sua dignidade.

Várias vozes ocupavam o ar pesado de angústia e fumaça do trem. Confusão. Eu quase não podia compreender o que falavam. Contudo, uma voz masculina se destacou das demais: ela era particularmente bonita e agradável. A voz anunciava chocolate a dois reais em meio a piadas originais que roubavam o riso tímido dos passageiros.  Por um instante abandonei a paisagem cinza da janela para voltar o olhar pra dentro do vagão. Descobri o dono da voz bonita, era um jovem descolado, com brinco alargador, tatuagem, boné. Saciada minha curiosidade, retornei à introspecção, mas por pouco tempo, já que o moço insistia em roubar minha atenção: seus slogans brincalhões se converteram em crítica à mensagem sonora da CPTM que dizia ser ilegal o comércio ambulante.  “Trabalhar é errado? Vocês acham que estou cometendo crime”? Os passageiros concordavam silenciosamente com ele.

Enquanto defendia a dignidade do próprio trabalho e de seus colegas, o vendedor de chocolate, muito bem articulado, fez uma contraposição entre sua honestidade e a dos políticos corruptos. “Querem ver roubalheira? Basta ligar a televisão e ver o que se passa em Brasília”. Ao que mais e mais passageiros concordavam com o vendedor, agora não mais silenciosamente, eles resmungavam baixinho.

A voz bonita ganhou um tom entusiasmado de discurso político. Como num suave de mix de balada, quando as musicas acabam e começam sem a gente perceber, o moço mudou o foco de sua crítica política para as igrejas evangélicas. “As igrejas estão se perdendo na ganância, hoje em dia ninguém mais ama o próximo”, ele dizia cada vez mais alto, enquanto citava versículos bíblicos. Eu podia ouvir “sim, sim!” igualmente entusiasmado dos passageiros. Foi então que no auge o moço perguntou: “Eu posso ouvir um amém”? E todo mundo ao meu redor respondeu “amém!”.

Aquilo tudo me causou uma espécie de vertigem, parecia que acordara de um sonho lúcido. A voz do locutor da CPTM anunciou a chegada à estação final, “o trem não presta mais serviços, favor desembarcar”. Um passageiro que estava sentado no chão se levantou e empurrou violentamente o vendedor de chocolates. Todo mundo ao redor ficou atento e esperando intimamente que os dois partissem para um combate físico, mas quando o trem abriu as portas, cada um simplesmente caminhou em direções opostas pela plataforma.

terça-feira, 21 de março de 2017

DE OLHARES QUE ENCANTAM

Adoro quando seus lindos olhos negros me fitam. A sensação de ser olhado por você é encantadora. O jeito que você fala, o som da sua voz, faz o dia parecer mais bonito. Faz valer a pena. Não acredito que você pense o mesmo, mas pra mim não faz diferença. Sou transportado para uma outra dimensão, a qual pensei, muitos anos atrás, nem existir mais. Sei que isso não será eterno. Por mim até seria, mas sei que pra você, é temporário. Até o momento em que outro olhar cruzar o seu, e o meu não fizer mais diferença. Enquanto isso, aproveito. Aproveito para ouvir suas histórias, me alegrar com elas, sentir ciúmes, tristezas, raiva, euforia, desdém. Você desperta em mim aquele que amo ser e também aquele que detesto. Mas vale a pena, porque, como disse um dia um grande sábio, "viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe". Você me faz viver quando olha pra mim. Quando sorri pra mim. Quando mexe no cabelo daquele jeito provocador e inocente, mas que me leva às alturas. Incrível como alguém é capaz de tanta coisa em tão curto espaço de tempo. Tempo. Preciso aproveitar. Porque nunca se sabe quanto tempo temos. Viver, e não ter a vergonha de ser feliz. Obrigado pelo olhar. Janela da alma que me faz tão bem. Sigo meu caminho, pensando no momento em que o meu olhar cruzará o seu novamente. Enquanto isso não acontece, sigo aqui, torcendo para que você tenha a sorte de ver somente coisas belas. Imaginando o seu olhar. Misterioso. Cativante. Amável. Louco. Puro. Menina mulher que encanta somente com os olhos. Pra uns, nada demais. Pra mim, o mundo.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Não há nada acontecendo


As panelas pararam de bater na zona oeste quando ainda havia um restinho de comida nas panelas da zona leste. O objetivo já havia sido alcançado, não tinha porque continuar.

“Vamos, tesouro! Não se junte a essa gentalha”, gritou a mãe, preocupada que a camisa da seleção fosse, de alguma forma, ficar vermelha. Argumentou que já havia simpatizado com o outro lado, mas só até o momento em que se associaram com a banda podre.

Faz sentido. Só não entendi qual a vantagem de deixar, então, só a banda podre. Mas sementes gostam de coisas podres. Esta foi plantada, cresceu e já começa a dar frutos. Parece ser a hora de colocar as coisas nos locais historicamente a elas relegados.

Ouvi dizer que vão reformar o ensino. Alguém tem dúvida de que o ensino está ruim? É óbvio que precisa de reforma. E agora o jovem já vai sair da escola com uma profissão de nível técnico. Para que pensar em fazer faculdade? É caro, demora, é difícil, então que se contentem com um nível técnico mesmo.

E a aposentadoria? A população é composta por uma ampla quantidade de vagabundos que relutam em trabalhar até o fim da vida, ganhando salário baixo e tolerando empregador abusivo, mas não tem outro jeito. A taxa de inadimplência de impostos das empresas brasileiras é uma das mais altas do mundo, a única saída qual é? Dificultar a aposentadoria do trabalhador, claro!

Aliás, esse é outro tema importante. A legislação que protege o trabalhador é de 1940. Não é evidente que precisa ser revista e modernizada? A lei que proíbe o aborto também é dessa época, mas nessa a gente não mexe. O importante são as leis trabalhistas. Hoje o empregador é obrigado por lei a pagar um salário mínimo, se ele quiser pagar mais, tudo bem. É evidente que retirando a obrigatoriedade do valor mínimo, os salários irão aumentar, não?

E isso resolve o desemprego? Claro que não! Mas notar-se-á uma tacada de mestre nesse ponto: as mulheres não vivem reclamando que ganham menos e cumprem jornada dupla? Pois basta retirá-las do mercado de trabalho! Olha que maravilha, elas não terão mais jornada dupla, serão belas-recatadas-e-do-lar, criarão as crianças e nos informarão os preços no supermercado.

Uma exceção fica por conta das empregadas domésticas. Não faz muito tempo começaram a estudar e a ganhar regalias como carteira assinada e horário regulamentado. Há quem tenha orgulho em dizer que esse tipo de coisa nunca tinha acontecido na história desse país. Mas é claro que não! O país tem raízes escravagistas e as mulheres negras ocupam lugar cativo nas neo-senzalas. O ministro do trabalho até impediu a divulgação de uma lista com empresas acusadas de trabalho escravo, tudo em nome dessa tradição nacional que vem desde os tempos de Cabral – o Pedro, não o Sérgio.

A corrupção não acabou, mas seria injusto dizer que nada mudou. Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel. É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional. Com o Supremo, com tudo. Se há um caminho mais fácil, por que ir pelo mais difícil?

sábado, 18 de março de 2017

Sujeito

Das frases que eu não gostaria que você tivesse dito, nunca quis ser o sujeito, mas sim o futuro simples de um pretérito imperfeito.

Das histórias que você tenha que contar, não quero ser o vilão e nem o príncipe, nem protagonista e nem coadjuvante, eu seria apenas e perfeitamente o marcador de páginas do livro da vida, ajudando a separar as páginas viradas das que ainda serão descobertas e aprendidas, mesmo que eu não seja mais útil quando chegar no final.

Não quero ser um motivo, a razão ou a irracionalidade pra algo, mas quero ser eu e estar com você até o final que for, feliz ou não.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Do processo criativo (ou Dia 15).


Por onde começar?
Não me lembro de nenhum causo legal hoje.
Nada na minha própria memória para transformar em ficção.
Também não imaginei histórias de vida e fantasias para ninguém que conheço.
Começo pelo personagem? Quem vai ser?
Começo pelo tema? Esse mês não tem tema.
E se fizer daquele causo... mas transformá-lo em algo que se passa... em 1969?
Vou pesquisar um pouco.
Quem sabe se eu não começar, eu embalo?
Dois parágrafos, já tá bom.
Hmm... não... acho que um jovem em 1969 não iria pedir permissão para pegar o carro do pai. É melhor roubar.
Nossa, meus últimos contos foram todos de protagonista masculino, e sou mulher, por que será?
Melhor escrever algo sobre alguma mulher.
Ou sobre mim. Mas o quê? Não estou muito afim de escrever aqueles textos sentimentais de como vejo a vida.
Tenho curtido minhas ficções verdadeiras, cheias de memória e afeto.
Mas não vem nada hoje mesmo, hein?
Daqui a pouco tenho que ir trabalhar e vou ficar mais um mês sem escrever nada, ou fazer post retroativo.
Por que não começo a pensar nisso antes?
Eu pensei, mas nenhum causo inspirador esse mês.
Quem sabe para um outro dia...
É, mês que vem eu começo antes. 

domingo, 12 de março de 2017

Tem gente que é nuvem

Conversando com uma amiga ela confessou estar preocupada. Namorou durante quatro anos, mas há dois o namoro acabou. Perguntei o que tanto a atormentava e ela disse:

-Acho que tem alguma coisa errada comigo. Eu não sinto nada quando penso nele, nem saudades. Poxa, ele foi um ótimo namorado, eu o amava, como é possível não sentir nada, nem saudades?

Não soube o que dizer porque já passei por isso e não encontrei explicação. Até porque não aconteceu com todos os Romeus, existem alguns que ainda mexem com meus sentimentos e me deixam suspirando, mas outros são uma nuvem distante que não significa nada.

Tenho a impressão que essa confusão acontece porque muitas pessoas confundem ''amar'' com ''achar que está amando''. Talvez quando o amor é real fique alguma sensação boa, mas se foi fogo de palha some na memória. Às vezes que isso vinha no meu pensamento lembrava daquela música do Cazuza que dizia ''o nosso amor a gente inventa''. É, inventamos mesmo, tanto que chega uma hora que não sabemos mais se foi real ou não.

O ano passado aconteceu a mesma coisa comigo. Namorei durante quase três anos, depois tudo acabou e uma amiga me convidou a uma festa de aniversário, mas teve o cuidado de me avisar que o meu antigo Romeu iria estar por lá. Fui, mas tive a sorte de sair antes dele chegar, não planejei fazer isso, é porque tinha outro compromisso. Mas fiquei pensando no assunto e depois conversando com um amigo cheguei a conclusão que talvez eu fosse mesmo uma pessoa fria, porque não sentia nada pelo meu ex-namorado, nem raiva, nem ódio, nem saudade, nem amor e se ele existia ou não neste planeta, não me interessava.

Fiquei tão atormentada com a situação que não parava de falar no assunto, como é possível amar alguém loucamente e anos depois a pessoa não significa nada? Ou pelo menos não sentimos nada.  E como é possível gostar de alguém e nunca mais esquecer isso? Tudo me parecia confuso, estranho, teve gente que me disse que eu ainda amava meu ex-namorado, estava apenas ignorando esse sentimento para não sofrer mais, mesmo assim as coisas não fechavam, saber dele não mexia comigo, nem me fazia sentir saudades.

Me enrolei tanto nessa questão que quanto mais eu pensava menos entendia. Até que cheguei a conclusão de que a vida é assim, nem todas as pessoas deixam marcas boas e merecem um espaço na nossa mente. Tem gente que juramos amar, mas o tempo varre da nossa alma e algumas pessoas que pensamos apenas ''gostar'' nunca esquecemos. Talvez somos menos espertos do que pensamos e nem os sentimentos básicos conseguimos decifrar. Talvez eu pensei ''amar'' e não era nada, foi apenas a visão do mar, que marcou minhas pegadas na areia e as do Romeu, mas na primeira onda tudo foi varrido.

Não me atormento mais com isso porque decidi que o máximo que posso fazer é viver os sentimentos, não decifrá-los. Não tenho mais pilha para fazer as coisas desse jeito. Se um dia eu amei e lembro disso com amor e saudades, que sorte e da minha alma, mas se não significa nada, paciência, vida que segue. Tenho certeza que tudo isso acontece dos dois lados, assim também deve existir no mundo alguns Romeus que nem se lembram de mim e se o fazem não sentem nada, e também tem os que lembram com carinho. A vida é feita dos dois lados e nenhum deve nos atormentar, e não temos como saber quem vai ficar na nossa lembrança no canto mais puro e quem não vai nem passar na porta. Já gostei de tanta gente que pensei que esqueceria e todos os dias me lembro deles. E já amei ou acho que amei, alguns que nem lembro mais. Nem todo mundo é sol que aparece todos os dias na nossa alma e aquece, tem gente que é nuvem, passa logo e não faz diferença.

Iara De Dupont

sexta-feira, 10 de março de 2017

Amarras




Amarras tanto em definições quanto propriamente ditas são bem difíceis de explicar, de soltar.
Passamos anos tentando nos livrar de várias coisas que acumulamos com o passar dos anos, parece uma conta infinita de coisas que nunca terminam e viram um emaranhado de amarras bem feitas às quais muitas vezes mal nos deixa respirar.
Às vezes elas estão tão presentes que se soltar delas gera um medo apavorante do depois, do que seremos sem elas.
Às vezes não as percebemos, vivemos vidas sem saber o que realmente somos ou podemos fazer e esse tipo de amarra é bem comum ela é gritante aos olhos alheios mas invisível ao que vive.
É muito difícil admitir amarras, pois ao admitir que elas existem vem o temido medo de se soltar.
Admitir as vezes significa deixar alguém para trás, deixar alguém caminhar a sua frente, pode significar términos terríveis ou começos apavorantes.
Podem ainda significar deixar de ser.
Mesmo assim com todos os contratempos há uma lenda que diz que se soltar é a melhor escolha.
Eu... Acredito.
Ainda não vejo muitas das minhas, outras já identifiquei e sigo tentando desfazer o emaranhado... As vezes consigo, outras crio novas. Às vezes pensam que elas me tornam eu,  ai lembro que eu tornei todas elas possíveis, reais.

Quando esqueço o que estou fazendo tento só não parar de respirar...

quarta-feira, 8 de março de 2017

Pra Quê?

   Ok , existe em contrato social que diz como a gente pode se portar em determinadas situações.
  Eu entendo, mas é realmente necessário segui-lo ao pé da letra sem pensar?

 Porque sempre que alguém pede informação pra gente na rua, somos tão absurdamente prestativos,chegando as nos sentir mal se não sabemos onde fica tal rua?

  E onde decidiram que no trânsito e na internet podemos ser os mais babacas possíveis.
Já parou pra pensar que a pessoa gentil da calçada pode ser a mesma no carro do lado?
Pra que isso? A pessoa que te ultrapassou, pode apenas estar aprendendo a dirigir, voltando de um velório, indo ao hospital ou tendo um dia ruim.

   Um dos poucos objetivos que tenho no meu dia é não estragar o dia de ninguém. 
Sabe quando alguém te responde atravessado e acaba com o seu dia, faz você se sentir um bosta? Não quero ser essa pessoa, não sei como alguém aceita ser essa pessoa.
  Ah, às vezes a pessoa merece! É verdade, pode ser, mas provavelmente você não está apto para avaliar isso.
  Consegue lembrar de situações antiquíssimas que ainda dão nó na garganta de lembrar? Tenho tantas...
  Sabe uma sensação deliciosa? Quando tem alguém que desses de mal com a vida, querendo discutir com você e você reverte a situação? A pessoa percebe que não vai conseguir te fisgar e muda completamente? É tão melhor do que entrar na dela.

  A menina tinha 16 anos e começou a trabalhar com telemarketing, primeiro emprego, e chegava todo dia chorando em casa, por que todo mundo, ou quase todo mundo, a tratava assim, sabe como? Como você atende uma ligação indesejada?
  Sabe aquele telefonema chato de telemarketing? seja educado com a menina, mande um beijo pro moço que te xingou na rua, escreva com paciência pro revoltado da internet. Para de drama, tente comédia, romance ou aventuras! Tem dias que dá.
  

terça-feira, 7 de março de 2017

[2012]

no poço
esse meu sem fim.


toda calma que me esbarra
é a paz que eu nunca tive.


em clave, meu sol nasceu
sozinho.


que descaminho construiu a mim
filho ininterrupto
de uma dor já renascida.


o parto, é quase o que vale
a sua ferida.


as palavras dançam por entre as línguas
e em que desvario me meti!


como que sem cansaço
o quase sono me persegue


(e o sonho
me deixa dormir).


sexta-feira, 3 de março de 2017

Carnavalizando

          Eu vou acordar com o som das baterias anunciando que logo o centro da cidade será dominado pela multidão fantasiada, dançando enlouquecidamente! Eu vou levantar sambando, recolhendo confetes e glitter do dia anterior! Eu vou abrir a minha casa para meus queridos se arrumarem e tomarem a saideira. Se não for pra sair toda montada, nem vejo graça!  


         
       Eu vou ser um arco-íris de glitter, brilhando nas cores mais sortidas! Eu vou me enrolar nas serpentinas jogadas! Eu vou dançar até ficar descabelada! Eu vou sambando de costas para o bloco! Eu vou conseguir pular meu carnaval mesmo apartada na multidão, no melhor do calor humano! Eu vou recolher os confetes que caíram no decote do meu vestido e vou jogá-los novamente pro alto! Eu vou rir com as 300 fotos que chegam no dia seguinte, mostrando o quanto eu me diverti! 


     Eu vou sair sambando em todas as poças deixadas pela chuva, pois chuva nenhuma atrapalha minha folia! Eu vou deixar o meu celular dormir no arroz, pois guardar ele na bolsa térmica não protege o suficiente! Eu vou tirar minha lente de contado no meio da multidão, não vou perder a música só pela lente estar cheia de glitter!
    

     Eu vou compartilhar a minha catuaba e meus abraços com todo mundo! Eu vou mandar mensagens sem me preocupar em ter ressaca moral! Eu vou deixar a minha euforia transbordar! Vou pular enlouquecidamente ao som de Caetano! Eu vou viver em looping, saindo de um bloco e tropeçando no outro! Eu vou perder a voz de tanto cantar! Eu vou de columbina veneziana, de Carmem Miranda da Tropicália, de Frida Amy Winehouse Kahlo e de dama de ouro! Eu vou ficar tão cansada de dançar que, na quarta-feira de cinzas, vou me sentir atropelada por um trio elétrico!   

A ressaca do fim do carnaval é a hipocrisia. É ver as pessoas tirando suas fantasias e colocando suas máscaras sociais. Como voltar a viver depois do carnaval? Definitivamente, eu não tô segurando essa barra que é gostar de você dig dig iê o fim do carnaval! Quem nasceu para poesia não se contenta com a vida em tons de cinza. Quem nasceu para poesia precisa do transbordar de cores e da cidade dominada pelo clima de “anarco felicidade”.

E na depressão pós-carnaval ainda bem que existe o cenário alternativo na capital paulista, aonde podemos ter um pouquinho desse encantamento toda semana. Aonde existem pessoas que também precisam do riso fácil com os amigos, da música alta, do dançar freneticamente, do glitter, do amor fraternal... É, nós seguimos carnavalizando a vida, não trocamos a fantasia pela máscara social, pois, para nós, a vida é um eterno carnaval.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Os Hermanos barbudos mentiram.


Dia 3: Eu nunca vi grande mérito nessa festa criada por bicheiros. Às vezes os amigos conseguem me convencer, mas dessa vez tô disposto a ficar em casa. A menos que o Juvenal apareça, com ele é sempre diversão garantida.

Dia 4: O Juve tá na área! Improvisei uma fantasia e bora pra festa!

Dia 8: A extensão do evento por mais uma semana foi uma excelente ideia. Não sei como as empresas aceitaram, mas quanto mais feriado, mais folia. Perdi as contas de quantas pessoas beijei e meus pés doem, mas vamo que vamo!

Dia 12: Desisti das ruas. Estou curtindo pela televisão e paro na varanda para cumprimentar os entusiasmados que passam. Fico desidratado só de olhar, mas admiro muito o pique desse pessoal. Quando acabar eles vão achar difícil voltar ao normal.

Dia 20: Começo a achar que é uma pegadinha. Várias empresas tentaram voltar a abrir, mas houve saques, destruição e confusão em muitas delas. Apenas supermercados, lojas de conveniência e vendedores de rua parecem estar prosperando.

Dia 26: A tempestade de poeira brilhante ainda não parou. Tudo que eu tenho parece estar coberto de glitter, e nada mais é sagrado. Sons repetitivos martelam minha cabeça e eu às vezes não consigo controlar meu corpo. O ponto da fadiga se foi há muito tempo. Eu não sei mais o que é real.

Dia 35:
Tentei escrever sem rima
Não funcionou, bora pra cima
A feeeeeeesta continuaaaaaa
Larga o papel, e bora pra ruaaaaaa!

Dia 62: O corpo do vovô não pode mais…

O número de falecidos no evento ainda não foi contabilizado, mas há indícios de que o culpado foi um folião que, ao ver uma estrela cadente, pediu que “ O evento nunca acabasse”