terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

n'ouro das memórias

Acordei ressabiada com os sonhos de ontem. Sonhos esses que, na verdade, já foram a realidade de um tempo mais distante. No final das contas, o que nos sobra é isso – a ilusão, a saudade e aquele cheiro de naftalina nas gavetas do armário.
 
 Os fatos travestidos de fantasmas caminharam ao meu lado, como amigos leais, por todas as horas da minha inquebrável rotina. Procurei me manter sensata, distante, como manda o figurino. Mas as memórias daqueles dias abriram uma cratera no meio da sala impossível de ignorar e pouco a pouco fui caindo, submergindo até sobrar um espelho embaçado, incapaz de mostrar a minha face.
 
Naqueles (outros) dias tudo era brisa e montanhas. As pedras da calçada faziam cócegas na alma. Tudo era imenso no coração da gente e, por isso, a gente sonhava. Eu sonhava. Quando fecho meus olhos consigo sentir o cheiro daquelas paragens no início da contagem dos meses: nas roupas que só secavam ao longo de uma semana – devido à umidade -, nos gases vespertinos daquela indústria, no odor sábio dos móveis e das antigas casas.
 
Todo o novo dentro de mim parecia impregnado de possibilidades a se bordarem na roca da vida. O tempo, ali, estava com a sua ampulheta suspensa. Devagar passava e nos enganava – que iria durar.



Ouro Preto, tarde de neblina, 2011.














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