sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A injustificável ausência do ser

Em meio à decadência e tristeza da loucura, nos corredores de um hospício na Áustria do século XIX, um ancião, empurrado em sua cadeira de rodas, declara uma benção para todos os desgarrados em seu caminho: “Medíocres de todos os cantos, eu os absolvo. Absolvo a todos”.

Salieri, em sua mediocridade autoproclamada, fez as pazes consigo. Ainda não consegui isto.

Não me conformo com minha pequenez. Não gosto de ser menos; mas sou. E vou escondendo meus passos, julgando em silêncio os dos outros; dependendo da aprovação alheia enquanto digo não me importar com ela.

Tento justificar os meses sem publicar? Não posso. Está no título. Busco perdão? Não sou disso. Se o texto parece de confessionário, penso mais como divã.

Com os defeitos expostos no papel, fica mais fácil exterminá-los. Mas me falta o ânimo para tratar deles. O tédio me envolve e mais uma vez estou assistindo a vida passar.

Acho que é isso o que faço agora. Minha lista pessoal de falhas. Porque não basta ser mediano, é preciso da preguiça pra completar. Um mundo cheio de possibilidades e eu encontro tempo para me entediar em frente ao computador.

Medíocre.

E mais um dia se passa. E o vejo passar, julgando a mim e aos outros. Ritual macabro, sem fim e sem propósito.

Arre, estou farto de gente! Onde é que há semideuses no mundo?

Preciso que haja mais na humanidade do que vejo passar em todos esses feeds do meu dia. O mundo anda me assustando...

... E fiz de novo. Meu vício. Desculpar minhas faltas nas faltas dos outros. Não tem justificativa, Gabriel. Olha o título.

Me recolho então, sem saber como finalizar o texto. Sem coragem de apertar o botão de enviar. Quem sempre foi júri, se caga em ser réu.

Mas um dia eu melhoro e viro Salieri. Satisfeito em presenciar as maravilhas do mundo do lado de fora. E quando for juiz e executor de mim, quem sabe poderei olhar no espelho e finalmente ter propriedade para dizer “eu lhe absolvo”.  



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