sábado, 30 de janeiro de 2016

Haikai de seus olhos verdes


O amanhecer dos seus olhos
Envolto em cachos
No verde de sua alma me absolvo.

Cedo ao sorriso, cego
Respiro teu regaço 
e nado em ti e permaneço

Corpo e bálsamo
Alma e berço
Cachos e álamos.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

férias

E aquela preguiça monstruosa que não me larga.
Não bastasse isso, o computador falha. 
Tudo bem, mando para conserto e quem conserta diz: "até sexta-feira pela manhã devolvo".
Confio. Espero. Espero. Espero até às 18 e 30 minutos. Até agora nada do computador. 

Dizem que nos trópicos brasileiros o atraso é perfeitamente naturalizado.
Então relevo, como tudo na vida e corro atrás de alguma lan house da vida.

Achei.
Mas é desconfortável.
Nada como ser em casa e seguir o ritual de todo dia 29 ser na hora seja com erros, falhas equívocos.

Hoje por incrível que pareça não quero pensar sequer na revolução.
E olha que acredito.
Posso parecer tola mas sim, acredito.
Principalmente naquela revolução que é na gente
Aconteci assim: de dentro para fora.

Mas não querer falar do passe-livre para a violência e abuso do poder policial em manifestações ou da Kimta Katiguria ou o negocinho lá do agora é que são elas ou da palavra santa e amada pela mídia no ano de 2015 na terra do pau Brasil é inédito.

Vai ver é preguiça. 
E é viu. pura preguiça mental.

Então continuo descansando a mente, lendo histórias e estória, ouvindo musicas, arrumando as coisas para a visita de amanhã e fazendo a lista mental de vontades e metas para o ano de 2016.

Dentre tantas, revelo só uma.
Dançar.

ps: pressa depois coloco a musica e publico noutro canto tb. adeus,

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Quem não paga o pato? – parte 1

Nota: pesquisa de cunho puramente pessoal, sem financiamento de nenhum partido ou coisa que o valha mas se quiserem me pagar to aceitando

Motivada inicialmente pelo meu ódio a pessoas que param a gente na rua (oi, pessoas do greenpeace, unicef, pessoas do vc já foi ao teatro, hare krhishnas e cia), resolvi pesquisar a respeito do pato da FIESP.

OLAR

Ser parada todos os dias da semana a caminho do trabalho, por pessoas pedindo assinatura para algo que elas apenas dizem vagamente “somos contra os impostos, não queremos mais os impostos” pode ter um efeito adverso do que eles esperam.

Veja bem, não é que eu queira impostos. Ninguém quer pagar mais impostos. todo mundo já tá suficientemente fodido. Principalmente quando não há transparência nas transações e fica meio que evidente que os impostos não são revertidos como deveriam. Vide o Sonegômetro.

O que era incômodo (coletores de assinatura) virou curiosidade. Tanto pelo discurso vago, quando pelos panfletos entregues, que ressaltavam a porcentagem dos preços que correspondiam a impostos. Parto do princípio que existem muitos jeitos de dizer mentiras contando verdades.

Com uma média de duas mil assinaturas por hora, e a proposta de impedir o aumento de impostos e a volta da CPMF, a campanha Não Vamos Pagar o Pato é, no mínimo, inquietante. Vamos lá, a proposta de não ter aumento de impostos é uma graça, mas a quem ela serve?

Então, como pessoa leiga que sou, separei algumas perguntas norteadoras e levantei alguns dados para esta empreitada.

Primeiro ponto, quais os principais impostos e contribuições pagos no Brasil?
Tributos federais
II – Imposto sobre Importação.
IOF – Imposto sobre Operações Financeiras. Incide sobre empréstimos, financiamentos e outras operações financeiras, e sobre ações.
IPI – Imposto sobre Produto Industrializado. Cobrado das indústrias.
IRPF – Imposto de Renda Pessoa Física.
IRPJ – Imposto de Renda Pessoa Jurídica. Incide sobre o lucro das empresas.
ITR – Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural.
Cide – Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico. Incide sobre petróleo e gás natural e seus derivados, e sobre álcool combustível.
Cofins – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social. Cobrado das empresas.
CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira. É descontada a cada entrada e saída de dinheiro das contas bancárias.
CSLL – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.
FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Percentual do salário de cada trabalhador com carteira assinada depositado pela empresa.
INSS – Instituto Nacional do Seguro Social. Percentual do salário de cada empregado cobrado da empresa (cerca de 28% – varia segundo o ramo de atuação) e do trabalhador (8%) para assistência à saúde.
PIS/Pasep – Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público. Cobrado das empresas.
Impostos estaduais
ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias. Incide também sobre o transporte interestadual e intermunicipal e telefonia.
IPVA – Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores.
ITCMD – Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação. Incide sobre herança.
Impostos municipais
IPTU – Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana.
ISS – Imposto Sobre Serviços. Cobrado das empresas.
ITBI – Imposto sobre Transmissão de Bens Inter Vivos. Incide sobre a mudança de propriedade de imóveis.

Segundo ponto, quem está promovendo esta campanha?
Paulo Antônio Skaf (PMDB), presidente da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) defende a ideia de um “País forte por meio do desenvolvimento de uma indústria poderosa, dentro de um mercado regulado por políticas desenvolvimentistas, menos burocracia e mais infraestrutura, uma legislação trabalhista mais flexível – com toda a polêmica que isto possa significar –, juros baixos e impostos menores ainda.” (Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/os-60-mais-poderosos/paulo-skaf/5213bc5f26db567e47000003.html)


A partir disto, temos alguns dados importantes. O primeiro é de que o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo não irá entrar numa briga levianamente alegando “interesses da população”, sendo que defende uma política neoliberal, com pouca ou nenhuma participação do Estado na economia (e, considerando a lógica das leis trabalhistas flexíveis, não é no trabalhador que ele pensa, não é mesmo?). O segundo é o interesse que o empresário tem em concorrer à prefeitura de São Paulo e, para tanto, precisa ter notoriedade, tanto dentro quanto fora do partido.

Um outro ponto a ser levantado seria “a quem serve esta campanha?”
No site da FIESP, tive a resposta: para explicar sua proposta, Skaf promoveu um jantar. Os convidados:
Benjamin Steinbruch, 1º Vice Presidente da Fiesp
Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados
Fábio Meirelles, Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo – Faesp
Heitor José Müller, Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul – Fiergs
Josué Christiano Gomes da Silva, Presidente da Coteminas S.A e 3º Vice Presidente da Fiesp
Luiz Moan Yabiku Junior, Presidente da Anfavea -  Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores e Conselheiro do Conselho Superior Estratégico da Fiesp
Marcos Marinho Lutz, Diretor Presidente da Cosan e Presidente do Coinfra
Waldemar Verdi Junior, Presidente das Empresas Rodobens
Walter Vicioni Gonçalves, Superintendente do Sesi –SP e Diretor Regional do Senai – SP

Achei a lista de convidados bem interessante....

E um último ponto: quem são os sonegadores?
“Os setores que mais devem à União são bancos, mineradoras e de energia elétrica. Destes, 90% são grandes empresas. Mais que isso: dois terços dos valores devidos à da União estão concentrados em 1% dos devedores. Os maiores devedores são a indústria (R$ 236,5 bilhões), o comércio (163,5 bilhões) e o sistema financeiro (R$ 89,3 bilhões). Também devem à União empresas de mídia (R$ 10,8 bilhões), educação (R$ 10,5 bilhões) e extrativismo (R$ 44,1 bilhões).”
(FONTE: http://pensadoranonimo.com.br/conheca-a-lista-dos-maiores-sonegadores-de-impostos-do-brasil/)




Finalizando,

Tendo estes dados levantados, as próximas perguntas a encabeçarem a pesquisa são:
- Quais impostos vão aumentar?
- CPMF afeta a quem?
- CPMF e evasão fiscal estão conectadas de alguma maneira?
- Alternativas, quem sabe?

Obviamente tem muito mais coisa rolando, e tanto esta pesquisa quanto seus questionamentos são superficiais. Mas um pontapé num pato inflável é sempre válido, não?


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Mariza

Banksy
Finalmente, 14 anos. Lembro-me detalhadamente. Mal havia completado a fatídica idade, quando Marineide me disse que eu devia levar a carteira de trabalho no dia seguinte. Estava ansiosa, além de ajudar mamãe nas despesas de casa, poderia me dar ao luxo de pensar em comprar coisas supérfluas, como creme de pentear cabelo.

Sim, eu me lembro. Às quatro e meia, estávamos lá no ponto de ônibus, religiosamente, eu, Marineide e alguns vizinhos. Ainda que fosse ingênua, não era estúpida em imaginar que a fábrica fosse um lugar lindo e confortável, mas quando a vi pela primeira vez foi um baita desgosto... Um portão velho e enferrujado abria caminho por um labirinto de outros corredores estreitos, escuros e mal conservados. O nosso local de trabalho, o salão principal, tinha as paredes com infiltrações, era mal ventilado e cheirava a mofo.  Foi uma decepção, pois não estávamos na “cidade”? Não era lá o lugar de civilização e modernidade?

O seu Ami nunca me olhou nos olhos. O seu tom de voz era sempre igual, monótono. Eu odiava o cheiro de naftalina que exalava dele. Mas nunca me recusei a obedecer suas ordens, ao contrário, exercia todas as atividades com eficiência e era reconhecida por isso. A nossa rotina era na mesa de produção: eu cortava os excessos de linha de costura, Marineide agrupava as peças com elásticos.

Além dessa rotina básica, havia outra: Fátima e Maria revistavam todas nós, na hora do almoço e também na saída. É que era a regra mais básica da casa, se alguém fosse flagrada furtando alguma peça, era demitida na hora por justa causa.E poderia ser acusada de furto qualquer funcionária que usasse a calcinha produzida na fábrica, afinal, quem acreditaria que qualquer uma de nós teria dinheiro suficiente para comprar algo tão caro? Certa vez, Lucimara teve que abaixar mais as calças e revelar a etiqueta, porque a estampa era “suspeita”.

Em geral, nós quase não conversávamos durante o expediente. Era 9 de abril, quando chegou um carregamento novo que trazia peças com lindas estampas de fundo escuro e flores amarelas delicadas. Foi impossível conter comentários de admiração frente à beleza do produto, não sem um toque de pesar, porque nunca teríamos o direito a desfrutar daquilo que produzíamos.

Lá fora chovia muito forte. A região alagava, mas nunca o suficiente para nos alcançar no salão de produção. Naquele dia, porém, a água ameaçava estragar toda a mercadoria. O seu Amnon, dono da fábrica, coçava a cabeça, nervoso. As meninas corriam pra lá e pra cá, todo esforço para salvar as peças, mas eu não: fiquei paralisada. Não pensei em nada em especial, apenas fiquei imóvel, observando a correria.

No dia seguinte, logo após bater o ponto, o seu Ami veio ao meu encontro e disse para eu passar na sala do seu Amnon. Fui tranquila e inocente, sem imaginar que o motivo do chamado era uma carta de demissão. Ele disse apenas onde deveria assinar e tirou do bolso algumas notas de cruzeiro. Eu continuei de cabeça baixa e calada, apenas obedeci suas instruções, minha última obediência. Tive tempo de passar na sala de produção e acenar para Marineide, “estou indo pra casa”.

Ao sair da fábrica, me senti tão aliviada, como se tivesse tirado um sapato apertado. Comprei um pacote de amendoim açucarado e saí sorridente até o ponto de ônibus. Mas eu tava cheia de pensamentos e emoções, precisava andar. Caminhei quilômetros até chegar em casa.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Depois daquele beijo

E começa mais um ano eleitoral! E antes que os cientistas políticos apareçam nas redes sociais e o arranca-rabo comece a ficar mais sério, vou aproveitar o clima politicamente ameno de Janeiro para falar-lhes um pouco de algo sobre o qual eu costumo ser muito questionado nas ruas e em eventos sociais para o qual sou costumeiramente convidado: minha trajetória política. Quem conhece minha ampla participação nos movimentos sociais e minha constante e contundente preocupação com as questões que afligem a polis, logo me indaga acerca de minhas influências militantes, de meu berço revolucionário. Bom, não gosto de me gabar, mas saibam que tudo começou com um beijo..

***

O bairro inteiro estava em estado de grandiosa excitação. As equipes de rádio e TV chegaram cedo para cobrir o evento do século. Donas de casa davam entrevistas, comerciantes comerciavam, e crianças como eu se espremiam como podiam para serem captados pela TV. O orgulho era imenso, afinal, o prefeito em pessoa estaria em nossa humilde quebrada para a inauguração de seu revolucionário conjunto habitacional de influência asiática. Não sei quanto tempo ficamos esperando debaixo do sol, mas o fato é que o prefeito de fato apareceu, em carne e osso, bem na nossa frente. E, para minha mais estupefata surpresa, ele veio chegando em minha direção, postou-se ao meu lado e beijou-me calidamente a face direita, enquanto os fotógrafos davam os cliques que estampariam os jornais do dia seguinte. Os mesmos lábios que falaram “estupra, mas não mata”, que falaram “professora não é mal paga, é mal casada”, foram os lábios que me tocaram calidamente a face direita diante das câmaras de TV. Sim, Felipe Lários afirma: “Já fui beijado por Paulo Malluf”.

Por favor, não me levem a mal. Hoje eu me envergonho muito desse desditoso dia e foi só depois de muita terapia que tive a coragem de vir a público compartilhar isso com vocês. Eu preferia vir aqui e falar que eu era a garotinha que se negou a cumprimentar o Figueiredo ou mesmo o homem que se recusou a fazer a saudação nazista. Tudo era melhor do que ser o garotinho que quase se engalfinhou com outros meninos e meninas para receber um beijo do Malluf, o diferentão, o “rouba, mas faz”, “o Rota na Rua”, o tio Patinhas da Suiça. Entretanto, naquele tempo era diferente. Naquele tempo, eu me sentia o menino escolhido, o Eleito, o aliado do Paulo. Pensei comigo, se o cara confia tanto assim em mim, eu preciso cooperar!

Foi por isso que no ano seguinte eu militei pra valer! Como ainda não existia a reeleição, Malluf precisava fazer um sucessor, um braço direito, um aliado. Seu nome era Celso Pitta, que logo passou a ser também meu braço direito, meu aliado! “Se o Pitta não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim”, dizia o Paulo na TV. E lá ia eu tentando convencer minha avó, mãe, tio e irmãos a votarem no sucessor do Paulo.  



Muitos anos se passaram desde o dia em que saí correndo pela rua comemorando a vitória de Pitta como quem comemorava um gol. O Pitta, afinal, não foi um bom prefeito e eu nunca mais votei no Malluf. Eu até pensei que o espírito malufista estava de volta, reencarnado na figura de José Luiz Datena, mas foi alarme falso. Essa semana mesmo ele desistiu de sua candidatura (pelo mesmo partido de Malluf e Pitta), dizem alguns, para não ter que falar mal de si mesmo em seu programa de TV. Mas deixem eu parar por aqui, logo os cientistas políticos chegam e fazer este tipo de confissão pode ser bem perigoso. Por favor, queimem este post logo depois de ler!


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A SOMBRA DA IMAGINAÇÃO

Caminho pela noite, olhando para trás, porque penso estar sendo seguido. Coisa de minha cabeça? Invenção de minha imaginação? Eu sei que sim. Mas mesmo assim, o medo e a angústia do desconhecido que teima em estar logo atrás, mesmo que apenas no meu mundo, me deixa com os nervos à flor da pele.

Passa da meia-noite. Gatos, mais à frente, fazem os seus tradicionais barulhos, à caça de uma fêmea para procriarem. Latas de lixo despencam de uma altura, de modo que o ruído seja alto e tenebroso. Arrisco uma olhada para trás. Imaginei que meu perseguidor pudesse aproveitar do som para me atacar. Mas não.

Sigo em frente.

O vento frio começa a ficar mais forte. Minha blusa não é capaz de me aquecer como deveria. Fricciono uma mão contra a outra, numa esperança de gerar calor. Até funciona, mas por poucos segundos. Passos? Ouvi passos?
Não sei. Mas resolvo apertar os meus. Onde diabos estão todos nesta cidade? Nenhuma alma viva dava o ar da graça. Claro… Figura de linguagem. Afinal, algum já me perseguia.

Ofegante, começo a notar que o cansaço também já chega. Minhas mãos suam. E não tenho ideia do por quê estar daquele jeito. Quem mandou ficar tomando um último drink com a moça bonita naquele lugar? E sem carro. Burro. Deveria aceitar minha condição, prevendo esse contratempo. Mas não o fiz.

Lembro que ela deixou seu número para que eu ligasse assim que chegasse em casa. “E se ligar agora?” - penso.

Não. Melhor não. O quê ela pensaria de mim? Que sou um homem medroso que liga para mulheres porque pensa estar sendo seguido por algo ou alguém? Só então noto que o celular já está em minhas mãos.
Dane-se o quê ela pensar. Vou arriscar ser ridicularizado. Meu Deus… Não consigo digitar… Maldito touch screen… Dificultando minha vida.

De repente, tropeço em algo, e o celular voa para onde não sei. Eu encontro o chão. E o meu medo aumenta, sou presa fácil. Cadê o telefone? Onde está? Preciso ligar… E o monstro das sombras? O assassino que se aproximava? O meu algoz?

Só sei que não encontrei o celular. Resolvi então sair dali o mais rápido possível. “Depois compro outro!” - pensei comigo mesmo, falando de maneira com que pudesse ouvir minha voz. O vento, há muito aumentara. Um zumbido estava em meu ouvido. Foi a queda? Não sei responder… Acho que sim.

Mas espere aí… Lá à frente… Um vulto, que parece caminhar em minha direção… Parece vestir um longo sobretudo… E está de chapéu… Oh meu Deus… Ele veio por mim… Não estava me seguindo. Estava à minha frente. Parei, atônito, olhando aquela sombra que se aproximava cada vez mais. A luz de um poste, mais acima na rua, impedia que eu enxergasse com clareza, e só via a silhueta. Foi então que alguém tocou meu ombro, e senti minhas pernas desfalecerem. Me virei. E vi.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Dogmas sociais - parte 1.

Quando a última porta de acesso foi aberta e a lanterna iluminou a galeria, um exército de ratos cinzentos interrompeu o jantar e bateu em retirada. (...) O chão estava forrado de restos de arroz, feijão, pedaços de ovo frito e de linguiça calabresa que extravasaram das quentinhas atiradas para fora das celas em protesto contra a falta de luz e a má qualidade das refeições servidas. O cheiro azedo da comida misturado com o que vinha dos xadrezes era de virar o estômago. (...) Pediam que eu testemunhasse a insalubridade do recinto, a má qualidade da comida, e que os ajudasse a conseguir transferência para outro presídio. Reivindicavam com tamanha veemência, que parei para ouvi-los e levei tempo para chegar até o doente sufocado por um ataque de asma.


O trecho acima é do livro “Carcereiros”, de Drauzio Varella. Por coincidência era o que eu estava lendo nas semanas do Natal e Ano Novo. Digo por coincidência porque entre todos os clichês que permeiam essas datas, está o tabu do indulto natalino aos presos. Não escrevo para falar do indulto. Cada um que julgue ser a favor ou contra, de acordo com princípios e valores. Porém qualquer que seja o tema e o posicionamento, argumentos sólidos são fundamentais. O sistema prisional é um vespeiro dos mais agressivos, não há solução simples para um problema tão grande, mas vamos pensar em alguns argumentos frequentes:

1 – O problema é que a polícia prende e a justiça solta. Essa conclusão é curiosíssima, porque enquanto em 1996 a população carcerária do Estado de São Paulo era de 45 mil presos, hoje é de 220 mil. Lembro de uma cena do filme “Tropa de elite 2”, quando um personagem é extremamente didático ao explicar que mantendo o ritmo atual, em alguns anos toda a população brasileira seria encarcerada.

2 – Temos violência porque não tem punição. O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo. “Perdemos” para a China, que tem umas 6 vezes nossa população, e para os EUA, que também tem população maior e é um país extremamente repressor (o que não impede que de tempos em tempos alguém entre armado em uma escola, fuzilando estudantes).

3 – Preso tem que trabalhar para pagar o próprio sustento. Genial! Não é estranho que ninguém tenha tido uma ideia tão boa e elementar antes? Afinal, esses presos vão trabalhar onde? Ainda que a qualificação não fosse um problema, por menor que seja a taxa de desemprego da sociedade entre os cidadão livres, uma pequena porcentagem sempre existe. A ideia seria aumentar o desemprego demitindo trabalhadores para que o trabalho seja executado pelos presos? Não podemos esquecer que muitos trabalham na própria cadeia, cuidando da limpeza e da alimentação.

4 – O preso é sustentado pelo Estado, então prefere ficar lá. Se o primeiro parágrafo desse texto não for suficiente, o resto do livro é extremamente recomendado – tem capítulos até divertidos, mas muitas partes são de embrulhar o estômago. Ninguém é sustentado em uma cadeia. No máximo os presos se equilibram nos pequenos espaços e seguem a risca uma espécie de constituição federal particular das cadeias.

5 – Se cometeu crime tem que pagar. Não precisamos nem entrar no campo dos que foram presos injustamente ou dos que já cumpriram pena e seguem encarcerados por não terem condições de pagar um advogado que defenda seus direitos (esses continuariam “sustentados pelo Estado”, se o argumento fosse válido). Basta imaginarmos a tentativa de receitar sempre o mesmo remédio, independente da doença, variando apenas a dose. É mais ou menos isso o que acontece na prática. Quanto mais grave o crime, maior o tempo de encarceramento, como se isso tivesse algum efeito positivo sobre o preso (ou sobre qualquer coisa a ser analisada).

Enfim, não faltam argumentos e consequentemente contra-argumentos. Um problema tão complexo não se encerra em um pequeno post, tão pouco em uma mesa de bar, mas a coerência dos argumentos ajuda a boa argumentação. É possível que ao pensar o sistema carcerário, Michel Foucault seja mais elucidativo que José Luís Datena, nem que seja só para considerar algumas hipóteses distintas do habitual.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Cinza Limão

Quando cheguei por aqui eu nada entendi...
Raízes longe e tudo tão perto
Passos rápidos, "cidadãos de bem" e corações abertos.
Chegou mais um que corre pro lado que acha certo.

Palco de Luta
Mãe da resistência 
Abrigo de Fuga
Meu mundo está em suas mãos
Frio e garoa na escuridão 
Diga sim que eu digo não.

Alguma coisa acontece no seu coração... de mãe, que cabe mais um.
Espírito do pai, nome do filho pródigo.
Amém. Oxalá. Namastê.
Tudo junto misturado, correndo pelo seu prato. 
Vivendo todo dia de luta pra um dia ver de novo o seu sorriso, todo dia.
Bom dia! Mais um...
Sem você o meu dono é solidão.
Desperta, São Paulo.



(contém citações das músicas Sampa, de Caetano Veloso e São Paulo, de 365)

domingo, 17 de janeiro de 2016

Tatuar é enraizar o transitório

Ando ouvindo muita gente que quer fazer uma (ou mais uma) tatuagem e “não sabe o quê”. Até sabe, mas receia, temendo que aquilo deixe de significar. Bom, vamos partir do princípio de que, se você pensou em um desenho, uma frase, um símbolo, é claro que aquilo te representa em algum sentido. Tatue.
Não conheço alguém que tenha encontrado uma marca para a vida inteira. Tirando a própria tatuagem, ela própria perene, o que tatuamos é sim transitório. Somos muitos na vida. Mudamos a cada instante, dá uma olhada nos nossos cabelos e roupas de décadas atrás. Olha os amores de décadas atrás. Tenho um amigo que diz que alguns relacionamentos são como um vestido velho, esquecido no armário. Olhamos e nos perguntamos como fomos capazes de vestir aquilo. Diante desses camaleões, como encontrar algo tão eterno?
O ato de tatuar é assumir que seu corpo é um álbum. São pedaços de vidas em uma vida, são retalhos de personalidade e momentos, marcados em uma tela ambulante. Minha primeira tatuagem fiz com 24 anos, de passagem por São Paulo. Decidi que era aqui que eu queria morar, apesar de ter os pezinhos sempre no Sul. Apesar de querer um amor, mas ter outro no Sul. Apesar de não ter emprego nenhum aqui e, lá, ter um bonitinho me esperando. Não sabia o que esperar, o plano era me jogar, se eu queria mesmo aquilo. E eu queria. Aí tatuei. Bem no meio das costas. ALEA JACTA EST (a sorte está lançada, em latim). Assumi a minha loucura, a minha fé, assumi que eu era feita desses rompantes. Assumi também que meu pai ficou sem falar comigo um tempo e que e-ter-na-men-te eu ia ter que explicar para as pessoas (incluindo desconhecidos) o que significava aquilo. Uma amiga que tem uma no braço diz que tem vontade de guardar pequenos pedaços de papel com sua frase escrita só pra distribuir para quem lhe pergunta. Às vezes dá preguiça de falar.
Quando eternizei em mim essa aleatoriedade, não estava maculando minha característica planejadora e de mudar as coisas só com-tu-do-bem-cer-ti-nho. Eu sou assim. Mas às vezes a gente lança os dados, a sorte, as cartas do tarot e sai o Louco. E é aí que é hora de lançar a sorte. Se a gente não meter o louco, não preenche. Eu mesma não tinha vindo para São Paulo (currículo numa mão, mala na outra, fé em Deus e no DJ. Só).
Meu álbum tá meio vazio, então tá na hora de representar outra faceta. É hora de lembrar o que mais que eu sou capaz. E saber que tatuar algo pode perecer em nós o significado, assim como a gente muda. Mas a tatuagem fica como lembrança, como o vestido no armário, as fotos vergonhosas, os ex-namorados, os empregos passados... Se não são mais a gente, mas fizeram tanto parte da gente, não tem como deixar pra lá.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Verão

O mundo se divide em dois tipos de pessoas: gente que ama o calor e gente normal.

Se você, assim como eu, aguarda ansiosamente que o governo crie o plebiscito do verão para votar "não", chega mais! Vem pra cá! Se você, assim como eu, não se lembra da última vez que usou uma calça jeans sem precisar ser colocado no soro, me dá essa mão suada! Me dá um abraço melado! Eu te compreendo.

Você acha que o canto da cigarra é o arauto do apocalipse.

Você considera estado de calamidade pública toda vez que a temperatura ultrapassa a sua idade.

Você vive uma espécie de fábula invertida. "A Cigarra e a Formiga" do Mundo Bizarro. O que você economizou no inverno, você gasta pagando a conta de luz no verão.

Você se sente um urso hibernando ao contrário. Você só sai do ar condicionado da sua casa para trabalhar porque precisa ganhar dinheiro para pagar o ar condicionado da sua casa, fenômeno conhecido como O Grande Paradoxo do Verão. 

Você se irrita com a falta de assunto generalizada. Você se irrita com as pessoas que só falam do calor. Você se irrita com as variantes "Hoje está melhor do que ontem" e "Hoje está pior do que ontem" seguidas do clássico "Vai piorar! Vai piorar! É o que estão dizendo por aí".

Você reage ao convite para qualquer evento diurno ao ar livre com o mesmo assombro de um cossaco ao ser chamado para jogar uma pelada no time dos sem camisa num campinho da Sibéria. 

Você faz maratona de O Expresso Polar, Frozen, A Era do Gelo, O Dia Depois de Amanhã, Apollo 13, Jamaica Abaixo de Zero, O Iluminado e aquele filme do avião que cai nos Andes. A cena do Jack Nicholson congelado no labirinto não te causa pavor algum, apenas uma leve inveja.

Você não sabe o que é pior: o suor, o calor senegalesco, o suor, os bichinhos de luz, os mosquitos, os insetos de um modo geral, o suor, o ônibus lotado sem ar condicionado parado no engarrafamento, o suor, o temporal no fim da tarde, o suor ou qualquer jogo do campeonato carioca.

Você cantarola no banho "fundamental é mesmo o chuveiro, é impossível ser feliz em janeiro".

A única coisa boa do verão é que, em algum momento, ele acaba. É o que estão dizendo por aí.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Sobre amores e perdas

Internet se tornou a terra das pessoas felizes.

Há o mundo maravilhoso do Instagram, dividido em lugares como "só comida gourmet", "praias afrodisíacas", "país da balada" e o visitadíssimo "Me, mim e minha Selfie". Sem esquecer da Terra média do facebook, twitter etc.

Crescemos sendo telespectadores do "felizes para sempre" e do "amor de novela". Trabalhamos com a ideia da alegria eterna. 

Repudiamos a dor. 
Não falamos sobre as perdas.
Não consideramos efêmero.

Vez ou outra o samba é tocado e reconhecemos aquele bocado de tristeza do qual é constituído.
Ter faz parte; perder também. 

Nós passamos, eles passam e assim a vida segue. 
Nunca é fácil.

Nessa mistura de lágrimas e sorrisos, algumas pessoas, de forma poética, dividem suas histórias tristes.

99 balloons” mostra os 99 dias do pequeno Eliot, portador de uma doença, com seus pais.



O Segundo vídeo é o vencedor do primeiro  Vimeo Festival Awards.  Chamado “Last Minutes With Oden”, ele aborda o difícil momento da decisão do sacrifício de um animal de estimação com câncer terminal. 



terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Gente estranha

Uma amiga me alertou: você ficou chata.
Fiquei mesmo. Nasci nos anos setenta, século passado, e ao levar um ''não'' do Romeu, o homem que amo, fiquei chata, reagi como as pessoas reagiam no meu século, chorei, arrastei e continuo arrastando correntes e lamentando minha sorte.

Sei que estou fora de ritmo, no século que estamos sofrer por amor é patético e ridículo, quem sofre por isso?  Ninguém mais sofre neste mundo, os analgésicos chegaram a sua máxima potência, os carboidratos sumiram, o glúten desapareceu e ninguém se lembra mais do açúcar e da lactose, por que lembrariam então o que é sofrer por amor? Ora, ninguém mais sofre no planeta, como diz um conhecido ''sofrimento é falta de diagnóstico e tratamento''.

Para que se apegar? Nos meus tempos, sim, no século passado, ganhei  um walkman e ele quebrou. Me joguei no chão e chorei, chorei. Corri para a assistência técnica, jurei amor ao aparelho e ele sobreviveu a uma delicada operação a qual foi submetido, uma troca de peças. O outro dia resolvi colar um adesivo no meu celular, brincadeira besta de quem tem um coração adolescente como o meu, e logo fui advertida por uma pessoa: pra quê colar adesivo se o ano que vem você vai trocá-lo?
Meu Deus! É verdade,  para que me apegar se o próximo ano ele será largado na estrada do esquecimento?

E tive um problema com meu celular e mudaram o número. Chorei na loja quando fui informada, poxa, esse número me acompanha há cinco anos, temos história, quantos Romeus já marcaram esse número!
O moço da loja não se comoveu, apenas mostrou espanto dizendo que ninguém tem o mesmo número por cinco anos.
Ninguém não, eu tinha!

Já nem tento me adaptar, aprendi a navegar no choro, sou assim mesmo, minhas emoções pertencem ao século passado, me apego aos meus objetos, juro amor eterno aos meus Romeus e quero usar o mesmo número que tanto me acompanhou. Também como carboidratos,  jogo açúcar no suco e lamento quando me rejeitam, choro, reajo, como diz minha amiga ''parece velhinha''.
Não pareço, mas sou. Bebê dos anos setenta, criança dos anos oitenta, adolescente dos anos noventa. Tudo o que me construiu por dentro aconteceu no século passado. E sim, paciência, estou chata, amo Romeu como se fosse o último homem sobre a face da terra e falo disso o tempo inteiro. Coisa de gente do século passado, esse pessoal que sofre, chora, se apega, come pão com manteiga e joga Nescau no leite. Gente estranha né?

Iara De Dupont

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Do Verbo Haver

Um dia a gente há de se cruzar,
E havemos de nos unir,
Não Haverá nada que nos separará,
Haja o que houver.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Sobre a dificuldade de escrever Feliz.

Por esses dias desde a última postagem pensei em escrever sobre muitos assuntos, cheguei a rascunhar algumas coisas mas tudo ficou inacabado.
Pensei em escrever sobre o natal e a forma que sou tocada por ele, mesmo que seja só um mês por ano, queria escrever o meu foda-seeeeeeee pra quem fica com o mimimi de que é tudo falsidade, mas desisti.
Depois pensei em escrever sobre o ano novo, e tudo que ele trás de esperança mesmo que por um dia, e que acho que o 1 dia do ano é meio que um respiro pra nós...
Tipo, respira e vai que tem mais 364 dias pela frente.
Também cogitei a hipótese de escrever sobre o ano que passou tudo que prometi e não cumpri e tudo que aconteceu sem eu menos esperar e que foi bom pra caralho...

Sério, escrevi muitos rascunhos e foi quando descobri uma coisa, descobri minha dificuldade em escrever quando estou feliz... Porra! Sou muito mais expressiva triste e isso foi bem difícil de aceitar.
Eu ando bem felizinha e minha tendencia para enxergar as coisas bem cor de rosa esta ligada então, seja qual for o problema pra mim ta tudo bem, vai se resolver, vai ficar tudo sussa e é isso ai... 

Eu definitivamente prefiro me manter nesse estado, de felicidade e luz por que descobri também que as coisas acontecem diante dos meus olhos talvez só por eu estar vibrando coisas boas, não que eu não fizesse isso antes mas era diferente e até meio difícil de explicar mas quem já sentiu sabe bem do que estou falando.
Talvez seja idiotice minha deixar isso tudo me influenciar, mas para mim quem não se deixa tende a ficar cada vez mais parecido com uma arvore (sem sentimentos).
Não sei, o que sei é que estar feliz me deixa  menos detalhista, crítica, cética...
Espero que essa felicidade dure ou que eu aprenda a ser feliz mesmo não acontecendo coisas felizes.
E sentada escrevendo isso lembrei de tantas vezes em que não estive feliz, e das coisas que tive vontade de ''vomitar'' em cima especialmente de algumas pessoas que contribuirão para minha infelicidade, talvez um dia eu diga para algumas pessoas todo o limo que criaram em mim em determinado momento, seja por atos ou palavras.
Essas pessoas que passaram pela minha vida recentemente deixando um rastro ruim, seja ele qual for quero deixar um  recado:
Vai ser feliz pra lá, mas bem feliz mesmo a ponto de esquecer que você foi um merda com alguém, a ponto de aprender a ser gente (essa tarefa é bem difícil para algumas pessoas que andei conhecendo e que conheço)...
DESEJO LUZ , AMOR E CONSCIÊNCIA A TODOS ESSES SERES,QUE VOCÊS UM DIA POSSAM ESCREVER ISSO TAMBÉM, CASO NÃO CONSIGA QUE PELO MENOS TENHAM CONSCIÊNCIA DO QUE FAZEM.

Bom, vou terminando sem pedir desculpas é claro... Sei que vocês entendem.


Beijos de luz.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Minas Gerais


Começar o ano de alma lavada, com água doce, pura, limpa, forte e gelada de uma cachoeira.
Renovar as energias, deixar a correnteza levar o que é ruim.
Contemplar o mar de morros, verde e azul, lá no horizonte... ao alcance das mãos e sob os meus pés.
Ouvir histórias, contar estrelas, evitar morcegos, cheirar flores, admirar cavalos, subir e descer ladeiras e caminhos e trilhas...
Me queimar de sol, provar comidas, ouvir o cantar dos pássaros e o coaxar dos sapos.
Brincar de adivinhar os desenhos das nuvens e de cantar com o clube da esquina.
Amar, rir, ler, sonhar, ser grata...
Aqui, em Minas Gerais.

Para ouvir:


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Sobre Séries

  Antes de mais nada, feliz ano novo.

  Ontem eu estava assistindo o segundo episódio de The Lefthovers quando ligeiramente irritada. Irritada por que assisti o primeiro episódio e resolvi que a série podia vingar, não vingou. É prepotente, boba, apática. Depois de xingar um pouco, fui até a internet ler sobre, já que seria pela critica uma das melhores séries da atualidade. Acabei lendo uma crítica da Cláudia Croitor do G1 que já tem o título "Tudo vai dar em nada" e concordei de cabo-a-rabo, ela escreve quase com minhas palavras, só faltaram uns palavrões. Para quem quiser ler: http://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/the-leftovers-chega-ao-episodio-final-com-sensacao-de-ame-ou-deixe-a-13835326

  Costumo largar filmes ruins no começo e assistir um ou dois episódios de séries e largar, provavelmente sou uma das pessoas mais chatas como companhia nessas horas. Larguei de assistir no primeiro, ou primeiros episódios: Lost, Walking Dead, Falling Skys, Small Ville, Toch... 
  Apenas para não começar apenas em falar sobre mim, vou focar no tema séries.
  Não peço muita coisa de uma:

  1-Não seja óbvia e previsível. Odeio quando começo a adivinhar o final e acertar as falas.

  2-Seja plausível. Mesmo que você tome de partida uma situação improvável ou novas regras de física, depois pare de forçar a barra.

  Só, só isso. Atores ruins, cenários ruins, baixo orçamento, todo o resto passa sem problemas com um roteiro que consiga surpreender sem apelar.


Vale a pena acrescentar que levo as comédias um pouquinho menos a sério, por isso não acho Friends ou Big Bang grandes maravilhas, são boas, assisto, gosto. Mas não levo tão a sério.

  Algumas minhas séries favoritas são:

  -Breaking Bad. (talvez a melhor, queria esquecê-la para poder rever).
  -Dexter (eu deveria ter assistido só até o último epsódio da 4ª temporada, com o John Lithgow, depois é ladeira abaixo).
  -House (deu uma caidinha na qualidade com o tempo, mas ainda é ótima).
  -The Office UK (leia bem o UK, a americana eu ainda vou assistir, mas original é original).
  -Chaves (sério,é comédia, é latina, é de ver de tarde, mas acho genial e única).
  -Desperate Housewives (apenas a primeira temporada, depois começa a virar uma novela ruim).
  -Nip Tuck (nunca vi uma série ir de boa para péssima, as primeiras temporadas valem a pena, saber quando parar também).
  -Frasier (vi, vi e revi, não perde qualidade apesar de ter durado anos).
  -Family Guy (demorei pra acostumar, mas é muito boa, supera Simpson e South Park sem dificuldades).

  Talvez escreva outro dia sobre séries meia-boca ou séries ruins, mas a lista será muito maior.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Em dias de Santos Reis

Alice saiu da crisma com as palavras jogadas em um canto da cabeça profunda.


“A data representa a chegada de três reis ao local onde teria nascido Jesus, para saudá-lo em seu nascimento."

Andava pelas ruas e observava a retirada das decorações de natal, das luzes e bolinhas, das cores. Gostava das cores. 

Pensava na mãe que devia estar preparando o almoço para receber os avôs paternos. E na solidão de não ter podido levar a namorada em casa, na noite de natal.

Em dia que se proclama boas vindas, desejou a qualquer estrela cadente que atravessasse o céu azul, ofuscada pelo sol: o renascer das tradições.  

terça-feira, 5 de janeiro de 2016


(Cleyton Cabral)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Somos todos medrosos e não há mal nenhum nisso

Medo... 

Meu amigo Aurélio o define como uma sensação que proporciona um estado de alerta demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir ameaçado, tanto fisicamente como psicologicamente. Ele é encontrado na mitologia grega como Fobos, personagem que acompanha o Deus Ares nos campos de batalha, injetando nos corações dos inimigos a covardia e o medo que os faziam fugir. Interessante é observar que Fobos era um companheiro, um aliado nas batalhas de Ares, desmistificando o papo de que ter medo é ruim. Para Ares era ótimo! 

Você já parou pra pensar quantas vezes já sentiu medo hoje? Pois bem, pare agora mesmo e pense em todas as decisões que teve que tomar, ou pelo menos em algumas. Provavelmente teve que se levantar, teve que ligar o chuveiro antes de tomar banho, teve que ir pra escola, pro trabalho, pro cursinho, pra academia, pra praia, pra casa da vovó ou qualquer outro lugar. E por que fazemos isso? O que nos move a levantar da cama? O que nos faz querer sair desse conforto que é o sono, tão gostoso e calmo. Para mim nada mais é do que o medo consciente ou inconscientemente. Medo de perder a vida, de deixar passar, medo de não ser alguém no mundo, medo de não saber o que falar, medo de não ter ideias, medo de não produzir, medo de não ser aceito, medo de não ter um namorado(a), medo de ser alienado, medo de não se sentir bem consigo mesmo e por ai vai. Temos medo de ficar desempregados, medo de repetir na escola, medo de não passar numa prova, medo de engordar ou emagrecer, medo de não ter onde dormir, medo de passar fome e até medo de ter medo. 

Isso parece até uma questão de sobrevivência, o ser humano foi acostumado a temer, e por instinto de sobrevivência saímos para caçar, desafiando o mundo lá fora, criando armas, armadilhas, desenvolvendo métodos e técnicas cada vez mais aperfeiçoadas. A religião utiliza o temor a Deus para manter seus fiéis na linha e crentes que terão um paraíso à sua espera se seguirem os mandamentos, caso contrário o destino é um só, o inferno. Algumas vezes o medo nos faz pensar e também não pensar, nos deixa estagnados, mas também nos faz agir. Muitas decisões estão diretamente ligadas ao medo. Quando alguém ou alguma situação nos impõe algo sentimos medo e reagimos acatando ou não a essa ordem. Somos pressionados contra a parede. Imagine um leão correndo atrás de um de nossos ancestrais na era pré-histórica e a única forma de sobreviver era encarar a fera, reagir, brigar, podendo se ferir e talvez com sorte, sobreviver. Assim são as pessoas do dia de hoje também, matam um leão por dia e até mais dependendo do ritmo em que vivem. É o medo de não ser profissional nos fazendo cumprir metas e obrigações no trabalho. O medo de não ser culto ou virar um ignorante nos fazendo consumir livros, músicas e revistas. O medo de não ser atraente e fisicamente capazes nos fazendo ir pra academia, praticar esportes e outras atividades físicas. Temos medo de nos tornarmos futuros fracassados e acabar num banco de uma praça, em uma cidade qualquer lamentando não ter tomado decisões, sonhado mais alto, e/ou também ter sonhado alto de mais. É tanto medo que se você olhar pro mundo lá fora dá mais medo de ficar na cama do que sair dela.

Entretanto, temos consciência pra saber que o medo nada mais é que um desafio à nossa pessoa, e quando ultrapassamos essa barreira conquistamos coisas boas e elas nos tornam seguramente mais felizes ou no mínimo nos confortam. A resposta anterior ao medo é a ansiedade e temos nos tornado muito ansiosos, essa é talvez a característica mais presente nos seres humanos atualmente. Essa ansiedade está diretamente ligada ao seu medo. Faça então como Ares, domine o seu medo, tenha ele como aliado e jogue-o contra as adversidades da vida para vencer suas batalhas. Porém, tenha em mente que até o poderoso Deus grego Ares perdeu algumas batalhas e mesmo assim continuava dando valor aos seus filhos. O medo é seu, e só você pode cuidar dele, como um filho rebelde temos de educá-lo para não deixar que atrapalhe a nossa vida. Tem pessoas que são como Ares, mesmo tendo um caso com Afrodite (Deusa do amor) só encontram a paz em suas lutas e batalhas. Todavia, sempre guardo o trecho da canção o vencedor da banda Los Hermanos: "Olha lá quem acha que perder, é ser menor na vida. Olha lá quem sempre quer vitória. E perde a glória de chorar...". Bom mesmo é aproveitar o caminho, o processo e se livrar da ansiedade de ser o "bonzão". Compre um violão, entre naquele curso, compre aqueles patins, aquela bicicleta, assuma um compromisso, comece a correr pelo menos aqueles 15 minutos por dia, dê sua opinião, faça aquela viagem que sempre quis, troque de cidade, de estado, ou de país! Só não deixe o medo te dominar. Por fim, assumimos que somos todos medrosos e não há mal nenhum nisso, é você que escolhe o que fazer com o medo, uma algema ou uma chave, um inimigo ou um aliado.