quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Sobre o ódio aos nordestinos

Sugestão: ler ouvindo Terral


Fiquei chocada ao ver as reações xenofóbicas contra o povo nordestino após a divulgação dos resultados do primeiro turno das eleições para presidente do Brasil, em que os Estados do Norte e Nordeste tiveram votação maciça na Dilma.

No tumblr essesnordestinos há um compilado de declarações preconceituosas que pessoas publicaram no twitter, facebook, etc. Ganharam destaque casos como de uma auditora fiscal, que será investigada pela ouvidoria do MTE por uma declaração em que dizia que o Nordeste merecia ser atingido por uma bomba atômica, e uma comunidade médica no facebook que prega o holocausto contra os nordestinos.

Essa onda de ódio e preconceito pode ser analisada à partir de três pontos importantes: o primeiro é o desenvolvimento desigual que ocorreu no país desde sua colonização, beneficiando algumas regiões às custas da exploração de outras. Esse processo muitas vezes é ignorado e assume-se como verdade que os pobres são pobres por não se esforçarem e o mito do meritocracia, que favorecem o preconceito de classes. 
O segundo é a preferência pelo governo do PT na Região Nordeste, que está relacionada com a questão acima, uma vez que o governo petista proporcionou um desenvolvimento econômico e social importante em benefício da região nos últimos doze anos. Nada mais compreensível do que optarem pela Dilma.  
E por último, há o preconceito racial, que também está relacionado com o preconceito contra os nordestinos, uma vez que grande parte da população que se declara preta e parda no Brasil é nordestina. Fato que pode ser explicado pelas políticas imigratórias do século XIX, que trouxeram europeus para os estados do Sul e Sudeste.

O que acontece é que a falta de respeito está atingindo um nível tão grande que as pessoas não se intimidam em fazer declarações deste tipo. Pelo contrário, recebem apoio de outras tão preconceituosas quanto elas. Publicações com este teor estão caracterizadas na Lei n.º 7.716/89, que trata do crime de discriminação ou preconceito de procedência nacional. Um exemplo de condenação à este tipo de crime ocorreu em 2012, quando Mayara Petruso foi condenada a 1 ano e 5 meses de prisão (pena que foi revertida à pagamento de multa e prestação de serviços comunitários) por postar mensagens preconceituosas contra nordestinos no Twitter na época das eleições de 2010.

Esse comportamento é inaceitável, pois incentiva o ódio, a intolerância e a violência, e deve ser recriminado e denunciado. É possível fazer uma denúncia formal no site do Ministério Público Federal no endereço: http://cidadao.mpf.mp.br/formularios/formularios/formulario-eletronico 


Eu, como paulista, me sinto envergonhada por essa onda de xenofobia que vem ocorrendo, e, como neta de nordestinos, me sinto no dever de mostrar aqui toda minha indignação contra esse tipo de atitude, que retrata uma sociedade reacionária e competitiva, que encara ideais igualitários como uma afronta aos seus objetivos capitalistas mesquinhos. São os famosos "coxinhas", que não votam na Dilma porque não querem ir ao supermercado e não ter opção de iogurte pra comprar, e os integrantes da "direita pão com ovo", que defendem um sistema em que eles mesmos são injustiçados, imaginando enganosamente que um dia farão parte da elite econômicaLamentável. 


Em tempo: há movimentos nas redes sociais contra o preconceito sofrido pelos nordestinos. Procure pela hashtag #menosÓdiomaisNordeste 

6 comentários:

  1. Isso aí, Carol! Incluiria aí no meio a falta de empatia. Se os preconceituosos daqui forem vítimas da xenofobia europeia vão ficar indignados...

    Lembrei essa música do Gabriel o pensador (das antigas)
    http://letras.mus.br/gabriel-pensador/66182/

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    1. verdade, Ale. Acontece que são pessoas tão egoístas que são incapazes de se colocar no lugar do outro.
      Eu manjo essa música do Gabriel, tudo a ver!
      bjs

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  2. Maravilha! A música é linda e sua oposição às declarações nojentas que você mencionou muito me contempla, por muitos motivos, entre eles, pelo fato de eu só não ter nascido no Ceará, porque meus pais decidiram se embrenhar em São Paulo para virar suco.

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    1. Que bom que gostou, Híndira.
      Eu quero muito conhecer o Ceará de seus pais e o Piauí de meus avós maternos :)

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  3. Felipe Lários (dia 22)13 de outubro de 2014 às 15:36

    Isso é porque tava sem inspiração, hein, Caroleta? Muito boa sua análise da xenofobia alheia! Eita Japa arretada!

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    1. Valeu, Fefe!
      Pois é, a tal inspiração apareceu em cima da hora! rs
      um chêro!

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