sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Porque eu sumi

De vez em quando eu sumo e alguém me pergunta ''por que você sumiu?''.
Não sei o que dizer. Queria ter boas explicações, dizer que estava do outro lado do mundo, no gelo, estudando focas ou talvez em algum país perdido trabalhando de voluntária. Mas meus sumiços não têm motivos nobres nem humanitários, eu sumo porque a cidade na qual moro, São Paulo, me engole e levo tempo para voltar a superfície. Me perco nas beiradas da existência urbana e acabo sumindo, mas estou ali como todo mundo, no panorama onde todos os rostos são iguais.

Meu sumiço é tão comum que todos os dias tenho a mesma rotina e mesmo assim consigo desaparecer nela, como se eu não passasse por essa ponte.

Talvez isso aconteça porque nunca me achei aqui e acabo sumindo no desenho da cidade, como se ela não absorvesse minha vida, parece que não existo neste chão cinza, fico invisível para todos. Dura uns dias, semanas, meses e anos, mas eu volto a aparecer como se nada tivesse acontecido. Em uma cidade maluca e sem tempo posso mandar um ''oi'' sem data, todos os ''oi'' são iguais para quem mora aqui. Desconfio que não sou a única a desaparecer na rotina e sumir no cinza da cidade, a frequência de pessoas que saem do meu radar é tão grande que parece ser uma cidade de ''sumidos''.
Eu sumi, mas já apareci novamente. Só não sei por quanto tempo.

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