domingo, 14 de setembro de 2014

Formação

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Não sou lutadora de judô.

Não sou pintora, nem sei tocar violão.

Não falo inglês fluente, nem francês. Não sou atriz. Nem socióloga, antropóloga ou cientista política.

Não sou ginasta olímpica. Não sou cantora, nem bailarina de lindy hop ou de ballet clássico.

Não toco piano. Não sei jogar capoeira.

De todas as coisas que fiz e que me fizeram. De todos os abandonos, impermanências, desistências.



Não sou casada.

Não tenho filhos.

Não moro sozinha.

De todas as escolhas que fiz e que me fizeram.



Não fiz intercâmbio pra Europa. Não li tantos textos. Não planejei.

De todas as escolhas que não fiz, sonhos que não realizei.

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Sim. 

Esses nãos formam sins.

Sou pouco, quase nada. Sou no que deu.

Sim! Do tipo "tipo medíocre".

Sou o que sou por que também sou o que não sou.

Tudo o que se pode fazer é ser. Sem comparações.  
Completamente diferente e único e por isso mesmo tão igual a todos.

Ser o que se é. O ideal vem sempre de fora. O mapa está dentro.
Olhar pra dentro, mesmo quando está tudo escuro. Não ter medo do escuro.

Felicidade, sucesso, reconhecimento: pra quem? O que é pra você?

Para mim sucesso é poder escrever e enviar esse texto sem ficar me culpando por não ter pensado nele antes, por não ter me dedicado e escrito antes. Aceitas a imperfeição. O ideal não alcançado. A foto não encontrada. Desejar que o próximo seja melhor, mas agora é isso! Viver é aqui e agora. Tem sido isso e eu respeito, mas talvez um dia mude.

Que um dia eu mude? Que um dia eu melhore? 
           Só se for para ser mais parecida comigo mesma.
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8 comentários:

  1. Poxa, Caracolis. Adorei!

    Por diversas vezes ficamos nos medindo pelas réguas alheias e esquecendo de valorizar o que temos, somos e valorizamos!

    Parabéns pela reflexão... eu nunca escrevi algo tão bom!

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  2. Eu tb nunca escrevi algo tão bom! Com diria um amigo meu, or-gu-lho!

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  3. Bela reflexão, parabens!
    Somos o que somos, e o que deixamos de ser também, porque a ausência de algum elemento é tão significativa quanto sua presença.

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    1. Sim, sim! Eu tb acho, mas a gente tem mania de olhar e dar mais valor para o que falta, né? E é difícil reconhecer que até a falta pode ser boa, ou simplesmente que ela tb te constitui. Obrigada!!

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  4. Que medíocre, que nada! Você é tudo e mais um pouco! Amo você!

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  5. Esse texto poderia ter sido escrito por mim, tirando o lance da poesia, que deste dom não foi me dado... Acho que também estou vivendo isso, de dar um passo de cada vez, de me criticar menos, de lembrar de quem eu sou. Que bom que percebemos a tempo!

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