quarta-feira, 30 de julho de 2014

Then love, love will tear us apart, again

Eu tenho um projeto de montar uma mini biblioteca em minha casa somente com livros relacionados a música, e essa semana adquiri 2 lançamentos que vou ter que dividir em 2 posts para falar deles.

O primeiro tem é de importância histórica para a música dos anos 80, e o próximo post tem uma importância maior na minha formação musical, mas sem duvida tem o seu lugar ao sol na historia da música.

Vamos lá

Foi lançado esse mês pela editora Ideal a versão em português do livro IAN CURTIS & JOY DIVISION – TOCANDO A DISTANCIA.


O livro foi escrito pela Deborah Curtis e foi lançado originalmente em 1995 e conta em ricos detalhes a vida intima entre Debora e Ian, foi com base nesse livro que o diretor Anton Corbijn fez o filme Control que foi lançado no ano de 2007, Deborah Curtis também participou no projeto.

O livro conta com varias letras em inglês e traduzidas, algumas inéditas até então ou outras inacabadas, diversas fotos, a lista completa de todos os shows do Joy Division, um prato cheio de nostalgia para você relembrar, e mais uma vez pensar o que seria dessa banda se no dia 18 de Maio de 1980 Ian Curtis não tivesse ido embora em silencio.

Dificilmente existe uma pessoa com mais de 30 anos que não conheça a música Love Will Tear Us Apart, e dificilmente o legado do Joy Division acabará, pois boa música também se passa de pai para filho.


Bjs/Abs

Jeff



terça-feira, 29 de julho de 2014

cara ou coroa?

assistindo o documentário "crise: uma tragédia grega" exibido pela tv cultura em 20.07.2014 notei a importância da escolha.

procurei completo e traduzido como transmitido pela tv cultura mas não encontrei, para quem não assistiu, vale muito a pena:


neste jogo não existe outra opção além da escolha, esqueça a tal da abstenção. 
pois quando escolho não participar ou simplesmente em não escolher fortaleço um dos lados, normalmente o pior.

através da abstenção posso legitimar ainda mais uma nação através do seu líder mesmo que não concorde totalmente com seus métodos e posicionamentos, por exemplo, ao entrar em contato pedindo que tome providências e sem pestanejar puna os culpados por qualquer incidente, de certa forma concedo poder ou praticamente imploro que faça algo; além de  reafirmar uma escolha, ainda que noutro momento tenha optado pela abstenção.


na hipótese mais remota de acontecer, será que ainda existe tempo, espaço, energia no enfrentamento de uma quarta guerra mundial? no caso de sim, existiria sobreviventes? 

não precisa ser um diplomata, estar em reuniões teatrais para notar a escolha de alguns líderes para legitimar ações ou  para compreender a estupenda relevância no cenário mundial  como estado autoritário empenhado na sofisticação do seu exército e armamento, perfeitamente apto para exterminar ou melhor defender-se dos terroristas caso seja contrariado, uma vez que meu lado escolhido me legitima nesta ação.

parece piada ou melhor um filme tosco, daqueles com cena terrível no final, enquanto isso, no mundo real, outras guerras são travadas, doenças fatais como o ebola se espalha assustadoramente não só por um país mas para  três e avança, o aquecimento constante tornando os quase 40 graus uma normalidade para qualquer verão, massacre em massa de seres importantíssimos para nossa existência, por exemplo as abelhas, a falta de água potável e uma série de demandas provocadas por um sistema político destrutivo, escolhemos um lado, o que há de pior.

então sejamos práticos optar por abstenções em momentos de crises ou guerras é o mesmo que escolher um lado e não ter coragem para assumi-lo, independente da escolha cada um será responsável pela sua, seja qual for, inclusive pela infame abstenção. 

terça-feira, 22 de julho de 2014

Três notas sobre o descanso

Entendo que dá uma baita preguiça ler um texto tão grande, portanto, compreenderei se você quiser ler apenas uma das três notas
(Autor Desconhecido)

1. "É muito desperdício passar 1/3 de nossas vidas dormindo. Você vai ter muito tempo para dormir depois que morrer"

Definitivamente não consigo concordar com esta frase. Primeiro, porque ela traz uma informação enganosa, já que apenas alguns poucos privilegiados podem dormir 8 horas por dia. O grosso da população mal consegue chegar nas 6 e, quando muito, consegue tirar uma pestana no busão. Segundo, porque dormir nunca foi e está bem longe de ser um desperdício. Dormir é maravilhoso! É uma atividade vital que faz com as horas acordadas (as supostas únicas horas proveitosas do dia) valham a pena e sejam bem desfrutadas. Tenho a impressão que o ser humano esqueceu que antes de ser um indivíduo pós-moderno, usuário de bens tecnológicos que permitem mil e uma maravilhas, ele é um animal, um ser biológico com as mesmas necessidades vitais dos seres humanos que viveram há 1000 anos, sem internet, sem automóvel, sem celular. Os autores de livros de auto-ajuda econômica que pregam que sempre há um tempinho no dia para fazer um curso novo, aprender uma língua nova ou, de repente, conciliar dois empregos que me desculpem, mas precisamos dormir (e comer, e beber, e fazer cocô) como bons animais (supostamente racionais) que somos. Do contrário, não seremos mais pessoas, mas zumbis, mortos-vivos conhecedores de infinitos saberes, mas incapazes de colocá-los em prática, falantes de diversas línguas, mas incapazes de nos comunicar.

2. "Não existe trabalho ruim. O ruim é ter que trabalhar"

Com esta frase eu me simpatizo bem mais. É sabido que não existe vida em sociedade se não existir trabalho. Algumas pessoas precisam produzir bens e outras prestar serviços para que uma sociedade possa existir. As relações de trabalho e os meios de produção já mudaram bastante ao longo da História, mas sempre houve e, provavelmente, sempre haverá a necessidade de trabalho. Entretanto, penso que trabalhamos demais e, o pior, levamos o trabalho muito a sério. Geralmente eu chego a este tipo de conclusão quando estou de férias, como agora. Quando somos consumidos pela rotina laboral, acabamos nos acostumando com aquela vida e achando que não existe outra, mas existe,  e ela está do lado de fora da repartição (e acredite, por mais que você goste do seu trabalho, ele não passa de um contratempo supostamente necessário que te impede de dedicar mais tempo com que realmente importa. Aposto que estou certo!). Mas precisa ser assim? Há muito que desconfio que não. Já trabalhei em instituições públicas e privadas e em ambas eu permanecia 8 horas em minha oficina laboral mais por um fetiche do meu empregador do que por uma necessidade real de minha força de trabalho. As pesquisas de audiência das redes sociais corroboram minha tese ao mostrar que o período de maior acesso é justamente o chamado "horário comercial" e o de menor audiência, vejam que irônico, são os finais de semana. Ora, as pessoas não podiam trabalhar apenas o suficiente? Em tempos de alta tecnologia não vejo sentido algum em trabalhar a mesma quantidade de horas que trabalhávamos em tempos em que não havia banda larga e outras coisas que supostamente aumentariam o tempo livre e o bem estar da população. 

3. "Eureka..."



O ócio nos torna mais criativos. Sim, em geral as boas ideias precisam de um cérebro relaxado e bem disposto para pousar. Os cérebros e corpos fatigados, em geral, só conseguem pensar e fazer o óbvio, o rotineiro, o que qualquer outro cérebro ou corpo fatigado faz. Não é por acaso que empresas respeitadas do mercado publicitário e de tecnologia têm cada vez mais flexibilizado os horários de trabalho, diminuindo a jornada ou, sempre que possível, permitindo que seus funcionários realizem suas atividades de pernas para o ar, no recôndito de seus lares. As empresas antiquadas e contraproducentes, por outro lado, controlam o tempo de seus funcionários com relógios de ponto, catracas e descontos por atraso. Como se a presença física do sujeito fosse mais importante que sua presença plena, de corpo e alma. Estas empresas não terão vida longa. Isso é um desejo e uma previsão. 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Sobre o emprego, a Copa, a novela e os 99 dias de liberdade!

Salve salve galera deste estimado blog!
Blog das 30 Pessoas!

Tenho vivido dias intensos nesses últimos tempos!

Por medo de assaltos, voltei a ter um emprego somente (por enquanto).

Saí daquele emprego, num depósito de materiais de construção, do qual me alegrei tanto em narrar aqui (ou teria sido no meu blog?) pra vocês!

Continuo firme e forte na rádio!

Mas então...



O Brasil levou uma sacola de sete gols a um na semana passada (acho que vocês já sabem disso, né?), ficamos em quarto lugar na Copa do Mundo. Mas tudo bem!
Quem faturou foi a Alemanha, e não os argentinos!

A bem da verdade, os argentinos e as argentinas com quem tivemos contato no ano passado, no Rio de Janeiro, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, eram pessoas excelentes! Pelo menos se mostraram assim!
Não sei como teriam agido num estádio, no calor das emoções!
Pode até ser que cantariam pra gente o "Decime o que se siete!" Mas de boa.

[edit] Eu não ia colocar esse vídeo aqui, mas revisando o texto, quis guardar de lembrança!
Trata-se do vídeo oficial da FIFA, da abertura das transmissões na TV!
De imediato, não curti não! Aprendi a gostar com o tempo! Tá aí!


Vai ter mais Copa na Rússia, em 2018. Vamos falar do quê interessa?!

Hoje reestréia no Canal Viva, a novela "A Viagem".
Sei que quando meu post for publicado no dia 21, já terão se passado alguns capítulos.
E eu tô escrevendo no presente! Ahahaha! Desculpe!

Mas tudo bem!

Como ia dizendo (e como postei no meu Twitter hoje), sempre fui mais fã de seriados do que de novelas.


Poucas foram as que me chamaram a atenção.
Mas essa daí...

A história bem trabalhada, somada a uma trilha sonora de primeira... O casamento perfeito!
Sem falar dos atores que acho fenomenais!

Vi um trecho no site do canal, e foi engraçado ver o "Caco Antibes" todo sério, num drama de primeira linha!

Pra quem tem tempo livre, ou pra quem dispõe dos maravilhosos recursos de gravação, fica a dica!
Inclusive deixarei aqui um vídeo de uma das músicas que mais gosto nessa novela, que é tema do "Mascarado", uma personagem super misteriosa na trama da Ivani!

Antes de terminar, gostaria de dizer também que estou participando de um experimento na internet, o 99 days of freedom.

Consiste em você não acessar em hipótese alguma o Facebook.
A ideia partiu de uma agência holandesa, a Just, após a divulgação de que a rede social do sr. Zuckerberg manipulou a timeline de 700 mil pessoas, visando perceber se essa atitude iria ou não causar um efeito nos donos das respectivas contas. Viram que sim.

Só que esse estudo foi feito na surdina.

Ninguém foi avisado. E como a maioria não costuma ler as letrinhas antes de clicar no "Eu aceito" ou no "I agree"...

Daí a galera da agência que eu citei resolveu fazer essa experiência com quem quisesse entrar!

A cada 33 dias, eles enviarão um questionário, querendo saber como a pessoa está se sentindo, longe da rede azulzinha! Azul escuro, no caso. A cor principal do Twitter também é azul, mas azul-claro.

Hoje, dia 14 de Julho, dia no qual escrevo o post, estuo no meu dia n° 04. Faltando ainda 95 dias!
Pelos meus cálculos, volto dia 19 de outubro!

Olha a minha contagem regressiva aí!
O intuito não é retaliar o Facebook, nem muito menos encorajar a galera a sair de lá. 
Mas sim ver o quanto viciados somos naquilo, e ver nossas reações se não logarmos lá!

Quando fui dar meu "até logo", postei falando que ia ficar fora um tempo. Mudei a imagem do perfil (um dos requisitos). E assim que cliquei no logoff, a primeira tentação que senti foi em querer saber o quê os meus contatos teriam dito, ou comentado sobre o fato!

Sensação que passou logo depois, quando parti com afinco para o Twitter e para o Instagram, para estar em contato com o "mundo exterior"!

Verdade seja dita: eu já não estava mais feliz com o Facebook mesmo. Sempre ensaiei minha saída de lá.
Mas como hoje em dia TUDO é feito através de lá, como sair?!

Tenho quase 2 mil pessoas como contatos. Gente de minha comunidade, ouvintes da rádio, e uma boa parcela de pessoas que conheci na internet, que tem a ver com perfis parecidos com o meu.

Se você tem Facebook, acho que entende o que quero dizer. 
Umas postagens sem pés nem cabeça, verdadeiros diários digitais.
Não como blogs, mas olha... Bem, creio que você entenda.

Até pensei em criar um perfil novo. Mas daí me dei conta de que muitos serviços que uso na internet estão atrelados ao ~feice~.

Deletar a conta não vou, pois tenho muitas fotos e coisas interessantes guardadas lá.
O post já deve estar gigantesco, mas queria partilhar isso com vocês.

Queria escrever sobre o 99 Days of Freedom mais perto do dia 21, mas como hoje estou sossegado aqui em casa, e inspirado a digitar, resolvi redigir hoje mesmo.

Neste exato momento (14/07/2014 - 13:10), 18.635 pessoas estão no projeto.
Se você quiser conhecer, clique aqui!

E clicando aqui, você fica por dentro da minha contagem regressiva pro meu retorno!

Como diria o gaguinho dos desenhos, p-p-p-por hoje é só, pe-pe-pe-pessoal!

Sei que escrevi bastante! 
Mas tava com saudade de escrever assim!

Um ótimo restinho de mês de julho pra gente! 
Nos falamos dia 21 de agosto!

E como prometido, aqui está um vídeo com a música tema do Mascarado, da novela "A Viagem"!
Abraços!
Flws! Vlws!


domingo, 20 de julho de 2014

Libertas quae sera tamen

Escrevo neste espaço uma vez por mês. Procuro buscar assuntos em evidência para expressar minha modesta opinião tentando, ainda que sem muita relevância, mostrar um ponto de vista que fuja do comum, do que vemos em todos os jornais, do que ouvimos de todos os taxistas.

Esse mês não faltariam opções. Ano de eleição, Israel massacrando a Palestina, morte de João Ubaldo, Brics, a própria Copa ainda está recente e renderia bons comentários. Mas sou forçado a um texto anacrônico. Como se estivéssemos no auge da ditadura, escrevo sobre presos políticos.

Num dos atos de protesto que ocorreu, ou deveria ter ocorrido, durante a Copa a polícia militar prendeu dois manifestantes. Rafael Marques e Fábio Hideki. Não conheço o Rafael, que acusado de ser adepto da tática black bloc, foi preso vestindo kilt e sandálias; por isso me atenho ao Fábio.

Conheci o Hideki quando ele cursava ciências sociais, depois de iniciar engenharia e antes de começar jornalismo. Com ideais semelhantes, militávamos de forma independente, assim como vários outros estudantes, sem vínculos com partidos ou grupos políticos.

Ao ver no jornal as imagens de Hideki algemado, já na delegacia, sob a alegação de portar explosivos, meu primeiro e mais óbvio pensamento: “eu sou muito mais propenso a carregar explosivos que o Hideki”. Por sorte a abordagem policial foi filmada. Se por um lado ainda não foi suficiente para a libertação do estudante, por outro mostra claramente uma prisão arbitrária de alguém que não carregava nada proibido, sequer suspeito, na mochila.

A tática black bloc é controversa. Apoiá-la ou condená-la é direito de cada um, mas prender manifestantes que não são adeptos de tal tática apenas para mostrar serviço àqueles que exigem do governo uma postura repressiva é inaceitável em qualquer estado que tem a mínima pretensão de ser democrático.

Com o objetivo de calar as vozes que vieram das ruas nas manifestações de meados de 2013, o governo de São Paulo vem aplicando sua maior especialidade. Repressões violentas e prisões arbitrárias que inibem reivindicações legítimas.

Depois que as manifestações forçaram a Rede Globo a admitir que apoiou a ditadura militar e com a mesma Rede Globo acusada de sonegar mais de meio bilhão de reais em impostos, torna-se uma aliança de sucesso o caráter repressivo do governo e o foco da imprensa em vidraças quebradas, ao invés de divulgar a pauta de reivindicações dos manifestantes.

Com esse tipo de ação quem leva a pior em longo prazo é a população que segue lidando passivamente com a corrupção, educação falida, saúde precária, etc. E quem leva a pior de imediato são manifestantes como Fabio Hideki, que parece viver uma história de Franz Kafka ao ser preso sendo inocente, assim como K. – protagonista de “O processo”.

Acompanhando o desdobramento da prisão de Hideki é possível notar mais claramente como o pré-julgamento atua de forma indiscriminada. Em uma sociedade tão carente de serviços de qualidade, era de se esperar que aqueles que lutassem por melhoras recebessem ao menos o apoio dos que reclamam em casa, sem ações diretas por mudanças.

É verdade que o caso tem recebido atenção e muitos se manifestam a favor da liberdade imediata do estudante, mas também não faltam opiniões que partem do princípio que se uma pessoa foi presa é porque estava fazendo algo de errado.

Um dos tantos absurdos que identifiquei em meio a toda essa insanidade foi o fato de Hideki ter sido forçado a abandonar sua dieta vegetariana, por não haver essa opção na cadeia. Pode ser que esse seja o menor dos males em questão, mas possibilita o questionamento: para uma sociedade em que muitos apoiam um tratamento desumano e cruel para detentos, uma questão ideológica como a alimentação vegetariana seria encarada na melhor das hipóteses como luxo.

E assim seguimos. Com pessoas fechando os olhos para injustiças contra seus semelhantes e com um governo que, amparado por uma popularidade surreal, mantem seus programas ineficientes e ações repressivas. Saúde, educação, transporte, segurança? Sonhem.


quinta-feira, 17 de julho de 2014

Da sinceridade do sapateiro

Tinha uma sapatilha que eu adorava. Não era lá grandes coisas, mas ia bem com tudo, era bonitinha, confortável. Dia desses calcei e senti que algo cedeu. Um rasguinho na lateral, droga. No outro dia levei no sapateiro da rua. Mostrei a sapatilha, ele balançou a cabeça enquanto eu explicava. “Olha, moça”, começou ele. “Não vai dar”.
Como não daria? Uma sapatilha, um rasgo, algo simples, só colar. “Você não faz esse tipo de serviço?”. O moço me olhou com a expressão de quem ia me dizer uma verdade sofrida. Algo como: vou te falar isso, mas vai doer escutar. “Eu posso até colar, mas ela não vai durar”. Seguiu-se aí a explicação. “A sapatilha é fraca, já está cedendo do outro lado. Se colar aqui vai arrebentar acolá”. E blá blá blá.
Ainda insisti. E ele lançou mão de um argumento convincente. “Não me custa ganhar 10, 15 reais nesse serviço. Mas estou pensando no seu bem. Não vai adiantar um remendo, se depois ela vai ceder de novo. O negócio é desistir, partir para outra”, brincou, semissorriso nos lábios.
Daí em diante eu teria dois caminhos. Dar uma de criança birrenta, mimada e imatura, que, contrariada, bate o pé exigindo que se faça sua vontade. Nessa sapataria ou em outra, dane-se. Ou então, refletir, ponderar e avaliar as coisas sob uma ótica mais madura. Sim, eu gosto da sapatilha. Sim, ela me fez feliz. Sim, nos demos bem por um tempo, mas, oras, não me serve mais. Seja pelas qualidades que lhe faltam, como a resistência do material, seja pelas inevitáveis sequelas do tempo.
Difícil, eu sei. A gente se apega, acredita que aquilo que nos faz feliz tem que continuar nos satisfazendo assim, meio que pra sempre. Isso é sobre uma sapatilha, mas não só. A gente se apega também em amizades, empregos, amores e possíveis amores. Ilude-se e, agarrado nessa ilusão, insiste que tem que ser. Que o não desejo do outro, ou a falta do outro, não é algo a se considerar. A gente passa por cima das verdades apresentadas cruamente (e cruelmente), tapando os ouvidos enquanto grita lá lá lá, como criança do Maternal, querendo fazer valer somente as nossas verdades. Queremos. Punto e basta.
No final, agradeci ao sapateiro. Como teria agradecido qualquer um que me falasse de forma sincera, e até doce, que não dava. Que me apresentasse os fatos assim, por mais que doesse. Que até podia rolar um remendo. Uma costurinha, uma cola de sapateiro tapando os rasgos. Mas que arrebentaria hora ou outra. Isso teria me consumido menos tempo, menos energia. Sim, eu sei. Não devemos depositar no outro essa responsabilidade. Nem todo mundo percebe que não dá e, mesmo percebendo, consegue assumir. E nem precisa assumir. Dói na gente. Machuca também no outro. Parte de nós também o encargo de perceber que não funciona mais. Que rasgou e que o conserto não dá conta. Muito mesmo antes de levar para o sapateiro.
Achei bonita a atitude. “Eu poderia levar uns 10, 15 reais nesse serviço”. Assim como: "eu poderia te levar em banho maria para sempre". Ou: "sei que é o que quero, mas sei que não é o que você parece querer". Assim como: "eu poderia fechar os olhos para o fato de que não te quero mais". Achei singelo, simples.
Não passo a exigir do outro a sinceridade do sapateiro. Nem seria maduro. Mas posso carregar comigo a experiência e a decisão de assumir esse papel. Vez ou outra, quando o outro me fita com olhar pidoncho e voz embargada, mostrando o sapato rasgado na mão, posso sim responder que não, não vou colar. Por mais que doa. Não vou colar porque, oras, não vai colar.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Na dúvida, não

Se existe uma coisa nesse mundo que me deixa “p” da vida é ser manipulada. Vivo sempre com uma pulga atrás da orelha, tentando ouvir os dois (ou mais) lados antes de tomar partido e procuro investigar uma informação antes, para não sair espalhando asneira ou queimando a cara.

Sei que isso é uma neura inocente, já que ser enganado é inevitável e estar certo o tempo todo é impossível. Sobretudo em tempos de internet, quando todo mundo (até eu!) pode ter um site e disseminar suas ideias, elas estando certas ou não. Mas ser enganada é uma coisa que me incomoda muito e eu tento me precaver.

É por isso que eu não consigo entender direito o porquê das redes sociais terem se tornado um prostíbulo tão grande de informação. Todo santo dia eu vejo no mínimo uma publicação equivocada, repleta de fontes inexistentes, fatos infundados e compartilhada por várias pessoas. Às vezes eu até corrijo a informação, correndo o risco de ser taxada como chata, mas não é meu papel ser a justiceira da verdade, então na maioria das vezes me omito.

É claro que é mais fácil acreditar que o Brasil vendeu a copa do que admitir que nosso futebol está ruim. É óbvio que é mais agradável aos olhos ler que o político que a gente não gosta faz sabão de criancinha. Mas me diga você, quantas vezes no seu cotidiano a verdade age a seu favor? Quase nunca, não é? É só subir na balança para se dar conta disso. É que a verdade não foi feita para agradar. Ela também dói.

Vamos verificar mais as fontes. Dar uma pesquisada por aí se quem noticia não tem segundas intenções. A gente, sem querer acaba formando opinião de quem nos rodeia, então precisamos dar exemplo. Não sejamos iguais aos nazistas que começaram com essa história de que uma mentira contada mil vezes se torna verdade. Vamos exigir fatos, não nos contentar com balelas agradáveis. 

Na dúvida, não compartilhe.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O Amarildo Não Está Aqui



"Cadê o Amarildo?"
"Onde está o Amarildo?"

Pai, pedreiro, marido, filho, irmão, carioca, brasileiro e vítima do Estado.

Vítima da tortura do Estado e dos seus agentes. Vítima da política da polícia e de uma polícia pacificadora.

Hoje faz um ano que ele "sumiu", "desapareceu" depois de ser levado por policiais até a UPP da Rocinha.

Como ele tantos "sumiram" e não foi no meio de uma ditadura, foi em um Estado de Direito.

Alguns policiais foram presos, mas o sumiço permanece. Onde está o corpo? Onde está Amarildo?

Ficou famoso esse nome: Amarildo. Essa foto estampou diversos jornais. O homem mesmo, fama não teria, se não houvesse tanta perversidade.  

Tantos outros desaparecem todos os dias e em silêncio. Tantos torturados sem estatísticas.

Pobres, negros, jovens....envolvidos com o tráfico? Nada justifica.

Envolvidos com o tráficos todos. Os que moram em cima ou embaixo do morro, os que vendem, os que compram, os que fogem, os que "pacificam" e os que são exterminados.

Esse texto não tem poesia, não tem base tórica, não tem filosofia....Só queria falar o nome dele: Amarildo.

"Cadê o Amarildo?"
"Onde está o Amarildo?"

Que essas perguntas não morram nunca.

Essas perguntas com tantas respostas e sem nenhuma oficial.

Amarildo estampado em camisetas, pichado em postes, na wikipédia, nos 5 minutos de televisão....incomodando, perturbando essa falsa pacificação.

Amarildo: esse nome, essa história, essa revolta, essa dor...

http://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Amarildo

http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/cade-o-amarildo-desaparecimento-de-ajudante-de-pedreiro-completa-1-ano-com-25-pms-no-banco-dos-reus-14072014

http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Amarildo-que-nao-se-chama-Francisco/28819

http://www.vermelho.org.br/noticia/240193-10

sábado, 12 de julho de 2014

Reflexo

O que mais tenho lido na imprensa internacional é que o desempenho da seleção brasileira na Copa do mundo reflete o que acontece no país. Até entendo a parte de dizer que a CBF é um centro de corrupção e isso acontece no país inteiro, todas as esferas são governadas por duas, três, quatro pessoas que desviam tudo em interesses próprio.

Mas no resto não concordo e nem gosto ler isso na imprensa internacional, acho muito fácil falar de longe e sem sentir na pele o que todos os brasileiros sentem. E o Brasil ainda é um país neutro, rara vez se mete na vida alheia nem fica dando palpites, então ser analisado com essa dureza sempre dói.

E dizem que os jogadores são o reflexo do país, gente talentosa, mas sem direção, desestruturada e perdida, cometendo erros primários, mas nisso não posso concordar. A seleção brasileira de futebol não me representa, eu não ganho os milhões que eles ganham. São muito bem pagos e tenho certeza que não representam a grande maioria dos brasileiros, pessoas que vivem com salários baixos em um país que não tem nem acesso a bons serviços públicos. Se os jogadores erram ou acertam não mudam a vida de ninguém e suas contas bancárias continuam recheadas, tudo isso com menos de trinta anos. Não farão parte do calvário que muitos brasileiros sofrem para se aposentar dignamente.

Futebol não me representa porque não faço nada ligado a isso e também não conheço ninguém. Não sou como os jogadores da seleção, quisera eu ter ficado milionária com menos de quarenta anos, depois fazer uns jogos medíocres, me desculpar e sumir no mundo, isso me parece muito fácil.

É uma pena que a imprensa internacional seja tão míope a ponto de acreditar que somos a ‘’pátria de chuteiras’’, desde essa época não saímos do lugar, mas futebol não é a única coisa que existe. Pena que seja a única que mostramos a mundo e quando até isso é fraco a impressão que fica para o mundo é essa,  que até no futebol somos uns coitados, mas não somos, o Brasil é um grande país, apesar da miopia de todos, inclusive a nossa.


terça-feira, 8 de julho de 2014

Pirulito que Bate-Bate

  Quando eu era bem pequena, meu pai trabalhava em uma escola.
As vezes ele trazia pão de mel que sobrava da merenda. E as vezes, ele trazia uns disquinhos emprestados.

  Eram aqueles disquinhos coloridos, com histórias ou múisicas infantis. Eu passava horas ouvindo, até decorava com direitos aos riscos e pulos.

  Ontem eu estava lembrando do politicamente incorreto dessa época, e de como era divertido. As histórias ensinavam que você podia se dar mal mesmo fazendo tudo certo e vice-versa, o mocinho ou a mocinha as vezes morriam, crianças e bichinhos também. Tinha de tudo:  fantasmas, monstros, demônios. Muito mais próximo da realidade.

  Entre os discos tinha um mais antigo, que de um lado tinha apenas "Pirulito que bate-bate". Você deve conhecer a primeira parte da música, mas na íntegra ela era assim:

Pirulito que bate-bate
Pirulito que já bateu
Quem gosta de mim é ela
Quem gosta dela sou eu

Joguei a pedra na fonte
Fui ver o que é que deu
A menina que eu amava
Coitadinha já morreu


E então eu ria, imaginando o pobre infeliz que taca uma pedra enorme na fonte e acabava justamente acertando e matando sua amada.

 Pobrezinhas das próximas gerações, vivendo em plena censura infantil.

imagem: basilio.fundaj.gov.br

sábado, 5 de julho de 2014

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Quem diria que Alejandro Sanz me acompanharia em um copo.


Pensa rápido: se fosse teu momento dor-de-cotovelo AGORA, o que você estaria ouvindo?

Então, esse é o meu momento dor-de-cotovelo. Na verdade, esse momento, em que você está lendo, pode ser o momento em que eu estou rachando de rir pensando em apagar essa birosca. Mas nesse momento, que eu estou escrevendo, uma bela quadratura entre Sol e Saturno nas casas 5-8 está me fazendo escrever coisas que pedem que o meu cotovelo supure.

Que bom. Estou escrevendo. Depois de meses sem a menor inspiração, estou escrevendo, não importa o tema.
Pois bem, povo de Deus. Escrevendo e ouvindo Alejandro Sanz, que na minha adolescência foi um boom musical e novelístico e o latinão da vez no sonho das minina tudo
Eu acho que latinos são tipo, o tempero da macharada. Você vai ter uns meninos com cara de homem, uns homens com cara de menino, uns adocicados, uns ácidos, uns que parece que a vida não ensinou nada, uns que parecem ter nascido sabendo tudo.
E os latinos.
Antes que alguém com muito espírito (suíno, a propósito) associe essa postagem ao cantor de funk homônimo (de quem fui fã durante um tempo #mejulguem), eu tô falando de um tipo de homem. E quando falo homem, tô falando de natureza sexual não. Tô falando de genótipo. Latino nasce latino, acorda para a vida latino, independente de com quem se deita e dorme. 
E tá sendo o Alejandro meu companheiro de fossa e abstinência. Não sei por que cargas d'água quando um cara resolve por ordem na vida para de fumar e termina um namoro, tudo junto. Tá pedindo pra morrer? PEDE PARA SAIR, 02!


Parar de fumar é um plano antigo. Experimenta, a sério, sair sem fósforos ou isqueiro e com um maço de cigarros. Dificilmente você voltará com o maço sequer mexido. Não sei exatamente por que, mas as pessoas estão realmente parando de fumar. Cada vez menos pessoas fuma, e cada vez mais é desaconselhável pedir um isqueiro na madrugada. Não vou fazer apologia para ninguém parar, porque a sério eu não pararia. Mas vou porque tenho planos para mim que não incluem o sedentarismo. Só sedentário consegue manter esse vício. Uma aula de arte marcial depois... Esquece.
Agora, terminar relacionamento não tava nos meus planos não. Acho que, terminar nunca está, a menos que já tenha terminado e a gente esteja só empurrando a bola de bosta morro acima a la escaravelho. Vai que no Sol choca alguma coisa né?
E daí, tendo terminado - não só isso, mas também isso - eu precisava de um companheiro pra desabafar. Algo que, sinceramente, não é meu forte, nem gosto. E, embora tenha bons amigos, só mulheres me cercaram nessa hora. Com o perdão, meninas, que tem todo o meu amor: na hora que o sapato aperta e a pedra se chama relacionamento, só um cara entende outro cara.

Valeu, Alejandro. Você entendeu. TUDO.


terça-feira, 1 de julho de 2014

de volta ao circo

pisei num circo pela primeira vez na pré-escola, mas lembro até hoje. a lona era verde escura, o terreno era de barro e pedra e as lâmpadas de bolinhas vermelhas piscavam em volta da palavra bilheteria. o palhaço começou a palhaçada e eu não ri. os contorcionistas de borracha me fascinaram, principalmente quando o homem dobrou a mulher e a colocou dentro de uma mala de viagem. fiquei com dó do anão, que apanhava do palhaço sem graça. quis montar no elefante e fiquei imaginando como os poodles cor-de-rosa faziam tudo sincronizado, desde andar sob duas patas até atravessarem os bambolês. mas as luzes se apagaram e quando acenderam de volta tinham botado uma enorme rede, que alcançava boa parte do circo. era a vez dos trapezistas. primeiro um, depois o outro, depois os dois. que coisa mais maravilhosa. eu não devo ter chorado, mas agora, me imaginando por lá, vejo minha cara de babaca boquiaberto com aqueles movimentos. na saída, eu e mais um bando de criança ficamos tentando ver os artistas, os bichos, o homem e a mulher de borracha, os trapezistas. 

daí pra frente não lembro mais de nada, mas demorou 15 anos pra eu voltar ao circo, desta vez como aluno, há 10 anos. entrei de gaiato num curso profissionalizante, mas na verdade eu só queria entender o que havia por trás do circo. conhecia várias histórias (todas por conta de filmes ou livros) em que o circo passava e levava com ele algumas crianças e pensava por que não me levaram junto quando eu fui pela primeira vez. nas aulas conheci trapezistas, palhaços, mágicos, mas não era a mesma coisa. todos, como eu, tinham seus trabalhos durante o dia e estava ali pra fazer exercícios físicos, para aliviar o estresse, para dar aula nas academias (se não me engano foi nessa época o boom das aulas de circo em academias de musculação) pra sei lá o quê, mas não pela magia do circo. tudo bem que eu também não estava, mas me frustrei um pouco. 

na hora de escolher uma categoria, escolhi o tecido, que era lindo de ver, mas logo desisti por conta instrutor peruano tarado chato e inconveniente, que tirava casquinha de todos na hora do aquecimento e do alongamento. ele adorava fazer massagem e alongar a turma, até o dia que foi denunciado por uma aluna e nunca mais o vi. tentei o trapézio, que também desisti porque ficava horas lá em cima e nunca que me jogava. malabares era mais fácil e se nada mais desse certo, eu pensava, podia fazer no farol e ganhar uns trocos. logo tudo foi ficando complicado e parei. minha vida deu aqueles saltos mortais que acontecem de vez em quando e esqueci do circo, até que descobri uma escola perto de casa, ha um mês. passei em frente um dia, visitei no outro, fiz uma aula teste no outro e lá estou desde então. no teste, a instrutora ficou pasma com minha subida no tecido. fazia 10 anos que não subia e subi feito um macaquinho, segundo ela. daí já fiz o casulo, o cristo, o anjo e estou me preparando pra fazer a secretária. entre nomes de posições estranhas, travas e alongamentos doloridos, penso que nunca devia ter deixado as aulas. não quero me apresentar nunca, mas aquele ambiente tem sido dos mais agradáveis possíveis. 

para além da técnica, do jeito e da força, o que me atrai desta vez são as questões que eu chamo de psicológicas. eu gosto de superar limites, de enfrentar a altura, de estar preso por um pedaço de pano e de me soltar. ficar preso a 4 metros de altura somente pelo pé e ouvir lá debaixo a instrutora dizer "se solta, lucas, você não vai cair!" é um exercício de confiança que preciso aprimorar, assim como me jogar no trapézio do qual desisti. talvez eu desista logo, talvez eu continue ou mude de modalidade, mas o que importa agora é o prazer de me sentir bem num lugar de esforço, treino físico e psíquico, concentração e de alegria.