quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A filha ingrata

Apesar de ter nascido em São Paulo não consigo morrer de amores pela cidade, me sinto como aquela filha ingrata que rejeita a mãe.

E quando os dias são quentes, como estes que passo agora, então viro aquela filha de novela mexicana, com sangue nos olhos, louca para ir embora.
 No frio até disfarço minhas emoções turvas, mas no calor me pergunto, existe alguma qualidade de vida aqui? Não tem água por perto, nem bons parques e as ruas cheiram mal.

E sempre tem algum paulista para me dizer - Mas você sempre pode ir para a praia, fica perto!

O que? Ferver oito horas em um carro e chegar em uma praia suja e lotada, sem nenhuma infraestrutura?

Existem cidades no mundo que não precisam de justificativa nem razões, estar ali faz bem a alma, mas para morar em São Paulo a pessoa precisa ter essa lista preenchida, porque nada justifica morar em uma cidade tão cheia, suja e sem qualidade de vida.

Fui fazer minha lista e fiquei chocada. São Paulo é um ponto de referência para quem quer estudar, eu já passei dessa fase, para quem trabalha em grandes empresas também é importante estar aqui, não é meu caso, meus amigos já voaram daqui há tempos e não tenho um amor nesta selva de concreto, conclui então que estou perdendo meu tempo e gastando minha pele em uma cidade que não precisa de mim nem eu dela.

Um amigo tentou argumentar, aqui é uma cidade de eventos culturais importante, o centro do país e com enormes livrarias.

Mas eu não frequento eventos culturais porque é outra coisa na cidade que me tira  do sério, lugares cheios e muita confusão. Quanto as livrarias hoje existem as compras online, posso comprar até lantejoula da vinte e cinco de março na página virtual das lojas.
A única coisa que eu poderia considerar seria a gastronomia, mas como vivo de dieta não posso nem desfrutar disso.

Paulistas amam São Paulo, gostam de andar de bicicleta respirando o ar poluído pelos carros, adoram ficar três horas na fila de um evento, levar oito horas para chegar a praia, frequentar parques que não tem nem banheiro e pagar caro por tudo isso.

Sou oficialmente a filha ingrata, não gosto daqui. E começo a desconfiar que minha personalidade vem de ter nascido aqui, já cheguei reclamando, deve ser isso. Freud poderia explicar, mas é apenas mais um caso de uma mãe e de uma filha que não morrem de amores uma pela outra.

2 comentários:

  1. Iara,toda pessoa que tem liberdade deve repensar suas decisões. Sou Paulistana e pagaria para não morar nessa cidade,o Brasil é imenso cheio de cidades lindas.Cresci em São Paulo e minha familia se mudou para o interior de Goias,na epoca achei horrivel,na minha cabeça cidade grande representava sucesso e oportunidades,pode até ser para alguns,mas hoje com mais de 30 vejo que qualidade de vida não tem preço,o tempo que se economiza,o ambiente que se traduz em saúde e bem estar. Entendo que é uma questão de gusto e muito pessoal,mas muitas pessoas se enganam e dizem "amo São Paulo porque São Paulo tem tudo",tem mas o preço para se usar é muito alto. Hoje por motivo de trabalho moro no exterior,uma cidade grande mas tranquila ,não pego filas nem engarrafamentos,sem calor o que pra mim é ótimo,mas quando eu tiver mais idade gostaria muito de morar em uma cidade charmosa do interior do Brasil,com menos de 50 mil habitants,até lá acredito que o Brasil estara um pouquinho melhor em infraestrutura. Hoje o que eu imagino para a minha aposentadoria é saúde,minha familia,uma bela vista da minha janela e uma ótima internet,é o que eu preciso dia-a-dia.
    Bjs

    Anna

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