quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Borandá

Após quase três anos sem ir, voltarei a meu país de origem, Cuba – de visita somente. Nestes seis anos vivendo neste país, numa outra língua, numa outra realidade e cultura, estive lá ao todo menos de dois meses... pouco, pouquíssimo é pouco.

Nunca até eu sair de lá me imaginei morando num outro país. Vontade de conhecer outros lugares, obvio, sempre tive. Porém aceitar este estado  (migratório)  de emigrante, nunca me passou pela cabeça.

Emigrante é coisa de doidos. Você – eu no caso – tem que abrir mão de toda memoria, de todo passado, dos amigos, da família, dos costumes. Esquecer, não por opção, aquilo que formatou seu corpo e sua identidade – coisa dura, quase cruel. Somando, que no caso do português, aprender outra língua e toda a realidade que ela nomeia é das coisas mais intensas que jamais viverei – e eu vivi.

Nesse processo eu me descobri uma pessoa nova, uma espécie de metamorfoses que fez nascer um novo eu, este eu que sou – e escreve. Isto tomou tempo, lágrimas, pesadelos, mortes.

Eu nasci cubano, por procedência. E me fiz brasileiro, por experiência.

Mas quem já abriu mão das lembranças de infância, da adolescência, dos primeiros amores; quem esqueceu o acento cubano, a melodia que uma vez teve enraizada na memória, quem não sofre mais pela distância daqueles que uma vez foram as pessoas mais queridas, sabe e sente, que é possível começar tudo de novo... NÓMADE.

No Brasil – e este português que escrevo e me invento – tenho um filho. Estaca de tempo e espaço que marcará para sempre minha origem. Renasci no corpo de um moleque, um baixinho de hoje três anos que fala português, um pouco melhor que eu – pais aprendem sempre dos filhos, completam-se, isso é certeza. Hoje toda incerteza de aonde vim e aonde vou tem ao menos um ponto de apoio, uma bandeira em haste levantada para não perder os rumos.

Em menos de dois meses ficarei naquele país flutuante por três meses, quebrando meu recorde histórico de estadia desde que uma vez, há 6 anos, sai de lá. Irei nessa calma de quem não tem pressa em voltar. Irei no ganho de quem não tem o que perder, entregue a preguiça do amanhecer, do mar batendo no encoste sem urgência do pôr-do-sol, sem a agonia de voltar ao lugar do qual já me despedi sem sabê-lo, para nunca mais voltar – quem sabe uma surpresa do destino, esse malvado favorito. 

E o baixinho, mi hijo, abraçará a terra úmida daquele outro país. Ainda sem total consciência, ele fechará um ciclo, o do pai- filho/pai- meu filho, numa sequência sem mais lógica que a do amor paternal, e ficará registrada a existência dele num lugar ao qual, se ele escolher, lhe pertencerá.

Borandá... 



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