quinta-feira, 30 de maio de 2013

Saiu do Forno Agora!

Sou uma daquelas pessoa que acham que a melhor música é aquela que eu ainda não foi descoberta, e por isso não me canso de pesquisar, e acho uma terapia e tanto passar horas fazendo pesquisas, deixo aqui alguns lançamentos desse mês que vale a pena dar uma escutada, abraço.

Tricky – False Idols

Adrian Nicholas M. Thaws, mais conhecido com Tricky ator, produtor, e músico claro, só foi um dos cabeças do Massive Attack, pegou a Bjork mas isso não conta, o que vale é que nesse mês ele soltou mais uma perola.





The National - Trouble Will Find Me

Para você que gosta de Arcade Fire e Interpol só que gostaria de acrescentar um pouco mais de melancolia, está ai mais um álbum do National como sempre muito bom, muito foda essa capa.




Deerhunter – Monomania

O Bradford Cox é duvida um dos gênios da música que infelizmente poucas pessoas conhecem, deve fazer parte de uns 200 projetos , tem o Deerhunter que é sua banda,  tem o Atlas Sound que é a sua banda de um homem só, toca bateria no Wet Dreams, fez trilha sonora com para filme com a Karen O do YYY, ajudou na produção e tocou no Black Lips e por ai vai.




Daft Punk - Random Access Memories

Ai o Daft Punk decide fazer um tributo a década de 70 gravando um disco, onde ao invés de sintetizadores ele escala uma trupe para fazer o disco na marra mesmo, cada um com o seu instrumento, não contente em escalar Panda Bear, Julian Casablancas, Todd Edwards, DJ Falcon, Chilly Gonzales, Giorgio Moroder, Paul Williams, Pharrell Williams ele chama ninguém menos que Nile Rodgers que só foi o fundador do Chic e produziu e tocou com Diana Ross , David Bowie , Duran Duran, etc.

No que deu isso? Toma




Abraço

Jeff

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Espera aí

tentei organizar o dia e por mais que a pressa tenha sido premissa, consegui realizar o todo previsto não consegui organizar ideia, pensamento prá cá. embora, com matérias e vídeos selecionados, na ponta da agulha. então resta a cara de pau bem deslavada de vir agora e escrever algo. pois é, vergonha nenhuma, sem emprego, mas não sem ocupação. acordei cedo, li, corri para perdizes, para entrevista e prova que me serviram de aviso, alerta, quanto mais leio e menos escrevo percebo o nada que eu sei. enfrentado, sem calma, com suor e muito nervoso. do lanche que virou almoço e pressa para o pagamento da conta. de lá para cá encontro com supermercado, cozinha, comida, panelas e falta comer. banho rápido, de miau, sabe como é no frio não dá prá ser demorado. uma pausa e arrumar mala para o encontro de estudantes em bernô cite (são bernardo do campo) para quatro dias de encontro. palestra com luiza erundina e debate com circulo palmarino discorrendo com excelência sobre o racismo, atenção, pés livres, mãos dadas e olhos bem abertos. jantar, almoço e musiquinhas para acordar do tipo café, café, café risadas e gargalhadas bastante gente prá conhecer e trocar ideia, vida, momentos. noite cultural com ba kimbuta, sarau do binho e a minha velharice de sempre , após vê-los, pois nunca bebo, faço nada além de ir dormir cedo, vê se pode isso. é a idade e quando vê acabô. chegou domingo à noite, horário de brasília, daí venho aqui escrever sobre o que os dedos e mente permitirem. se não aparecer, noutro mês é nois que tá.
enquanto isso, escuto a musa para embalar meu sonho. a preparação para o encontro mais especial da vida.  daqui cinco anos, parto normal, humanizado, é nois, espero pacientemente ansiosa por nosso encontro, zion.

terça-feira, 28 de maio de 2013

O amor não emite nota fiscal

 
Gosto da pessoa e não do que ela carrega na carteira.
 Sinto tesão por qualquer tipo de homem, independente de sua classe social.  Não sou, e fico feliz por não ser, mulher. Dizem as más línguas que elas não gostam de homens, elas gostam de grana, gostam de ser bancadas. Apesar de eu não ser do tipo, acho que não são todas que estão no mesmo pacote e encarregadas a cumprir a mesma sina.

O maior mal das pessoas é rotularem as muitas coisas do seu cotidiano de sua maneira.

Há as que têm interesse somente no capital do homem versus as que têm interesse na troca de amor, de afeto entre ambos no decorrer da vida, sendo um amando o outro verdadeiramente até que a morte os separe.

Então, o erro do conjunto é rotular as coisas. Rotulam sem dó: políticos (em parte, eles fazem por onde), homossexuais (somos todos iguais, independente do que fazemos num quarto escuro com outro ser), moradores de comunidade carente (nem todos traficam e há muitos pais de família pelo menos no comando de sua humilde residência) e tantos outros seres pluricelulares que habitam este planeta.

Somos pessoas e não pastas num grande arquivo que de tão grande é necessário a etiqueta, o adesivo e a rotulação para facilitar a busca.

Em questão de amor, tudo que faço com o outro é de acordo com a minha livre e espontânea vontade. Se na hora tiver pretensão e o desejo for simultâneo entre ambos, faço ali mesmo sem pensar mais de duas vezes para dar start ao ‘serviço’. Não estou querendo dizer que cobro, afinal nem todos que eu conheço possuem no bolso grana e muito menos uma carteira para guardar, se os tivessem, seus documentos pessoais. É, isso mesmo: faço com indigentes. Pessoas sem condição de suprir suas próprias necessidades, mendigos limpos (20% dos casos) que se banham no tanque da mesma praça que em dias de semana flanelinhas lavam os carros de seus fregueses (acho lindo isso: ‘fregueses’ porque pagam o serviço deles) e nos fins de semana moradores de rua colocam a primeiro plano, no mesmo tanque, sua higiene pessoal. Faço mesmo e não estou querendo confundir aqui amor carnal com o amor ágape trabalhado no best-seller de Rossi.

Nada tem a oferecer um cão a uma cadela, mas eles se amam e se sentem quando ela está no cio (experiência do meu olhar, pela cambada de cachorros que tem a minha avó).

O amor natural não é vendido em potes de supermercados, por isso que não gera cupom fiscal, e nem trabalhado em terapias de grupo; começa na gente, quando desejamos que comece, afinal analisar um problema até nós podemos fazer isso e é muito diferente de curá-lo. Sejamos nós próprios o ministrante da oficina de amor natural, tendo como carga horária de curso toda a nossa vida. Acredite: o diploma que a gente leva é uma morada no céu (mentira): ame, ame sem pensar na troca por algo.

O amor, assim como uma pessoa, se estica todos os dias, sabendo ele, antes de acontecer tal crescimento onde parar, para com sucesso sempre conseguir passar pela porta da casa dele ou dela, sem ultrapassar o teto. A questão aqui não é anatomia, mas o amor deve, sendo-o grande ou ainda em fase de crescimento, presença absoluta em qualquer relação.

O verdadeiro amor é aquele onde a dose de tão perfeita que é que o mais necessitado se cura de todos os seus males. O amor é o brinde simultâneo da festa vida. O amor, havendo muito ou pouco na despensa, é o amor. Somos todos iguais nesse cabaré e, lembre-se, somos o que somos e não o que temos na carteira, na bolsa ou no corpo. E mais não digo, somente ame, ame e ame.
JOÃO GOMES

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Comentário de notícia

Notícia trágica tem todo dia no jornal: aos montes. O mundo é uma sucessão de tragédias: naturais, acidentais e intencionais. As tragédias desse último tipo são geralmente as que mais nos chocam. Algumas ganham destaque na imprensa dependendo das circunstâncias. Os holofotes se dirigem para as mais tristes, graves e perigosas tragédias. Uma tragédia pode ficar "famosa" devido ao grau de crueldade empregado ou da classe social dos envolvidos. 

A tragédia da vez é sobre o homem enfurecido que matou os vizinhos e depois se matou.  Li a manchete, cliquei, li a notícia. Cenário: um condomínio de luxo. Motivo: barulho. A arma usada: revólver. Resultado: uma criança de um ano órfã de mãe e pai. Poderia parar  por aí. Os elementos já são suficientes para a mais completa tragédia. O problema é que não consigo me livrar desse masoquismo intelectual de ler os comentários dos leitores. E isso pode ser mais ainda mais funesto. No caso da tragédia em questão a opinião geral é: "não culpo o assassino, culpo as vítimas que...". Acho incrível como as pessoas atribuem às vítimas as mais terríveis qualidades sem saber absolutamente nada sobre elas, além de proliferarem preconceitos e intolerâncias de todo tipo.

Cada tragédia nos toca de uma forma. Essa me tocou especialmente, não só por ser moradora de condomínio, mas pelos diversos problemas que levanta. Todo mundo que mora em condomínio certamente tem, em alguma medida, dificuldades de convivência. Essa coisa de morar empoleirado não é mesmo fácil: cada um tem um senso estético, ético e político. Os limites entre o barulho, o ruído e o silêncio não são universais. Se para você barulho é ouvir heavy metal no último volume, para o seu vizinho pode ser uma moeda que cai no chão. Encontrar o "bom senso" é complicado e contar com a tolerância alheia mais ainda. 

Essa tragédia me fez pensar que já passou do momento de questionarmos nosso modelo de vida "em condomínio": investimos, cada vez mais, na segurança para evitar que "estranhos" não invadam o nosso espaço, mas os nossos próprios vizinhos são estranhos para nós. Não temos nenhum contato com os que habitam ao lado, acima e embaixo de nós. Não há nada entre nós e eles, a não ser paredes. E paredes cada vez mais finas, sem nenhuma isolação acústica, graças às construtoras gananciosas.

Além disso, a tragédia aconteceu - não ignoremos! - porque alguém tinha uma arma, e esta não foi a primeira vez. Essa tragédia, pensando bem, é bem batida - embora o cenário quase nunca seja um condomínio de luxo. Nesse caso, era um homem rico que tinha porte de arma porque precisava se proteger. Pois bem, foi justamente o cidadão de bem que resolveu invadir a casa do vizinho e acabar com a briga pelo barulho em troca de um silêncio eterno. Quando tragédias como essa chocam a sociedade, surgem as mais diversas medidas ditas preventivas. Fico imaginando as medidas que vão tomar nos condomínios: testes psicológicos dos condôminos? Mais monitoramento? 

As pessoas argumentam que tudo aconteceu por causa de um momento de loucura do homem, eu prefiro achar que tudo aconteceu por burrice da sociedade mesmo. O desarmamento evitarias inúmeras tragédias desse tipo e um pouco de simpatia no condomínio talvez trouxesse mais tolerância a toda vizinhança. Dar "bom dia" no elevador seria um bom começo para evitar a próxima tragédia.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Por que eu acredito em Deus?

Eu tinha tudo para ser beata. Tenho primas freiras, meu pai é católico fervoroso, estudei em escola católica a vida toda. Era amiga das freiras. Jantava com elas quando minha mãe esquecia de nos buscar na escola.
Ajudava o padre na missa aos domingos. Adorava isso. 
Nunca me ocorreu a hipótese que talvez Deus não existisse.
Até que um dia cresci: fui fazer faculdade e trabalhar. 
Meu pai não conseguiu mais me obrigar a ir à missa. Fui me afastando da religião, praticamente a abandonei. 
Vejam que não foi uma revolta. Não foi perda de fé. Pra ser honesta, foi apatia. Falta de necessidade mesmo. Minha vida era boa. Eu estava bem, estava saudável. Não precisava pedir muita coisa a Deus e achava que enquanto eu não estivesse fazendo mal para ninguém, Deus também não me pediria grande coisa. Tínhamos um acordo, pelo menos na minha cabeça. Quando as coisas ficavam complicadas procurava um terapeuta. E a vida seguiu.
Com o passar do tempo desenvolvi um sentimento critico com relação a religião. As pessoas pareciam histéricas em sua devoção e isso me assustava. As denúncias contra padres e pastores só ajudaram a piorar as coisas. 
Acho que Deus se cansou do nosso trato. 
- Não fizemos trato nenhum. - O imagino dizendo. 
Mandou o recado por uma amiga: 
- Vamos num centro espírita? 
Já tinha ido há um tempo atrás, mas não voltei. É absurdamente perto de casa, num horário ótimo. (Quem tem tempo pra Deus hoje em dia?). Topei. 
Na mesma semana me senti mais confiante, segura e tranquila. Duas semanas depois, aquilo que esperava há seis anos aconteceu.
Não acho que Deus me deu porque eu O procurei. Acho que Ele me deixou mais forte para procurar e aceitar coisas boas.
Não quero nunca deixar de ir. Revogo meu trato com Ele e peço desculpas pelo tempo que O abandonei.
Não existe só duas opções: crente doida e ateu. Vou encontrar um lugar confortável nesse meio termo e ser feliz nele.
E você pode não acreditar que foi o centro que fez isso comigo. Eu prefiro acreditar que foi, e explico o porquê com a seguinte história:
"Um dia, o irmão de um médico ateu morreu.
Ele me disse:
- Te invejo. Quando você perde alguém que ama, pode xingar Deus. Pode gritar. Pode culpá-lo. Pode exigir saber o motivo, mas eu não acredito em Deus. Sou um médico! E não pude salvar meu irmão. Quem eu vou culpar se não existe Deus? Só posso culpar a mim mesmo." 
Uma autocondenação é muito pior do que uma oração não atendida.
Acho mais reconfortante pensar que Deus ouviu e negou do que achar que não existe ninguém lá. Acho reconfortante acreditar que existe alguém olhando por você. Você só precisa ser bom. O resto vem. :-)

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A volta do cão arrependido

O verso é repetido 44 vezes
(DO OITO, Chaves)



A que senta mais próximo é a mais caricata. Chega todo dia com a mesma sacola e o mesmo jeito de andar. Todos os dias volta do almoço com religiosos 5 minutos de atraso, sem olhar para os lados e reclamando do trânsito e do ônibus que a fizera atrasar. Quando prefere não comer fora, por conta do suposto salitre que existem em todos os restaurantes da redondeza, leva a sua marmita para comer, fria mesmo, “no grama”, maneira como chama os muitos gramados que existem ao redor da repartição. Por volta das 4 da tarde abandona o barco (“já trabalhei de mais por hoje... essa hora eu tenho muito sono”) e bate um cochilo. Na mesa mesmo, sem medo de ser feliz. Quando desperta (nossas enfadonhas conversas de escriturários fazem muito barulho), começa a ler as últimas notícias, geralmente tragédias ou babados sobre a vida privada de pessoas famosas (se for uma tragédia envolvendo a vida privada de uma pessoa famosa, melhor ainda. É dia ganho!). Mas não basta ler meia dúzia de notícias - isso qualquer um faz - ela tem que compartilhá-las conosco. Tem que nos manter informados. E assim ficamos sabendo tudo, sem solicitar nada, de tudo o que ocorre no Big Brother e na novela das nove. Ficamos sabendo, tendo solicitado menos ainda, da vida privada de toda a repartição. Depois de tanto tempo já estamos adquirindo know how na arte da audição fingida. Tem gente que finge orgasmo, nós fingimos audição. 

O que senta perto da porta faz o tipo trabalhador. Tem sempre uma ótima solução na ponta da língua e sempre inicia uma resposta com "é isso o que eu disse...". É partidário da tese de que o importante não é ser, mas parecer ser. Adora coquetéis, cargos com nomes pomposos, reuniões infrutíferas e pessoas influentes. Tem gente que finge orgasmo, ele finge que trabalha.

A que senta do outro lado da sala é do tipo que reproduz tudo o que lê no Facebook como se fosse criação dela mesmo. É a única representante da espécie humana que faz uso da palavra "auspicioso" (ainda que nem sempre a use corretamente). Tem o - irritante - costume de supervalorizar as sílabas tônicas de certas palavras, transformando um simples "obrigada" num lancinante "obriGÁda". Seu humor é sempre o de uma segunda-feira chuvosa. Tem gente que finge orgasmo, ela se finge de morta.

O que senta no meu lugar é do tipo que desabafa em blogs. Seu tino musical, suas maravilhosas imitações de Maria Bethânia, sua desenvoltura na arte da dança, atividades estas que pratica com maestria durante o expediente, causam imensa inveja de alguns que compartilham com ele algumas horas de labor, de modo que posts como estes também devem ser produzidos aos montes contra sua magnânima pessoa.Tem gente que finge orgasmo, eu finjo que não é comigo.



***

Hoje é 22 de maio e eu volto de férias, mas honestamente...




segunda-feira, 20 de maio de 2013

Meus 20 (ou 30, ou 40...) e poucos anos

De que serve mentir a idade se a tua cara já está tão cheia de cronologia?
(Millôr Fernandes)

Lendo um artigo recente da antropóloga Mirian Goldenberg, publicado na Folha de São Paulo com o título “Ridículas”, conheci mais alguns exemplos das brilhantes comparações que ela faz entre opiniões masculinas e femininas sobre determinado tema. No caso, como ambos os sexos lidam com o envelhecimento. Elas sempre mais preocupadas em como envelhecer bem, sem passar ridículo com um visual que não corresponda às expectativas sociais, e eles sempre mais relaxados, sem abrir mão do estilo que desenvolveram na juventude.

A maior preocupação feminina com a própria aparência é socialmente um hábito antigo. Herdamos da sociedade de corte, que contava com uma estratificação social bem menos diversificada. A plebe era extremamente simples: homens, mulheres e crianças trabalhando no cultivo da terra. A nobreza, mais segmentada, tinha homens que se dividiam entre herdeiros, guerreiros e clero. Às mulheres não havia as mesmas opções, já que o exército e a igreja estavam fora de questão.

Restava às cortesãs passar o dia cuidando de si. Daí os vestidos espalhafatosos, penteados artísticos, maquiagem, unhas, adornos, cremes e mais um milhão de itens que a maioria dos homens sequer saberia como usar. A moda, dinâmica, mudou muito, mas respeitando hábitos antigos e adaptando-se as necessidades. Seria impensável andar pelas cidades contemporâneas com vestidos com armação de arame ou passar horas seguidas se arrumando todos os dias.

Com o tempo os homens também passaram por mudanças. Infelizmente o contingente militar e clerical ainda não foi extinto, mas dentro das novas opções o machismo continuou sendo bem trabalhado para que os homens levem determinadas vantagens.

Não é que não deixamos de usar algo quando envelhecemos por falta de vaidade. O sentimento existe, nos preocupamos quando surgem os primeiros fios de cabelo branco, de barba então, nem se fale (eu que o diga), mas socialmente os cabelos grisalhos são muito mais aceitos nos homens, o desleixo com a forma física é mais motivo de brincadeiras do que críticas e a relação de homens mais velhos com mulheres mais novas é muito menos censurada que o inverso.

Que na vida em sociedade nossa medida seja influenciada pelo olhar do outro, é até aceitável, mas abrir mão de coisas que gostamos com base no possível julgamento por parte de quem muitas vezes nem conhecemos? Acredito que o ideal seria um pouco mais de personalidade, independente do gênero.

Mas isso implicaria em dizer que se a velhinha toda esticada por plásticas faz isso porque gosta, não por se preocupar com os outros, ela estaria certa. Aceitar que aquele senhor sem mais espaço para rugas no rosto, que pinta o cabelo e o bigode (cuja própria existência anacrônica contradiz a meta de se manter jovem) com o preto mais escuro, faz isso por opção, não por pressão. De fato, não estão errados, mas caímos em outro problema.

A busca incessante pela juventude eterna anda tão exacerbada que as pessoas se esquecem de viver a própria idade. Crianças cada vez mais cedo se esforçam para se comportarem como adolescentes, que por sua vez querem ser adultos. A partir de certa idade todos querem retornar a qualquer custo para quando eram balzaquianos, já vi gente roubando dez anos da própria idade, crente de que todos acreditavam. E os jovens?  Esses que estão na fase mais almejada costumam se preocupar mais em evitar a velhice do que em aprender a envelhecer.

De fato, podemos pensar que quanto mais velhos, mais dificuldades enfrentamos, não apenas por parte da estética, mas começamos a pagar o preço do tempo, nos tornamos mais dependentes, frágeis. Apesar disso, e sem alternativas viáveis, cada fase tem seus problemas e vantagens, que não podem deixar de ser vividas, tão pouco vividas fora de sua própria época.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

É a parte que te cabe desse latifúndio

Tenho achado essa vida meio severina. Meu projeto adulta tem falido todo dia. Tenho considerado difícil sair do casulo, dessa morte necessária, necessária, mas ainda assim, ainda assim severina. Em todo lugar, é esse tumulto, são esses muitos braços e pernas, não é o bonde de Drummond que passa, mas é o metrô, o trem, é o formigueiro de gente, de tanta perna, que se amontoa, que se engalfinha, que se abespinha, almas sonolentas, automáticas, robóticas, nem mortas, nem vivas. A vida é severina, tem andado severina, mas não da seca que seca o coração dos homens, não só da falta de broto, não da falta de justiça. Onde tem garoa a terra é abafada, acinzentada, sufocada, secando não as possibilidades de chuva, mas as de singularidades. Porque também são muitos Severinos, de mães chamadas Marias, é esse mesmo drama da gente que se amontoa nessa cidade tão grande. São muitos Severinos carregando debaixo do braço currículos, honorários, títulos, troféus e reconhecimentos numa pasta dourada para provar que são seres dourados, intocáveis, escolhidos. Ao mesmo tempo carregam os sonhos dentro de um saco de papelão. Severino se amontoa  tentando ganhar o fruto, ao qual o homem se destina, tentando galgar o topo mais alto do mundo. Carrega no lombo todo o necessário para seu sustento, fica longe dos seus, compartilhando da sua energia com a gente que menos queria. A vida severina o carrega para longe, amontoado ainda, para o destino do maior medo de sua mãe Maria. Essa vida é tão severina que na secura de sonhos repete as mesmas mortes da secura da água: a velhice antes dos 30, a violência antes dos 20, a fome um pouco por dia. Quem aí nunca morreu por não saciar sua fome de mundo?
 

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).   

Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta(...)

(João Cabral de Melo Neto - Morte e vida severina)   

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O melhor do passado é que ele passa

"Maybe I will never be
All the things that I want to be
Now is not time to cry
Now´s the time to find out why"

Eu sempre quis olhar somente para frente e o agora, só que sempre me pegava em questões que me prendia e pior, me faziam olhar para trás. Só que agora eu sei que tudo isso foi necessário para que hoje eu encontrasse a minha paz.

Desculpe-me do meu afastamento, mas saiba que ele continuará, pois sei que não quero ter a sua presença somente para dizer um olá. Desculpe-me se não gosto de viver uma mentira, da qual eu sou igual a vocês ou mesmo que eu posso ser um dia igual a vocês.

Eu não sou, não quero ser.

Continuarei na minha caminhada, com poucos e apenas poucos. Continuarei austero, sem viagens de compras no exterior, como os novos ricos e loucos.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Minha primeira crítica literária polêmica

Sem muito repertório, tempo nem paciência, precisava escrever um texto neste dia 15, como de costume. Foi então que optei por colocar aqui uma crítica literária polêmica do livro 50 tons de cinza, feito no Gerador de Texto do site Mundo Perfeito. Os geradores do site já são bem velhinhos, não são novidade. Mas é só seguir as instruções e colocar algumas palavras, verbos e substantivos (você precisa saber um pouco de gramática!) e... voilá! Aí está o resultado copiado e colado da minha brincadeira:

Sobre uma pseudo vanguardista

Confesso que não li 50 tons de cinza . Mas além de beleza, perspicácia, modéstia e superioridade caucasiana, tenho o poder da mediunidade que me garante o direito da perda injustificada.
A exemplo de Karl Marx, (que também não li, apesar de fingir conhecê-lo como as falanges da Aracy Balabanian), 50 tons de cinza parece que foi escrito por uma necessidade que Erika Leonard James tinha de, digamos assim, escrever. Agora, vamos nos entregar um pouco nesse assunto específico, que é a necessidade da escrita. Por que uma pseudo vanguardista decide escrever blasfêmia? Apesar de não ter lido o ápice da vulgaridade gratuita da obra, é fato notório que eu detenho exclusividade na arte de escrever blasfêmia. Não aceito qualquer ameaça de concorrência.
Eu poderia declarar aqui que o Justin Bieber é hétero, mas tenho que arranjar outra forma de enganar o leitor e encher lingüiça. Por isso exercito minha bipolaridade (que, aliás, é meu cartão de visitas) e minha paranóia enfrentando coisas que desconheço e escrevendo frases de efeito como: a mediocridade de Shakespeare é constatada no momento em que a obra resiste a se integrar ao parnasianismo e se dispersa em holofotes adolescentes.
De qualquer forma, voltando à 50 tons de cinza : não se trata de um Lorde Byron , nem de um Paulo Coelho. Aliás, essa comparação que tentei fazer só expõe minha limitrofia, porque não posso comparar uma obra que não li. Mas, para que se preocupar com coerência e raciocínio? Se Erika Leonard James for tão prosaica quanto eu, pelo menos arrumo uma boa briga. 
 _________________
 
Se você quer fazer uma crítica parecida com essa, escrever um texto estilo Jorge Amado ou compor uma música a la Engenheiros do Havaí, é só clicar aqui.

terça-feira, 14 de maio de 2013

O Mito de Estreia


No começo , não existia nada e Deus fez a luz e a escuridão. Deus fez as terras e os mares. Deus fez o homem, à sua imagem e semelhança. De uma costela do homem, Deus fez a mulher. E por tudo isso, pelas aulas de catequismo, que me povoaram a cabeça de ovelhinhas e musiquinhas, se fez o dia em que eu perguntei para a professora de ciência, se os homens tinham mesmo uma costela a menos que as mulheres. E eis o dia em que eu fui bem zoada na escola e me dei conta, pela primeira vez, do quanto a religião poderia ser perigosa.

Mas eis hoje, eis o grande dia de hoje: minha estreia neste blog! Oh! Quantas gerações de bactérias sofreram mutações. Oh! Como o caldo daquela sopa de proteínas e aminoácidos teve que engrossar! Quantos dinossauros e mamutes ficaram para trás! Quão grande a evolução da espécie humana! Quantos asteroides erraram o seu alvo; essa minúscula Terra perdida na galáxia, para que o hoje existisse!!! É como se todos os dias fossem milagres, mesmo que, às vezes, sejam uma bosta e apesar de o universo seguir indiferente ao que fazemos nesse planetinha azul.

Eu juro que a primeira coisa que eu pensei é que não queria que esse fosse um texto de metalinguagem. Nem que fosse um texto falando sobre um texto, nem uma primeira postagem falando sobre si. Mas o que eu posso fazer? Só existe um começo, uma porta de entrada por onde se entrou, um mito fundador (dominante) e uma primeira vez.

Além disso, escrever é para mim uma maneira de organizar o caos na minha cabeça, ou o caos do que vejo, ou o caos do que escuto, ou o caos do que eu sinto. É quase inevitável essa ordem. Vou colocando uma palavra depois da outra, escolhendo adjetivos como quem escolhe cores, lendo e relendo como quem estivesse construindo uma ponte e se certificando de que ela suportará o peso de quem atravessá-la. Lendo e relendo como quem ensaia atores para uma peça.

Do outro lado carrego sempre um sentimento de....justificativa. Talvez eu queira ser entendida ou ao menos não mal compreendida. E não é que eu busque agradar, mas também não tenho a menor intenção de agredir ou maltratar estranhos. É, acho que tenho uma certa prisão na escrita, pelo menos quando ela é assim: autobiográfica (e quando ela não é? Tenho minhas dúvidas...).

Nesse momento eu escolho me mostrar sem máscaras, acreditando que isso seja e esteja sendo possível, para apenas poder olhar nos olhos de vocês e dizer: oi.

Oi. Meu nome é Carol, na verdade Maria Carolina Moraes, mas como prefiro ser chamada de Carol, me sujeito a ser sempre a “outra” Carol. Afinal, somos tantas: Ana Carolina, Caroline, Carolina, Karolini, Antônia Carolina....todas Carol.Como Carol estou acostumada a ser chamada pelas ruas, pelo supermercado, na escola e no hospital....geralmente chamam por “Outras” Carol. 

Levo a vida assim, como um barquinho de papel no mar, no rio, numa bacia plástica cheia de água. Ora estou aqui, ora acolá. Acabo me envolvendo em alguns redemoinhos, mas tudo tão estável como a crista de uma onda e tudo tão sólido como uma sombra no asfalto. Aqui vou, me aventurando por esses caminhos navegáveis, descobrindo ilhas perdidas entre uma letra e outra, no meio das linhas e dentro de mim.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Tema

Não tema.
Não tema.
Não tema.
Era o que lhes diziam. Com toda a certeza que um ponto final pode dar.
E no fundo ele temia.
Temia para ser sincero consigo mesmo.
Não viver em fins de novelas ou amores de Sabrina.
Seja egoísta. Você pode; humano que é.
Seja malicioso, presunçoso; só não, pernicioso.
Duvide das filosofias facebuquianas que descobriram a fórmula da vida, mas ignoram o modus operandi.
Pensava ele: não chicoteie as tristezas para que elas não corram tão rápido e o açoitem lá na frente.
Seja sincero consigo e com seus sentimentos.
Chore suas mágoas. Quando acabar uma lembre-se que outras virão.
Não viva desavisadamente no País das Maravilhas seguindo os pseudo-gurus que pregarão ditatorialmente: Felicidade a todo custo, sempre!
E mesmo sofrendo, pensava ainda: Cuidado! Viva as dores nos limites que elas impõem:

[...]A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: “Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas”. Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: é feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira da nossa dor[...]

Só seja sincero consigo mesmo.

Magistralmente, Poe, sem medo de admitir:

Quando anda no corredor ou na sala de aula, quantos de vocês já sentiram o peso da pressão nos ombros? Eu já. Todos? Uau.
Poe escreveu isso há mais de 100 anos. Então, como lemos podemos ver que “A casa de Usher” não é somente um velho castelo em ruínas… É também um estado de ser.
“Durante todo o dia nublado, escuro e silencioso no outono daquele ano, quando as nuvens cruelmente cobrem o céu, eu passava sozinho, à cavalo, por aquele sombrio pedaço de terra daquela província e, enfim, encontrei-me como o orvalho das sombras da tarde, com a visão da melancólica Casa de Usher. Sabia como era. Mas, com o primeiro vislumbre do edifício um senso de insuportável tristeza, invadiu minha alma. Olhei para a paisagem simples do local. Sobre as negras paredes, alguns troncos brancos de árvores podres com uma absoluta depressão da alma. Não houve frieza. Um naufrágio. Uma revolta do coração.

Filme: Desapego (Detachment)


domingo, 12 de maio de 2013

Quer ser feliz? Faça as contas e saia do vermelho

Quando eu tinha doze anos uma amiga da escola me ensinou um gráfico que seu avô, professor de matemática tinha feito. Era simples e ela me explicou que ele dizia que era para toda a vida, ela tinha que colocar tudo ali, relacionamentos, vida, trabalho, tudo como se fosse uma conta, caso não fechasse alguma coisa estava errada. De um lado ela escrevia o que estava dando para o que tivesse escolhido e do outro o que estava recebendo. Depois era só somar e ver se a conta estava certa, caso ficasse no vermelho, então alguma coisa estava errada.

Não entendi na época, mas depois de alguns anos ela me explicou novamente e eu fiquei chocada. Eu estava no auge da minha maneira de ver a vida emocionalmente, achava que existia o ''bem'' e damos o que queremos, sem ficar esperando nada em troca, tudo me parecia certo, já que existia o ''castigo divino'' e as ''boas pessoas'' que sempre são recompensadas, com minha lógica para que um gráfico frio, vazio, distante e interesseiro? Ora, se eu sou uma boa garotinha faço as coisas porque quero, não porque espero receber algo em troca, não é assim que tem que ser?

Perdi o contato com minha amiga e tenho lembrado muito dela nos últimos tempos, só hoje consigo entender a genialidade do seu avô, um visionário que percebeu que tudo na nossa vida é uma questão matemática. Já na época que eu era criança ele era muito bem sucedido, apesar de ser professor em um país que isso não faz a menor diferença, principalmente economicamente.


Hoje conhecendo a natureza exploradora do ser humano entendo a importância de fazer as contas. Quando eu gostava de alguém, eu gostava, me jogava mesmo e nunca fiz contas nem gráficos, pelo contrário, na minha ingenuidade eu ia pela vida caminhando achando que o amor supera tudo e emoções são para serem vividas, não calculadas. Imagina, eu dou amor porque eu quero, pra que fazer contas, é amor, não é?

Não fiz e agora consigo ver como minhas contas viviam em vermelho. Eu entrava na relação, dava o possível e impossível e o outro não investia nada além do mínimo, eu ficava no vermelho. Comecei a fazer as contas de várias mulheres da minha família, todas exploradas pelos seus maridos. Elas deram tempo, energia, amor, dedicação para construir uma família e ainda trabalharam fora e o que receberam? Homens encostados, folgados, infiéis e irresponsáveis. E tudo isso aconteceu simplesmente porque ninguém fez uma simples conta de matemática, que até uma criança de sete anos pode fazer, se eu dou dez e recebo um, então quem fica no prejuízo? Quem vai pagar os nove que estão faltando? E o que é importante para mim, estou recebendo do outro lado o que eu quero ou estou me contentando com migalhas e vivendo no vermelho emocional, econômico, sexual e profissional?

E não foi só no amor que eu errei nas contas, foi em tudo. Não calculei prejuízos em trabalho, amizades, saúde, em nada, nunca fiz a porra de um gráfico, porque achava que o que nós dávamos as pessoas fazíamos isso por vontade própria não pensando em receber. Mas em um mundo que se construiu e gira ao redor da exploração não fazer contas é pedir pra morrer na merda. Investi tempo, dedicação em trabalhos que fui explorada, investi em amizades que fizeram a mesma coisa. Já vivemos em um país onde vemos o governo levar 77% do que ganhamos e ainda podemos ser explorados por amigos, amores e chefes? É muita coisa, mas pelo menos podemos evitar uma parte.



Ah, fazer contas parece tão frio, tão desumano. Mas não é? Também acho, mas alguém saiu ganhando nas contas que eu não fiz, alguém ficou no lucro.

Não é difícil de fazer, é só pegar um caderno e separar por temas. Começa com o nome de uma amiga, o que eu dou nessa amizade e o que eu recebo? Tá valendo a troca? Tô no azul ou no vermelho com essa pessoa ou é ela que está me devendo? E  assim vai com tudo, família, amigos, namorado, trabalho, relacionamentos na vida, é só ir escrevendo o que se coloca, se investe e o que se recebe. Não precisa ser gênio, os buracos começam a aparecer no papel quando somos sinceros, a sensação de ser explorado é uma sensação que não precisa de um psicanalista para diagnosticar, a gente sente quando é explorado.

E se a conta não fechar? Tchau e benção, não vale mais a pena continuar, dali pra frente conta que não fecha é como cartão de crédito com o pagamento atrasado, só vai piorar até estourar da pior maneira possível.
E se for um investimento? Ora, sejamos claros, até investir em um banco pode ser perigoso, imagina então um emprego que não conhecemos as intenções do chefe ou um relacionamento. Mas existem investimentos de alto risco! Bom, um investimento de alto risco é uma coisa, a outra é viver assim em tudo, na família, no amor, no trabalho, na saúde, investindo alto sem certeza de ter o retorno.

E quem não quiser essa vida de ter que calcular tudo? Que faça como eu, nunca calculei, mas fui explorada por muitos e perdi tudo, já que não queria calcular, não queria ser fria nem me guiar por questões que eu considerava de princípios capitalistas. Aprendi na marra que a alma humana não se divide em direita nem esquerda, é simplesmente tenebrosa e assustadora, explorar alguma coisa ou alguém é um movimento natural no coração dos humanos, sempre insatisfeitos e salivando ambições baratas.


A vida não é tão meiga como parece, deixa bem claro o que acontece se a pessoa não aprender a reagir. E fazer contas não ajuda a pessoa apenas a se livrar de ser explorada, mas de ser justa, às vezes o papel mostra que estamos dando de menos e recebendo demais. Ali na nossa frente os números não mentem, também revelam o nosso pior lado, aquele que também explora alguma coisa ou alguém.

Foi a falta de gráficos, de contas fechadas que acabou com a vida de muitas mulheres da minha família, porque investiram tudo e não receberam nada. E hoje pagam pelo prejuízo, pelas contas em vermelho. E não tem volta, a energia, o amor, a saúde, tudo foi cobrado, tudo pagou essa conta e não teve retorno.

E coitado de quem fizer isso na frente dos outros, vai passar por uma pessoa calculista, fria e perigosa, onde já se viu medir relacionamentos e trabalhos por gráficos? Parece coisa de novela mexicana, onde as vilãs são frias e malucas.


Mas é para isso que todos temos a capacidade de fingir, dá muito bem para fazer as contas sem ninguém ver e os números não mentem, isso dizia o avô da minha amiga, os números estão ali, mostrando nosso prejuízo ou nosso lucro.
E neste mundo prejuízo é mais do que dever ao banco, pode ser perder tua vida com a pessoa errada, o emprego errado, a vida errada e mesmo você perdendo sempre tem alguém que está ganhando em cima de você. É melhor mesmo começar uns gráficos.

sábado, 11 de maio de 2013

Sinopse do Filme de Minha Mente

O marcador do termômetro passeava entre 6 e 13 graus. Já estava na hora de acordar para desfrutar da beleza daquele lugar ainda desconhecido. Eu, ainda desprovido de blusas, sentia o frio na pele, mas lá, senti-lo naquele momento era sinônimo de elegância.

Entre galhos levemente secos e arbustos dotados de um amarelo incandescente, podíamos ver a chegada da linda primavera. Tulipas de todas as cores sorriam alegremente a cada dia que passei por lá. Arquitetura, ruas, avenidas, pessoas, comida. Tudo era diferente. O idioma, a cerveja e até a cultura.

Tudo tão diferente e tão igual ao mesmo tempo. Gente pobre e gente rica, tempo quente e tempo frio, parques grandes e parques pequenos e muita coisa que não se tem onde contar.

E foi isso, um breve lindo resumo de um filme da minha memória. A primeira vez a gente nunca esquece e melhor do que não esquecer, é querer voltar.

"Baseado em fatos reais."
"Polônia, de 28 de abril à 05 de maio de 2013."

Encontre mais no livro Rascunhos Vivos

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Ofendendo a Família Inteira.

Eu olhando a lousa de recados:


-Que bonito o desenho que você fez, filho!

  - Não fui eu, foi o papai.

  - Nossa como o seu pai desenha mal!

terça-feira, 7 de maio de 2013

O dia 7


Escrever aqui é engraçado por que o acaso resolve agir ou aumentar a força dos acontecimentos em dias próximos ao meu dia de postagem. Só isso torna possível a soma de irrealidades que circulam próximas ao dia 07 de cada mês. Dia cabalístico, entorno marcante.

*
Primeiro veio o texto de Lucas Guedes no dia 1º e a necessidade de respondê-lo.
Acabo de sair de uma longa relação de três anos e a parte tudo o que envolve uma relação, as características pessoais de cada um sempre se definem no início. E o meu era (assim como é na vida) de antena: de shows, de eventos, de aniversários e tudo aquilo que vocês podem ler no texto do Lucas.
Quando me mudei pra Rio das Ostras concentrei forças para a antena do meu lugar, para as pessoas próximas, cultura, festinhas da faculdade... E muito me doía virar um mero acompanhante das notícias que ele me passava. E me senti um pouco nessa prisão que ele (Lucas) citou em seu texto. Foi um tanto egoísta, reconheci posteriormente. E fico até o presente momento sem saber o que é ceder e dividir o mundo lá fora (ser levado pelo outro) e quando afinar as antenas para o que eu preciso dividir com o outro.

*
 
Depois veio o assombroso mix de calmantes, drogas e bebidas que veio a dar o colapso ou overdose em que um amigo meu se envolveu. Horas de pânico, nós dois sozinhos.

Foram dias que se seguiram e que tudo veio à cabeça: dilemas morais, questões religiosas, certo e errado, sim e não.
Rejeito com violência a idéia de fazer o bem, bom mocismo. No fim das contas fazemos o que temos que fazer. É o certo? Pra mim é retórica. Foi a minha personalidade? É adrenalina, índole, medo, caráter?
Deus?

O que se tinha pra fazer era chamar a ambulância. Se formos presos, se terminarmos na delegacia pelos motivos da internação – tudo parece um grande “foda-se” nessas horas.
Olhei pra ele como nunca tinha olhado. Senti algo tão forte, tão maior que a responsabilidade que sabia que tinha em mãos que não era mais certo/errado. Era uma questão de amor.

E não é por isso que deixo de entender as situações paralisantes da vida. Nada disso.

*

Os dias que se seguiram foram de febres intensas e tentativas de escrita.
Se eu atraso no blog eventualmente é por que coisas assim estão acontecendo em dias próximos ao meu – e tenho que resolver.

Pedro Progresso, 15/05/2013

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Sobre a volta

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E se tudo um dia voltasse? Você reviveria suas lembranças ou ia preferir seguir construindo novas?

A carne é fraca. Quem sabe o que é perda pode testemunhar que seria feliz revivendo cada momento com a pessoa que um dia amou. A memória é mais dourada, porque quem a vê é o olho da saudade.

“Mas qual seria o ponto?”, se pergunta o incrédulo. “Tolo”, responderia o sábio. “A vida não precisa de um ponto. Precisa de boas lembranças”.

A recordação certa num momento vulnerável é como uma flor dada por um charmoso e inatingível estranho: pode ser que nada signifique, mas continua desconcertantemente bela.

domingo, 5 de maio de 2013


Troque de sobremesa predileta, escreva cartas, pegue o primeiro ônibus que passar e desça no trigésimo sexto ponto e ande sem destino, pegue os panfletos que entregam nas ruas e faça uma colagem, recrie um conto de fadas, escreva um poema qualquer (não vale dizer que não sabe), decore o trecho de uma história, dance sem música, telefone para aquele amigo que você não fala há meses, doe aquela camisa linda, não economize “eu te amo”, arrume a bagunça da casa, descarte papéis, jogue perfume nos lençóis, acenda incensos, leia mais, presenteie livros, flores e músicas, lute por seus direitos, brigue por seus amigos, segure a onda, não desista fácil, tire a palavra "desistir" do seu vocabulário, brinde olhando nos olhos, valorize as coisas simples, colecione sorrisos, faça a festa, assuma os erros, peça perdão, afaste-se de tudo que é negativo, reze (independente da religião), tenha um mantra, acredite que você é capaz, corte o cabelo, mude. 

(Cleyton Cabral)

sábado, 4 de maio de 2013

All Souls Night.

Pessoal, esse texto na verdade fala sobre a noite de 30 de abril para 1º de maio, que corresponde à Entrada do Inverno e aos ritos de Finados. Eu escrevi esse texto no Facebook, num momento de forte emoção, e pelo feedback positivo trouxe-o para cá, também. Hoje é dia 4, mas ainda podemos refletir sobre os processos relativos à Entrada do Inverno.
O título dessa postagem remete a uma música da Loreena McKennitt que pode ser ouvida aqui. Suponho que tenha sido feita para a data.
Embora esse texto esteja cheio de referências devocionais, considero seu conteúdo bem ecumênico. Caso queira seguir a forma convencional dos ritos no Brasil, leia esse texto no dia 2 de novembro.

Opa, pera. Dia 2 de novembro é dia de outra pessoa. Dia 4, gente. :)

Hoje é uma noite singular.
Talvez não para todos, talvez não para todos aqueles que compartilham dessa página. Mas, particularmente, para mim, essa noite é singular.
Ainda que suas crenças sejam diferentes das minhas, hoje eu te convido para lembrar com carinho de alguma pessoa que você ame. E, tenho certeza, você vai descobrir que só o fato de lembrar já mexe com os músculos faciais responsáveis por um sorriso.
E, se não for abusar, quero que você lembre de uma pessoa que já morreu. Se você a amava, que isso seja doloroso e prazeroso, concomitantemente: a dor da partida, com a delícia da lembrança que atrai a presença.
Se você só a conhecia, que você tenha um minuto de compaixão por todos aqueles que a amavam.
E se você tinha qualquer sentimento negativo por ela, do ódio ao desprezo, que você receba a dádiva do perdão mais puro que existe: aquele que só você mesmo (a) pode se conceder.
Eu desejo também que você sinta esse amor. Porque temos tão pouco tempo para lembrarmo-nos que também somos amados! É necessário um evento importante para lembrarmo-nos de falarmos "eu te amo" com a força necessária para que as palavras reverberem. Esse evento é agora. A tua leitura dessa mensagem. 


Eu desejo que você sinta esse perdão. Que você esteja livre de todas as amarras que o ódio foi capaz de criar no seu coração. Que todo o ódio destinado a você - porque, sim, você é imperfeito, mas é digno de amor e perdão incondicionalmente, quero nem saber o que você fez para merecer ódio, só quero te oferecer meu abraço - seja posto à sua frente e, diante desse ódio, você reconheça o quanto você é importante.
Só é digno de ódio alguém com quem se importa.
E eu te desejo um minuto de silêncio. Porque o amor é o silêncio compartilhado que reverbera no interior de uma igreja. Vivemos tão corridos que esquecemos que, quando o assunto falta, o amor se revela. A empatia preenche.
E, por último, eu te desejo uma reflexão tranquila sobre a morte, sobre a efemeridade da vida. E, sobretudo, que você entenda que é fácil morrer. Morre-se de gripe, de susto, de tombo, de cochilo, de desatenção, de desamor, de destemperamento, de acaso, de oportunidade.
Viver é que é difícil.
E eu te convido a viver. 
Tenha uma boa noite. Como a minha está a ser.