terça-feira, 27 de novembro de 2012

Eu tô cansada da cidade...


Até a adolescência vivi no campo. Bebia o leite da vaca do curral, comia os ovos das galinhas do terreiro, ouvia o canto das cigarras e aturava uma multidão de pernilongos. Ao mesmo tempo, fui criada com todas as facilidades da vida moderna: telefone, televisão e escolinha de inglês. Devido à localização do sítio da minha família, eu dependia da minha mãe para ir de carro à cidade. Conforme fui crescendo, a vontade que mais crescia era a de fugir da repetitiva vida campestre e morar na cidade. Eu não tinha vizinhos ou amigos para conversar. A vida era chata no meio do mato. Mais tarde, mesmo a cidade, localizada no Vale (Encantado) do Paraíba, pareceu-me provinciana demais. Eu queria ir embora para outra cidade – maior, mais intensa, mais viva. No último ano do colégio, o meu principal objetivo era partir. Só poderia ir embora se passasse em uma universidade pública, dizia a minha mãe. Foi então que lutei com todas as forças contra a preguiça e me dediquei à decoreba para fazer o vestibular. Passar na prova foi passar finalmente para a vida urbana! Cheguei à metrópole. No início eu me assustei, depois me acostumei, gostei e, então, eu me viciei na cidade. Uma das melhores coisas que a cidade grande me deu foi a oportunidade de ser anônima. Aos olhos da multidão, não sou filha, sobrinha ou namorada de ninguém. Em breve completarei nove anos de paulistanice. Já me sinto bem paulistana, mas admitido que eu tô cansada da cidade. Às vezes me pego sonhando em ter uma plantação de milho, algumas galinhas e talvez um porco. No fundo, nunca deixei de ser uma caipirinha.





7 comentários:

  1. Acho que faz parte do ser humano com o tempo procurar o tal sossego. Entendo o que vc falou ai, sempre morei em SP, mas nesse ultimo ano fiquei fora da loucura e mesmo estando a trabalho, e trabalhando mais do que o normal bem longe de casa assim que cheguei a SP (ontem)e levei quase 3h para chegar ao trabalho, peguei ônibus, trem, metro, restaurante tudo lotado.
    Não teve como não ter vontade de voltar para onde eu estava.
    curti o texto

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  2. Bom, eu como nunca morei fora da cidade grande, fico com dificuldades de opinar. De todo modo, por trabalhar a 27 minutos, a pé, do meu trabalho, não tenho uma rotina propriamente de cidade grande, o que certamente muda tudo.

    Por outro lado, às vezes penso que já me acostumei tanto com a balbúrdia que nem me importo mais. E esse seria o pior dos mundos.

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  3. nossa, eu era exatamente assim. adorava sair na rua meio de pijama, sem pentear o cabelo, e ok, ninguem me conhecia. bom, se um dia vc precisar voltar, como eu precisei, prepare-se minha cara. fobia de semi-conhecidos. a sensação q vc tem é q tem sempre alguem vigiando, sempre alguem vai comentar algo de vc. depois vai passando e vc começa a achar normal saber da vida de todas as pessoas q estao almoçando no restaurante.

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  4. Nenhum lugar será melhor do que aquele onde você cresceu. Sou de SP, então hoje, não me vejo fora da cidade de maneira nenhuma, quando me chamam pro campo, minha primeira pergunta é se tem energia elétrica. Suas dúvidas são normais, conquiste o que você pretende por aqui, mas depois volte, você ficará mais feliz por lá.

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  5. Concordo com o Riso, porém nasci em São Paulo e gostaria de viver no campo, vai entender. Acho que deve a ver com o sentimento de pertencer ao lugar, não apenas pelo nascimento ou pelo tempo ali vivido, mas pela ideia mesmo de contemplação que temos. O real é que a cidade é cruel, cruel no sentido que somos números, somos aqueles que consomem apenas. Vejo a cidade assim, não que ela não tenha seus lados positivos, por isso a vontade de rebelar-me e partir pro campo, viver na forma que eu possa ser o que eu quero.

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