quinta-feira, 29 de março de 2012

RIR é o melhor REMÉDIO ou pondo um pouco de AMOR na minha VIDA.


Faz me rir.
Preciso, do riso.
Melhor anti-rugas, anti-estresse.
Rir.
Um mundo de dificuldades, atropelos, situações que chegam ao desespero.
Lutar, viver, um dia de cada vez, de preferência fazendo uso do bom e velho humor.
Humor resgatado.
Entre caixas, pacotes, desmontes, na bagunça da mudança para sexta, olha o que eu achei:
um crew, crew, do loro.



... em 2009, Cajati, família louca ensinando o loro a cantar creu
ou mulheres despirocando de vez...

Faz me rir, mesmo sem motivos, faz me rir.
E no caos ainda encontro graça, sorriso, abraço.
Pode parecer pouco, talvez seja, mas por aí início, meu começo.
Já disse Deus - quero um 2012 doce, dos melhores anos.
Então, faz me rir.
Mesmo no amargo dos dias, faz me rir.
Neste dia que foi tão cansativo, com mãe no colo, vida a mil por hora.
Mesmo assim, quero rir.
Eu tenho mais motivos para ser mais feliz.
É melhor ser alegre, que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz do coração...



Eu vivo de contrastes, na vida, nas canções, nas lágrimas, nos sorrisos. Melhor ser alegre que ser triste.
Pondo um pouco de amor na sua vida!

quarta-feira, 28 de março de 2012

Encontrei seu desafeto em meu edredom


Naquele dia, ela acordou desejando-o menos. Não foi tão simples assim, nem tão imediato como pode parecer. Mas naquele dia, bem naquele dia em que o sol estava tímido e o céu anunciava uma chuva fina e com jeito de luto, ela se deu conta de o que viviam já não era aquilo de lindo que o começo da relação prometia. Faltava ar, faltava abraço, faltava tesão.

Ao se despertar, ainda enrolada naquela conchinha que já não era confortável há muito tempo, olhou para a televisão ligada no mudo e fez a leitura labial de um desenho animado dublado. Não deu certo. Não achava o controle remoto. Decidiu se levantar. Ligou o computador, ajeitou a calcinha e foi ao banheiro ver sua cara-de-bom-dia. Não escovou os dentes, como de costume, para ela o café da manhã perde o sabor para a pasta de dente. Abriu a torneira em um filete fino de água. Fazia frio, só de imaginar aquela água gélida em seu rosto, já lhe arrepiava todo o couro. 1...2...3... Respira. Água. Olhos fechados, pensou no desconforto que lhe causava aquele abraço. Água. Pensou que aquele casal já não estava em sintonia. Água. Lhe falta aquele cheiro no cangote, aquela flor roubada do vizinho, aquele beijo de bom dia. Água. Lhe falta inspiração para fazer o abraço funcionar. Água. E abre os olhos, e se vê no espelho. E se envergonha de passar tanto tempo empurrando aquela relação que para ela já não funciona mais há quase um ano. Mas tinha um medo tão grande de falar basta!, de perder o chão, de não se encontrar em outro abraço e pensou – por muito – que o problema era dela.

E de volta ao quarto. Ainda pensativa e com cara de espanto. Se via distante, voando pra longe, como se não quisesse mais estar ali. A janela já mostrava as primeiras gotas de chuva e o céu tinha um semblante triste, quase mórbido. E ele estava lá, sentado-deitado na cama. Parece que achou o controle remoto e colocou som no desenho animado. Ela se sentou ao seu lado, esperando um bom dia, um afago que seja, um sorriso sincero, sabe lá. E só recebeu um ‘quer ver outra coisa?’. E ele lhe entregou o controle, que escondia abaixo do travesseiro. Ela não respondeu. Levantou-se, deu-lhe um beijo na testa e disse um bom dia sussurrado.

Viu as horas no computador. Já era tarde, 11h30. Trocou a camiseta velha por um vestido simples, calçou um par de chinelos e saiu daquele quarto de ar viciado. Desceu as escadas, abriu a porta pesada de tanta idade, e viu a rua – com chuviscos, tristezas e as cicatrizes de um amor perfeito que faleceu.

Foi em busca de um café da manhã com pinta de almoço. Comprou um pão com ovo. Tomou um suco de uva de caixinha – seu favorito. Pediu um pão de queijo pra viagem e já no caixa escolheu um chocolate meio amargo com amêndoas. A volta pra casa foi eterna, o chuvisco molhava sua tez, seu vestido e levava embora o orgulho e a tristeza. Vivia triste. Um mês triste. Mas não saberia viver de outra maneira, não saberia viver sem ele. Preferia viver triste. Assim estava bom. Sem sorrisos, sem beijo com aroma de bom dia, sem amor próprio. Mas bom.

Abriu a porta do quarto. Ele lá, na mesma posição – nem sequer encarou a água fria da torneira para pensar. Zapeando os canais da televisão, em um looping infinito de insatisfação. Ela dispara mais um ‘bom dia, amor. te trouxe café da manhã’. Ele sorriu, agradeceu. Ela sabia que aquele era seu chocolate preferido. Tentava salvar essa relação a todo custo. Queria a liberdade, queria seu próprio ar, queria viver sem ele. Mas não queria.

Sentou-se ao computador, pôs a primeira musica da playlist e colocou-se a escrever. Escreveu sobre sua mãe, sobre suas saudades, sobre seus cachorros, sobre suas dores, seus desafetos, sua insegurança e sobre a vontade de falar para ele tudo aquilo que sentia – angústia, solidão e abandono presente, que é ainda pior que o ausente. Deixou a escrita, voltou para a cama e naquele ambiente viciado, soltou algumas palavras há muito atadas com nó cego.

‘Cansei. Quero vida. Me liberte. Quero viver. Quero ser eu. Quero me conhecer. Não mereço abraço sem carinho. O afeto só é afeto se é completo.’

Ele.

‘Vem aqui, amor. Deixa disso. Eu te amo. E tudo vai mudar. Te prometo.’

Ela acreditou, sorriu, fingiu paixão e deitou em seu duro abraço mais uma vez.

Passaram tarde, noite. Foi normal. Divertido, como amigos se divertem. Assexuado, talvez, como grandes amigos. E a meia noite, daquele mesmo dia que para ela terminaria bem, o desgosto e a despaixão desabrocharam em seu estado mais uma vez. Foi começar uma conversa, mas foi interrompida por um...

‘Você acha que a gente ainda dá certo? Não sei você, mas pensei em terminar.’

Seco. Duro. Frio. Sem amor algum. Com um resquício da amizade que tinham, em uma frase solta bem semelhante a um comentário tolo de amigo – levada por um sorriso sem ironia nem nada.

E lhe soou uma mescla de alívio e desespero. Ela queria ter soltado essa frase, ele não deixou. Terminaram com um sorriso de lá e um orgulho mordido de cá. Sem nenhuma esperança de voltarem a dividir o mesmo edredom.




terça-feira, 27 de março de 2012

Um teto todo seu


"É necessário ter quinhentas libras por ano e um quarto com fechadura na porta se vocês quiserem escrever ficção ou poesia."
Virginia Woolf


Há alguns anos li “Um teto todo seu”, de Virginia Woolf, e essa leitura me marcou muito. No ensaio, que foi escrito inicialmente para uma palestra a jovens universitárias, a autora inglesa traça um panorama da relação entre a mulher e a ficção ao longo da história. Para ela, se tivesse existido uma irmã de Shakespeare tão talentosa quanto ele, a pobre mulher certamente não teria nenhum êxito literário e seria deveras muito infeliz, pois às mulheres do século XVI só cabia o papel de trabalhadoras domésticas subordinadas, quase sempre analfabetas e desprovidas de voz. Woolf acredita que as condições precárias das mulheres é o motivo crucial de termos na literatura poucas escritoras. O quadro só começa a mudar e as mulheres possuem algum lugar no mundo das letras com a conquista do direito de ter a própria renda e um teto todo seu. Pois é necessário, segundo a autora, possuir um espaço - ao mesmo tempo físico e metafórico - para que a escrita aflore. Trata-se de um belíssimo texto de uma grande mulher, que acima de "feminismos", propõe que a boa literatura é feita por seres andróginos.
Compartilho o trecho final do texto:
“(...) Minha própria sugestão é um pouco fantástica, admito; prefiro, portanto, colocá-la em forma de ficção. Disse-lhes, no transcorrer deste ensaio, que Shakespeare teve uma irmã; mas não procurem por ela na vida do poeta escrita por Sir Sidney Lee. Ela morreu jovem - ai de nós! Não escreveu uma só palavra. Ela está enterrada onde os ônibus param agora, em frente ao Elephant and Castle. Pois bem, minha crença é que essa poetisa que nunca escreveu uma palavra e que foi enterrada numa encruzilhada ainda vive. Ela vive em vocês e em mim, e em muitas outras mulheres que não estão aqui esta noite, porque estão lavando a louça e pondo os filhos para dormir. Mas ela vive; pois os grandes poetas nunca morrem, são presenças contínuas, precisam apenas da oportunidade de andarem entre nós em carne e osso. Essa oportunidade, segundo penso, começa agora a ficar a seu alcance conferir-lhe. Pois minha crença é que, se vivermos aproximadamente mais um século - e estou falando na vida comum que é a vida real, e não nas vidinhas à parte que vivemos individualmente - e tivermos, cada uma, quinhentas libras por ano e o próprio quarto; se tivermos o hábito da liberdade e a coragem de escrever exatamente o que pensamos; se fugirmos um pouco da sala de estar comum e virmos os seres humanos nem sempre em sua relação uns com os outros, mas em relação à realidade, e também o céu e as árvores ou o que quer que seja, como são; se olharmos mais além do espectro de Milton, pois nenhum ser humano deve tapar o horizonte, se encararmos o fato de que não há nenhum braço em que nos apoiarmos, mas que seguimos sozinhas e que nossa relação é para com o mundo da realidade e não apenas para com o mundo dos homens e das mulheres, então chegará a oportunidade, e o poeta morto que foi a irmã de Shakespeare assumirá o corpo que com tanta freqüência deitou por terra. Extraindo sua vida das vidas das desconhecidas que foram suas precursoras, como antes fez seu irmão, ela nascerá. Quanto a ela chegar sem essa preparação, sem esse esforço de nossa parte, sem essa determinação de que, quando nascer novamente, ela achará possível viver e escrever sua poesia, isso não podemos esperar, pois isso seria impossível. Mas afirmo que ela viria se trabalhássemos por ela, e que trabalhar assim, mesmo na pobreza e na obscuridade, vale a pena.”
Virginia Woolf, outubro de 1928.
***

Março é considerado o "mês da mulher", comemoração que considero deveras muito piegas. Em meio a tantas palavras doces sobre as mulheres, as ideias de Woolf são um sopro de lucidez para nós pobres primas tortas da irmã de Shakespeare.

(Consultado: Woolf, Virginia. Um teto todo seu. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985)