terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Tudo passa, até uva passa


Mudei de casa, de cidade e de estado. Isso em 2003. Fui de São Paulo, capital, para uma cidadezinha no interior de Minas Gerais. Alfenas.

Saí de uma grande escola da locomotiva do Brasil para uma escola pequena, com muita grama no pátio e pessoas que iam para a aula de chinelo. Conheci pessoas ótimas, amigos incríveis e entre um deles estava uma loirinha de cabelo cacheado que me disse a célebre frase e que nunca mais desgrudou da minha cabeça: ‘Tudo passa, até uva passa’.

Eu levo essa frase comigo pois, além de soar engraçada, é quase um mantra.

Estive viajando por dois meses, américa latina afora, e esqueci dos meus caprichos com meu corpo. Esqueci que tinha que cortar o cabelo, abandonei a pedicure no primeiro mês e nos últimos quinze dias também a manicure. Troquei minha cera para depilar por um gilete, o que me causou alergias complicadas. E também deixei de lado a hidratação nos fios, o meu shampoo preferido, o secador de cabelo e o “filha, não durma de cabelo molhado!”. Não é que eu seja muito fresca, mas gosto de me sentir minimamente bonita (o que vem de um largo quadro de auto-estima – bem - baixa).

Enfim, cheguei no Brasil no domingo e hoje resolvi fazer a loca no salão de beleza. Pode cortar! Corta um ou dois dedos, mantenha o mesmo corte, por favor. Reparou que ele é mais curtinho atrás e compridinho da frente? Queria desse jeito mesmo.

Tesoura pra lá, pra cá. E eu de costas pro espelho (grande cagada) fazendo a unha do pé. C’est fini. Cabelo cortado. Do jeitinho que eu queria, só que ao contrário – literalmente. Estava curto na frente, comprido atrás e 4 dedos menor.

A dificuldade de entender isso, gente, juro, não sei. Tá que não é tarefa fácil cortar um cabelo, né. Mas a moça ta aí pra isso né, se propõe a isso, recebe pra isso e faz isso a pelo menos 10 anos. Custava dar ouvidos pra cliente e não brincar de fazer as coisas ao revés?

Ok. Chorei saindo de lá. Chorei no caminho pra outra cabelereira que tentou me consertar. Chorei saindo da outra cabelereira. Chorei entrando em casa. Quando me vi no espelho do banheiro, no reflexo da televisão, na porta do microondas, na webcam com uma amiga. Chorei muito, mas muito.

Quando veio a loirinha cacheada desse meu primeiro parágrafo e disse bem la dentro do meu inconsciente (ou subconsciente, ou consciente mesmo – confesso não saber diferencia-los): Hey, que tanto você chora, menina? Não sabe que tudo passa, até uva passa?

Engoli o choro. Minha mãe bem tinha me falado isso, mas sabe quando você se força a não acreditar? Foi quando lembrei dessa frase, e lembrei que eu já apliquei ela em tantos momentos, mas tantos! E ela é um dos grandes motivos que me levam a não sofrer com muitas coisas. Sofro, claro, como qualquer pessoa sofre. Mas aprendi a sofrer menos, e a deixar passar o sofrimentos e encarar a “tesoura errada” dessa maneira: PASSA. PASSARÁ.

E, realmente, sempre passou. E não digo que sou preguiçosa, muita coisa passou porque eu tive que solucionar. Mas, no fim, passa.

Coisas chatas aconteces. Mas quem decide quanto tempo durará esse sofrimento é você, e só você. Ou eu, no caso do meu cabelo. Já tá passando, tá?


- cheguei do mochilão domingo! desculpa não postas no mês passado, mas estava dentro de um ônibus, onde passei 22 “maravilhosas” horas.

- prometo no mês que vem escrever algo da minha viagem, ok?

- imagem: f.Olb

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Epifania olfativa

A felicidade é pra mim uma combinação de cheiros: cheiro de cloro de piscina, cheiro de fusca e cheiro de própolis de abelha. Na infância, esses três cheiros se juntavam de forma mágica e senti-los era então o que havia de mais feliz. Nessa época, eu fazia aula de natação na escolinha do tio Clóvis. A mãe me levava e nadava comigo. Só que a mãe estava barriguda do irmão mais novo e conforme a barriga da mãe foi crescendo, ela dizia que não podia mais nadar e ela ficava fora da piscina me observando. A piscina era tão grande e eu me sentia tão orgulhosa de nadar sozinha, sem a mãe, que eu até me esquecia que estava usando bóias. No final da aula, a mãe me secava e me vestia com o roupão que tinha o meu nome bordado. Eu colocava os chinelinhos e saía cheirando a cloro, bem forte. Aí eu seguia ansiosa para o fusca amarelo da mãe e quando ela me colocava no banco traseiro, a expectativa era enorme. Ela se sentava no banco do motorista e de repente se virava com aquela que era a minha medalha de ouro da natação: a mamadeira de bico vermelho enrolada no pano de prato, ainda morninha, adoçada com mel e própolis de abelha – era o sabor mais cheiroso do mundo. Eu mamava com gosto, deitada no banco, olhando pelo vidro o céu e imaginando seres fantásticos nas nuvens. Inebriada pelo cheiro triplamente cheiroso, eu adormecia em um sono profundo. Pouco tempo depois, a mãe vendeu o fusca amarelo, eu parei de frequentar a escolinha do tio Clóvis e tive de abandonar a mamadeira, mas os cheiros não se dissiparam da minha memória. Até hoje sinto o coração agitado quando vou à piscina, entro em um fusca ou tomo leite com própolis. Infelizmente, o destino nunca mais combinou esses três cheiros pra mim.   
Da série Horta de Substantivos Abstratos

domingo, 26 de fevereiro de 2012

A pose da imagem

"... A fotografia não revela o mundo como um todo, mas como uma versão dele, cuidadosamente editada. Ela não está presa à verdade em qualquer circunstância que seja, pois está ligada a uma opinião, o que, aliás, a faz mais humana do que mecânica". Vik Muniz

No mês passado, não houve postagem. Não consegui sair do rascunho. Imersa na vivência de dores antigas, acabei por silenciar. Coincidência ou não, no decorrer deste mês, em alguns sites e blogs, deparei-me com textos que discutiam sobre o excesso de felicidade na Internet, sobretudo nos sites de relacionamento. Há toda espécie de "acusações". Li como certo que há quem viaje só para colocar as fotos no facebook. Ou pague mais caro pelo álbum de casamento -  virtual, evidentemente - do que pela festa em si. Pior do que isso só usar as palavras para descrever momentos felizes. Felicidade, como é possível? Neste mundo cão, de notícias tão aterradoras, quem pode se dar ao luxo de ser feliz, ou melhor, dizer a felicidade, mostrar felicidade, a não ser uma pessoa egoísta, leviana...  é o que parecem perguntar - ou acusar esses discursos.
_
O que me incomoda nesses discursos é a pose disfarçada. No momento mesmo em que se denuncia a leviandade do outro, angaria-se para si uma espécie de responsabilidade ou militância para com os flagelos do mundo. O problema é que, de mais a mais, raríssimas vezes essa responsabilidade e/ou militância produzem práticas reais (por falta de melhor definição). Então, sobressai a pose::: mau humor pouco disfarçado ou, pior, mera incapacidade de gostar de gente. Ou como diriam os antigos: pura inveja da felicidade alheia. Afinal, o que se espera? A exposição da dor e da tristeza? Pois há quem faça isso - e muito.  E esse tipo de discurso costuma produzir um efeito pior, pois, convenhamos, o que uma pessoa descontente pode fazer de bom para a humanidade? No momento mesmo em que escrevo, reconheço como seria fácil rebater essa pergunta, pois penso em Kafka, Artaud, Dostoiévski, Thomas Bernhard.. gênios que, por serem atormentados e inconformados, ajudaram a construir nos seus leitores uma consciência dolorosa de mundo, dando-lhes um novo sentido de humano. Por outro lado, resta-nos saber se todos esses que levantam bandeira contra as imagens felizes do mundo virtual estão comprometidos com a própria dor a ponto de fazer dela um impulso criativo ou só sabem mesmo é apontar o dedo em riste num discurso vazio e raivoso em quem não está muito a fim de levantar a bandeira, seja em que direção for.

Enfim, essa postagem não é uma defesa ao direito de ir a Disney e colocar uma foto no facebook vestido de minnie ou mickey. A meu ver, o mínimo que podemos fazer por nós é vivermos bem - no mundo cão, quem precisa ter ao lado alguém que não se permite a alegria genuína, a leseira, a foto em frente à torre eiffel e que ainda sai alardeando que não quis fazer o que todo mundo faz? Melhor ser leso do que ser chato - nem que isso se aplique apenas a quem vive ao redor (do leso ou do chato). Mas a questão não é esta. Quando eu comecei essa postagem eu pretendia apenas dizer do descompasso da ideia de imagem. Pede-se, hoje, da imagem cotidiana o que nunca foi próprio dela. No advento da fotografia, famílias inteiras se reuniam apenas com o intuito de fazer o "retrato de família". E escolhiam a melhor roupa, o lugar mais agradável, com a maior claridade possível. E depois se descobriu que um sorriso, por mais discreto que fosse, fazia grande diferença... Já era um artifício. Pose. Invenção do cotidiano. Na era da internet, isso apenas ganhou mais visibilidade.  Vivemos, de fato, a variação de algo muito antigo.
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Tanto a felicidade quanto a tristeza são sentimentos individuais. Mostrá-los - e qual mostrar - é uma escolha. E eu, pessoalmente, não consigo ver mal algum em quem prefere mostrar o sorriso escancarado. Que diferença faria - e estamos sempre falando de diferença - se, por exemplo, eu expusesse na internet uma briga com o marido ou uma irritação profunda com o casco da casca do casco? Se a escolha for pela veiculação do cotidiano, por que parece ser tão ofensivo expor momentos como os registrados acima: marido cozinhando comida deliciosa... enquanto que, fora da imagem, filho perambula por ali, música boa toca na vitrola... e a fotógrafa mequetrefe (esta que vos escreve) só lesando, registrando, lendo em voz alta, deitando no chão para fotografar os bonecos do filho... Pose sem pose. Invenção do cotidiano. Ainda.
*
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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Com ele.

Dizem que saudade existe para quem sabe ter. Ou, que ela é como fome. Mas, o certo, é que ela vem me buscar. Sempre. A saudade sempre esteve presente na minha vida. Na maioria das vezes, uma saudade não sei de quê que morava dentro de mim. Saudade de um tempo, de uma vida, de um círculo de amizade que não era o meu. Vejo que essa saudade incurável está sendo superada por outra. E, essa sim, faz parte da minha colcha de retalhos. E tem distância. Mais de dois mil quilômetros. Vez ou outra me pego olhando fixamente para o nada. Cada lugar novo, cada paisagem, cada costume que observo, me dá uma imensa vontade de compartilhar. Com ele.


dentro do meu coração
como um choro que não se cala
- ou talvez um pássaro
mora uma tristeza escondida
como se, a cada minuto
se morresse um pouco.
e, ao invés de findar no chão,
é ad aeternum.




sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

E 1 e 2 e 3 e 4!

De uns tempos pra cá, eu tenho especialmente me preocupado com a qualidade do que as pessoas publicam na internet. Não é mistério pra ninguém que falar, até papagaio fala e, com as facilidades que a computadores ligados à internet (e espertofones e televisores etc. etc. etc.) oferecem, não custa nada transformar um pensamento num novo post. Danem-se os diplomas de jornalismo, todos somos editores, críticos, repórteres, analistas nacionais e internacionais. 

Recentemente, vimos a nova mídia preocupadíssima com a apuração do carnaval de São Paulo. De São Paulo, repito. O carnaval. Enfim...prossigamos. O que seria feito dos infratores que destruíram os votos, como ficaria a decisão dos juízes, que punições a escola tal receberia. Apenas assuntos relevantes e fundamentais. Vamos lembrar de algo que não aconteceu tão recentemente assim. A tal da enfermeira que foi filmada agredindo um cachorrinho até matá-lo. "Caça às bruxas" é um termo brando demais pro que aconteceu em seguida. Em vários lugares eu vi fotos da mulher com o endereço, número de telefone, documentos, todos seus dados. Acompanhados das típicas mensagens de "se eu pego, mato" e por aí vai.

Meu problema com isso são dois. Primeiro: as pessoas elegem quase quinzenalmente um assunto contra o qual se rebelarão. E se rebelam com todas as forças. A enfermeira não deve mais poder colocar a cara na rua, sob risco de morte. Ela deve, sim, ser punida pelo que fez. Mas punida pelas autoridades responsáveis por isso. Não por mim nem por você. Muito embora, na maioria das vezes, dê mesmo vontade. 

O segundo problema é que ficou muito fácil castigar alguém. Posso estar levantando uma bola em que ninguém pensou ainda, mas qual a dificuldade em levantar informações de algum desafeto meu, colocá-las na internet, acusá-lo de qualquer coisa e ver o circo pegar fogo? Vingança garantida com a segurança do anonimato. 

Quem se lembra da babá que foi atingida por Lindomar, o SubZero brasileiro? É a mesma história, com em proporções menores. Nesse caso, era só a cidadezinha que estava contra uma pessoa. Atualmente, tudo acontece em escala nacional. É o sujeito que quebra a perna da garota. O salário superfaturado dos deputados. O aumento do preço das passagens. E um monte de gente protestando atrás do computador. Uma série de mobilizações imóveis. Mover um dedo, quem diria?, é muito fácil. A gente clica em "compartilhar" e todos verão como somos cidadãos responsáveis. Mas fica tudo no campo da visão, das imagens. Mais do que isso não cabe na era do virtual. 

Eu critico, mas sou um dos primeiros a colocar absurdos na internet. Quem me conhece sabe do meu gosto (discutível) pra músicas e filmes. Não sou um primor da literatura também. Escrevo meus absurdos e muitas vezes publico-os, pra não perder o momento. A inspiração. Mas faço isso consciente de que não estou prejudicando ninguém. Umas pessoas perdem uns pontos de inteligência, mas é só. 

Aquela antiga frase, "o poder é de vocês", é bem verdadeira. Então pensem nisso. Sério. Pensem. Pensemos.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

If you believed

Queria muito perguntar para meus pais como foi que eu me saí, afinal.
Se eles se orgulham de mim.
Se foi isso que eles sonharam os 9 meses que esperaram para me conhecer e os 32 anos que se seguiram depois disso.
Será que estraguei tudo?

Pra onde vamos quando morremos?
Eu queria conhecer meus avos.
Queria saber de onde vim.

Queria acreditar nas coisas que me dizem,
Que existem pessoas boas,
Que no final tudo dá certo,
Que o amor vence tudo,
Que eles colocaram um homem na lua...




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

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Oi, moçada!

Aqui é a avó do Fefo que está falando. Aquele meu neto disse pra mim que passou o carnaval todo estudando e que não tinha condições de escrever hoje. Acho que ia passar a quarta-feira de cinzas descansando, coitadinho... o menino chegou em frangalhos hoje de manhã me pedindo para escrever no Blog das 30 pessoas no lugar dele. Ele não tava falando coisa com coisa, mas no final deu pra entender... foi até bom... precisava mesmo arrumar alguma coisa pra fazer antes da apuração e meu reumatismo já não me deixa mais ficar zanzando por aí.

Tava pensando cá comigo com meus botões: meu véio também chegava assim em casa toda quarta feira de cinzas, só o filezinho da borboleta de tão acabado. Será que ele também ficava estudando? Aquele desgraçado não sabia nem assinar o nome...

Mas não vou aproveitar esta oportunidade bacana que meu neto me deu pra ficar falando daquele desgraçado! Quem vive de passado é museu e eu sou uma senhora moderna! Sei até usar essa máquina de escrever batuta que meu neto me deu...ah! E como eu me divirto nessa máquina de escrever! É tudo tão organizado. Imaginem vocês que até pra eu poder escrever isso aqui, eles me pediram pra eu colocar o número do meu título ali em cima! Eu que não voto há tanto anos! Ai, ai... que gozado!

E o melhor de tudo é que eu não preciso esperar o pão do William Bonner aparecer na TV pra ficar bem informada com as fofocas do dia. Agora o Bonner escreve os babados lá da máquina de escrever dele e eu consigo ler tudinho aqui na minha própria máquina de escrever! Que moço bom, esse Bonner! Deve passar o dia todo escrevendo, porque haja coisa pra ler nessa máquina! Minha catarata fica até inflamada!

E não tem coisa melhor do que o noticiário nesses dias de folia! As noticia fica tudo mais alegre, o mundo até parece que tá mió! Os políticos, coitadinhos, estão se refazendo da canseira do dia-a-dia atribulado que eles tem, então o Bonner não tem má noticia pra dar pra gente...é tudo alegria! O problema é que é só acabar o carnaval que começam fazer maldade de novo e as tragédia volta a aparecer no noticiário! Coitadinho do meu Bonner!

Ah, será que meu neto vai gostar do que eu to escrevendo aqui na máquina? Ele falou que era pra eu caprichar porque esse monte de brotinho que aparece aqui do lado esquerdo da tela ia ler, mas até agora não disse nada de mais, só disse as coisa que eu vejo e que depois fico matutando... Eu queria mesmo era poder escrever naquelas máquinas de escrever mais moderna que o mão de vaca do meu neto não quer me dar. É uma taubinha com o nome engraçado: "ai pede"...mas pedir o quê? Ai, ai...que gozado! Eu ainda não entendi muito bem como aquilo funciona, mas parece que tem que ficar fazendo carinho nela com o dedo pra ela funcionar...que gracinha! Eu quero! Não sei bem pra que, mas eu quero!

Opa! Achou que ouvi o "Top de 5 segundos"... fico toda eriçada com este barulhinho! Preciso ir, moçada! Foi um prazer bater este papinho com essa meninada tão bonita e cheia de vida!

Um beijo da Dona Noélia Lários




terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

"... os santos e os poetas, talvez."

Não.

Naquele dia não.

Decidiu que ficaria ali deitado o tempo todo. Afinal de contas, quem notaria sua falta?!
Quem perceberia que ele não tinha ido?! Alguém se importaria?!

Ele próprio já não se importava mais.

Cansou de ter de bancar o forte, o que tinha todas as respostas. 

Aprendeu da maneira mais difícil que nunca soube de nada, na verdade.
Mas tudo bem. Agora, já não fazia mais diferença.
Ouvia as conversas lá na rua, o barulho das crianças brincando. Mas ele não levantaria dali naquele dia.

Nem por decreto. De maneira alguma. De jeito nenhum.

Resolveu se entregar ao direito que tinha de sofrer sozinho, já que aqueles que prometeram estar do seu lado para sempre já não estavam cumprindo essa promessa havia tempos.

Não.

Não sairia dali. 

Resolveu ficar com seus pensamentos, suas lembranças, suas dores e angústias. 
Não iria mais se importar. Ninguém se importava mesmo.

Mas por volta do meio-dia...

Olhou para uma folha de papel em branco, sobre a mesa. Um bilhete?! Uma nota?! Alguém se daria ao trabalho de ler?! Não... Nem isso...

Não valeria a pena.

Resolveu que não escreveria mais nada. Até dos dramas havia se cansado.

Ninguém ligava mesmo.
Ninguém percebeu que eram gritos de socorro o que ele registrava. 
E, se perceberam, não se preocuparam em ajudá-lo. 
"Ele que se dane. É adulto, e sabe se cuidar."
Quanta gente já afundou porque fizeram esse juízo delas?!

As pessoas esqueceram que somos crianças que crescemos, com nossos medos, angústias, terrores...
O fato de nos tornarmos adultos já é um motivo pro pânico... 
Não?! 

Não concorda, leitor?!

Desculpe...

Realmente.. Não são todos que pensam assim...

" - Será que os seres humanos percebem a vida enquanto a vivem?!

 - Os seres humanos não... Os santos e os poetas, talvez."

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Do luxo ao lixo

"Olha, vocês mulheres vivem reclamando que os homens estão todos virando gays. Me desculpe, meu amor, mas no meu tempo mulher não era esse bicho selvagem que as de hoje viraram não."
Depois de ouvir essa frase, dita aos berros por um gay à uma amiga na porta de uma balada, comecei a prestar atenção no comportamento das nossas atuais damas. No dia em que ouvi a frase em questão, estava na porta de uma balada onde trabalho como Host esporadicamente. Somente nesse dia consegui perder minha paciência e pedir auxílio da segurança três vezes. Todas as vezes por conta de desordem causada por grupos formados exclusivamente por elas, as mulheres. Um deles, que tinha várias garrafas de bebida nas mãos das integrantes, quebrava as garrafas no chão cada vez que conseguiam esvaziar todo o conteúdo alcoólico de dentro. Depois de cada uma ter caído no chão, revelando tudo o que eu não gostaria de ter visto contido embaixo dos vestidos que usavam, resolveram finalmente entrar na festa, aos tropeços. Dentro da festa, mais tarde, elas eram maioria na fila da enfermaria, aos cantos vomitando, ou sendo carregadas pelas amigas incapazes de se sustentarem sozinhas em cima dos pés descalços, que há muito já se livraram dos saltos que os acomodavam no início. No final da noite vi um dos seguranças comentar com o outro que "hoje em dia, as mulheres estão piores que os homens".
No último final de semana, parei com uns amigos pra comprarmos cervejas em um bar do baixo Augusta (Parte da rua Augusta que liga a Avenida Paulista ao Centro da cidade, considerado pelo Jornal da Globo como "centro nervoso da boemia de São Paulo") quando ouvimos, do lado de fora do bar, um arroto tão alto e nojento como nunca ouvi sequer meu irmão soltar. Obviamente me assustei e olhei pra fora tentando atingir com olhar de repreensão o autor da deselegância. Foi quando ouvi o dono do bar dizer: "Que porca!". "Porcaaaa! Isso foi produzido por uma mulher??!" - perguntei. Foi quando ele me disse: "Sim! As mulheres, hoje em dia, estão bem piores que os homens."
Eu sinceramente só consigo sentir vergonha. Não por estar vendo as mulheres de repente começarem a se comportar como homens, mas por estar vendo as mulheres de repente começarem a se comportar como nem mesmo os homens deveriam. Eu, que sempre fui um apreciador das qualidades femininas, fico tão decepcionado como uma criança quando descobre que o Papai Noel não existe. Pra mim mulher nunca foi pior que homem. Pelo contrário. Pra mim as mulheres sempre foram mais inteligentes por conseguirem fazer tudo que um homem faz, com graça e elegância.
Pra mim as mulheres sempre foram... não são mais.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O toque de um estranho

Entrou na farmácia, comprou uns antigripais. No curto trajeto até o caixa, esqueceu-se do rosto da balconista que recomendou-lhe um Resfenol. Esqueceu-se inclusive da sua voz. No caixa, enquanto buscava a carteira na bolsa, olhou de relance o atendente. Óculos de aros grossos, franja de lado e uma vozinha afetada. “Débito ou crédito?”. Esqueceria dele, também, não fosse o que aconteceria em seguida. “Débito”, respondeu de cabeça baixa, já procurando a maquininha de digitar a senha. Catou a sacolinha e na hora de receber o cartão das mãos do estranho segurou pela pontinha, esperando que ele também lhe entregasse apenas segurando na outra ponta.
Ele então apertou a mão dela entre suas mãos enquanto passava o cartão. “Obrigada e tenha um bom dia”. Ela olhou para ele espantada, mirou-o pela primeira vez nos olhos, muito tenros, não viu nenhuma intenção descabida no gesto, viu apenas uma pessoa que desejava um bom dia a outra espontaneamente, com uma saudação e um toque. O toque, justamente o que a perturbava tanto. Pessoas estranhas não se relam sem qualquer constrangimento. Pessoas estranhas não se tocam, embora uma das formas de transmissão de energia é pelas mãos. Talvez pagando uma massagem cara no Jardins você recebe uma boa dose de energia de um estranho, pensou. Ainda pensava enquanto desviava os olhos e saía tropeçando nas gôndolas para sair logo dali.
Sentiu vontade de chorar.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Calada da noite

São quase 3h da madrugada do dia 15.
A vida parece estar voltando nos eixos.
Exceto, é claro, pelo detalhe (que tem nome e sobrenome) sobre o qual me recuso a escrever.
Mas eu tenho que escrever.
Só que eu estou muito exausta para elaborar qualquer crítica social, econômica, política ou filosófica.
Mentira. 
É que eu só consigo pensar no 'detalhe' mesmo... 
Mas li esses tempos que se a gente não consegue superar algo, que pelo menos aprenda a superar o vicio de falar a respeito.
Esta sou eu, não falando. Por mais 24 horas.






terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Pára o mundo, que eu quero descer ...

"Quero mais. Não estou satisfeito em ser feliz, não fui criado para isso, não é este o meu destino.
 Meu destino é exatamente o contrário." 
Herman Hesse - O lobo da Estepe

Fico me perguntando se todas essas pessoas que eu vejo por ai sorrindo, esbanjando alegria, saúde e vontade de viver, são realmente tudo isso. Me pergunto se elas, assim como eu, não caem de vez em quando numa crise de identidade, numa fase anti-social. Quando olho para essas pessoas, que estão todos os dias felizes, nos bares, com amigos; me questiono se seria melhor ser como elas. E ai eu tento, ponho minha roupa bonita, arrumo o cabelo, passo um lápis no olho, e vou. Compro uma cerveja, divido com os mais chegados, conto minhas últimas novidades, ouço um pouco as deles, a cerveja acaba e o assunto também."Mas calma aí, não faz nem 20 minutos que você estava lá!". Pois é, tá aí o problema, na incompatibilidade de almas. Não dá pra forçar a alma, o espirito a se sentir bem num local que não foi feito pra ela. 


Então eu volto pra casa, tiro minha roupa, tomo um banho, ponho minha velha e boa camiseta, e assumo pra mim mesma que é assim que tem que ser. É impossível ser feliz o tempo inteiro, e eu não to afim de sair por ai distribuindo sorrisos falsos. Coloco minha velha música, leio o bom livro que um amigo querido que indicou, e me sinto em paz. A paz que eu gosto de ter! 


Se me perguntam por que estou distante, respondo que é uma fase. Às vezes ela realmente passa, e eu caio na diversão. Aí me bate de novo o vazio, e eu volto pro meu canto de Lôbo da Estepe. Não me odeiem por isso, não me amem por isso. Apenas saibam que eu existo, e sou assim! 


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A felicidade em um clic duplo

Tenho tido alguns dias difíceis. Ando descontente e inconformado com várias coisas.

Fico a todo momento pensando numa forma de ser mais empreendedor, corajoso, visionário.

Antes mesmo do primeiro bocejo já estou esquematizando a armadilha e a arma mais eficaz para matar o leão do dia.

Divago, passo o tempo sonhando. Faço planos pela rua e imagino absurdos. Fica tudo nos planos.

No outro dia recomeço de onde fechei os olhos, depois da oração da noite.

Quase tudo se perde no etéreo.

Mas, hoje pela manhã, lembrei de um texto que li sobre e-mails que recebemos diariamente e fui conferir os meus.

Realmente não ta fácil pra ninguém...ninguém que não queira facilidade.

A vida não é cruel e injusta; é mais simples do que a gente imagina. Do orgasmo ao céu em apenas um clic.

Abaixo alguns dos e-mails da minha caixa de spam:

A melhor pílula do amor para os homens.

Como se tornar o mais famoso do facebook.

Os melhores produtos para aumentar o pênis na melhor loja virtual.

Descubra como sair do SERASA sem pagar nada por isso.

A Cielo tem a honra de te presentear.

Saiba qual a dieta dos famosos.

Perca 8 kg em uma semana.

Ganhe dinheiro sem sair de casa.

27 chás milagrosos.

O segredo da barriga tanquinho.

Não fique sem Viagra.

A verdadeira solução para a calvície.

Enlarge your penis Now.

Lindas acompanhantes.

Dor no ciático nunca mais.

Ou hoje em dia está tudo muito fácil mesmo;

Ou as pessoas estão cada vez mais idiotas;

Ou eu que complico tudo realmente.

E no seu e-mail? Qual a promessa do dia? Conta aí.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Tava difícil para ela ? Pra quem não está?

De novo uma celebridade morre em circunstâncias estranhas,agora foi a Whitney Houston.Vamos ter uma overdose de suas músicas e programas sobre sua vida.Não sou fã dela,mas no mar de tédio e mediocridade que a humanidade navega ela realmente tinha um grande talento.
Poderia chegar aqui e dizer que estou morrendo de dó,já que ela morreu aos 48 anos,o auge da vida.Mas ao meu ver ela fez uma escolha, a qual todos somos obrigados a escolher cada segundo da nossa vida.Temos que escolher segurar a corda ou soltar.
Muitos podem chegar ao mundo com dinheiro ou com talento o suficiente para fazer dinheiro e fama.Mas ninguém chega ao mundo com uma corda que ajude a segurar a própria cabeça.Esse é o desafio de todos, nadar no mar aberto, mantendo a cabeça para fora da água.
Vão dizer que ela bebia, usava drogas e remédios porque não agüentava a pressão de ser quem era.
Tem alguém ai que agüente bem a pressão de ser quem é ? Para alguém está fácil ? Ela não agüentava ser pressionada e quantos agüentam?
Mas é difícil ser estrela com todo mundo te vigiando! Também é difícil trabalhar para pagar creche, escola, condomínio ,luz, impostos ......
Não choro e não lamento a morte de ninguém assim.Não tenho o talento dela nem o dinheiro,mas também tenho meus desafios e também tenho vontade de tomar um porre e dormir na banheira, se isso me fizesse esquecer algumas coisas ruins que carrego.
Como diz meu irmão- Este mundo não é para amadores !
Todos chegamos amadores e rapidamente somos obrigados a virar profissionais da vida,tem gente tão esperta que faz doutorado disso e consegue viver muito bem.
Segurar a cabeça é a mesma coisa para todo mundo.A cabeça pesa e rara vez pede a mesma coisa que o corpo.Mas é a única coisa que temos em comum.Os desafios são diferentes,mas todos somos obrigados a segurar nossa onda, para não sermos  levados pelo mar.
Ela tinha tudo e poderia ter tido mais.Ah, coitadinha, não sabemos da infância dela! Linha favorita das psicólogas.É mesmo? Bom, todos passamos pela infância e nem por isso saímos ilesos.Passado não justifica mais erros do presente e do futuro.Já sabemos que todo mundo tem seus traumas e não serve de nada ficar remoendo,não existe cura ainda para essas sombras.

Não acredito nessas lendas que separam divas de seres humanos,para mim somos todos iguais e vivemos na corda bamba.É doloroso para todos a adaptação a este mundo.Ela não resistiu,mas quantos de nós resistem e sem tudo o que ela tinha?O mundo estava aos seus pés,tinha jeito de pedir ajuda,de tentar se levantar.Ah,mas com certeza ela tentou.Mas quem não tenta todos os dias?
Eu não tenho pena porque sei que todos nós temos nosso inferno interno,se eu tiver que ter pena vai ser de alguém que não tem como se levantar ou não conta com tanto apoio.
Alguém vai dizer que ela foi fraca.Todos somos.Mas ela errou em alguma coisa e nessa hora a vida acabou.Quantos já arriscamos a vida fazendo besteiras e nem sabemos como saímos vivos dali ?
Não me comove em nada sua morte,nem da Amy Winehouse,nem de ninguém que morra assim.Agradeço o talento deixado aqui e o legado.Mas eu acordo todos os dias da mesma maneira que elas acordavam.Não tenho uma equipe ao pé da minha cama,mas tenho meus demônios para enfrentar , assim como elas.Todos os dias me controlo,tento escolher a melhor coisa para aquele momento, muitas vezes erro,mas tento.
Talvez seja uma das lições da vida.Não interessa o talento que você tem, nem a capacidade de comover alguém ou fazer dinheiro,o que interessa aqui é quem consegue ficar mais tempo neste mundo criando,vivendo e mantendo a cabeça fora da águ.Porque nisso existe justiça, todos nós sentimos as ondas que tentam nos arrastar,todos nós sentimos a areia debaixo dos pés se desfazendo,todos nós sentimos o frio da água.E não tem ninguém para ajudar.A única coisa que nos garante a sobrevivência é manter a cabeça no lugar,fora da água e longe dos tubarões.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Amar é dar o direito de redizer e refazer

Ando... ando... ando... saio da faculdade e vou caminhando a esmo. Sem rumo, sem destino. Assim, também parece estar meu coração, sem norte. O sol começa a cair. Creio que ele está mais triste do que eu, por isso prefere recolher-se. Mas antes me presenteia com um misto de cores amarelo, laranja, azul, cinza... Recordo das bandejas de tintas das aulas de desenhos. Cada cor simboliza uma possibilidade. No entanto, as cores não me falam nada. Ou melhor, elas se calam. Por quê? Pelo simples fato dessa caminhada está sendo feita sozinha. Não te tenho ao meu lado. O percurso que fazíamos juntos depois da aula... percurso recheado de abraços, afagos, risadas, beijos... Passei em frente daquele banquinho onde costumávamos sentar. Banco que foi testemunha, cúmplice de tantas juras e promessas de amor. Banco que chegou a ser confidente na sua ausência. Sim, sentei sozinho lá. Buscando naquele espaço físico o espaço afetivo que faltava aqui dentro. Espaço que tinha nome e sobrenome. Porém, as dores das brigas não me deixaram sentir a presença demarcada no banco ao meu lado. Hoje, depois da nossa briga de ontem à noite eu sentei no mesmo banco. Chorei as mesmas queixas. Mas havia um vazio maior. Uma duvidosa certeza se voltaria a te ter bem aqui. Nesse mesmo banco... do meu lado. As horas passam. O sol sem despedir-se já se foi. A noite chegou silenciosa para não incomodar. Gentil e educada como todas as noites. Um espaço é ocupado. Alguém senta no banco. Enxugo o rosto. Levanto a cabeça. E nesse milésimo de segundo uma cor de esperança e um sentimento de certeza invade o meu peito. Contudo, o cheiro de decepção chega com o vento. Olho do lado. Não é você. Meio sem jeito. Sem saber o que fazer, o que dizer saio andando rapidamente. Continuo caminhando até chegar a minha casa. E uma surpresa... Ao longe vejo alguém parado em minha porta. Ao longe reconheço você. Um misto de dor, alegria, raiva toma conta de mim. Aproximo sem saber o que dizer ou fazer. Você dá um sorriso amarelo, sem graça. E eu, no auge da minha raiva e razão, pergunto o que você faz ali depois da noite de ontem. Depois de tudo o que me disse, depois de tanta dor e solidão como ousa estar ali?! Falo com raiva. Tremo. Choro. Você escuta tudo. E no final diz: “Vim te pedir desculpas”. E eu alego que não sou palhaço onde você pinta e borda e depois volta para mim. Cheio de razão penso estar dando um ponto final nessa dor. E você, acertadamente diz: “Perdão, não quero perder o seu amor. Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Errei. Sim, eu errei. Mas foram 25 anos da vida amando dessa forma. Minha. Errada. Estou aqui para aprender a amar com você”. Nesse momento, a muralha da China construída em meu coração cai com uma lágrima. E descubro que amar é mais do que perdoar ou ter razão. Amar é também dar a chance do outro redizer e refazer o próprio amor.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

MINDFUCKS da vida real


Ano 2000, eu fazia cursinho no extinto Universitário Tatuapé.

Eu e uma amiga do colégio, querianmos passar na USP ou na UNESP (...)

Um dia num intervalo sentamos em um banco em frente a sala, um caminhão chegou e vários homens começaram a descarregar caixas cheias de apostilas, formando uma pilha enorme na nossa frente. Depois foram embora, entregar o restante em outras unidades.





terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Hora do Balanço

Eu -como a grande maioria aqui, acredito - tenho o meu blog pessoal, o “Diz...” , como carinhosamente o chamo.  Se você perguntar em qual categoria ele se encaixa, vou coçar a cabeça, pensar e não conseguir responder.  A verdade é que, como na vida, sou um “escritor” (ah, presunção) digamos...  que palavra poderia usar para falar que gosto de tudo e de nada, ao mesmo tempo? Diversificado?  Ah, sei lá.  O fato é que meus textos são um pouco de cada coisa:  há relatos de minha vida, pequenas histórias que conto - a maioria bem sacana -, críticas de música e cinema, observação do mundo...

Desses textos todos, os mais comentados, com certeza, foram aqueles que tinham um pé na sacanagem.  Mas, curiosamente, graças à uma dessas ferramentas que medem acesso ao blog, descobri que o texto mais lido não tinha nada de safadeza.  Foi uma postagem que fiz, há exato um ano, onde, a partir de uma rápida sinopse do livro “Com Licença, Eu Vou À Luta”, da Eliane Maciel, fiz uma pequena reflexão da minha vida e do que esperava dela a partir de então.

Um ano depois, decido contabilizar o que conquistei e  o que perdi e percebo, com alívio, que não houve perdas. Significativas, pelo menos. O que, teoricamente, perdi, era aquilo que não me servia mais, que quis, por vontade própria, deixar para trás, no meio do caminho.  Gozado como a gente se reinventa, sempre.  Quem diria que eu, do alto dos meus trintinha, ainda estaria recomeçando, parando, observando, pensando qual caminho tomar - e tomando um novo, totalmente diferente do que poderia supor?

Cada vez me convencendo mais que essa é a graça da vida.  E se isso é viver, acho que tenho feito um bom trabalho...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Vamos lá: eu digo “Florence” e vocês respondem “Welch!”

Ela deu entrevista para Zeca Camargo no Fantástico. Ela fez a platéia do Summer Soul Festival em São Paulo sair extasiada de seu show de pouco mais de uma hora, com transmissão ao vivo pela MTV Brasil para quem não pôde estar lá e presenciar o momento mágico. Se, a essa altura do campeonato, você leitor brasileiro não sabe quem é Florence Welch, você defnitivamente não sabe o que está perdendo.

Linda, ruiva, britânica, com uma voz de fazer tremer as paredes, timbre único e sensibilidade de interpretação impressionante, apoiada por uma banda primorosa que ela batizou The Machine, Florence, do alto de seus 25 anos, assume facilmente o posto de novo ato musical mais comentado desde que Lady Gaga surgiu para o mundo em 2008. E não é por menos. Assim como Gaga, que veio para sacudir o mundo pop com seu jogo de uma-surpresa-por-minuto, Florence é uma artista única.

Ela e o The Machine reascenderam o interesse do público jovem pela música alternativa, e esse processo vem acontecendo desde 2009, com o lançamento de Lungs, seu disco de estréia. O hit Dog Days Are Over a fez uma voz familiar, mas é com esse segundo empreendimento em estúdio, o Ceremonials (lançado no final do ano passado), que a britânica e sua banda se estabeleceram como mais uma voz para uma geração que parece adorar ser ouvida através de boa música.

A música celta, o gospel americano, a Motown dos anos 60 e os trechos de vocais em que Florence mostra-se uma cantora de soul por excelência constróem a essência da banda, mas como qualquer bom ato pop, a lista de influências não define tudo o que o Florence + The Machine representa: trata-se de uma proposta nova e original, fresca e interessante, que merece ser ouvida. É o tipo de música que precisa crescer dentro de quem ouve para ser capaz de emocionar. E consegue.

Talvez ainda não seja um nome conhecido no mainstream, e talvez nem deva ser. Mas é certo que, no meio em que circula toda uma geração (a Internet de hypes relativos e visualizações no YouTube), o Florence + The Machine cavou seu espaço. Com todo o mérito possível e imaginável, diga-se de passagem.

And I am done with my graceless heart, so tonight I’m gonna cut it out and then restart. ♫

Bom Fevereiro pra todo mundo. ;D

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O TEATRO KABUKI DOS AMANTES LIGEIROS

por Gilberto Amendola

Ela lava as mãos sem me olhar na cara. Me encosto na pia tentando encontrar outro ponto de atenção. Tem o barulho da água, o som da geladeira e mais nada. 
A regra é evitar o repertório melodramático, esquecer nossas raízes latinas e agir como se fossemos Sartre e Simone.
Ela acende um cigarro.Seguro meu impulso em denunciar um tão escandaloso clichê: o cigarro, a fumaça e a separação. 
Ela vai falar primeiro.Tenho medo de que venha com alguma citação que eu não possa decifrar. Ela não sabe, mas eu nunca terminei de ler Proust.
 – Então...
  Abro a geladeira para que ela não repare nos meus olhos que começaram a marejar.
 – Eu queria encontrar um jeito melhor de começar essa conversa... Você sabe...Eu sei. Tenho completa noção do que virá a seguir. Conheço todas as evasivas, as metáforas e a cadência da respiração alheia quando o que se quer dizer é “chega”, “basta”, “terminou” ou “estou saindo com o orientador do meu doutorado em semiótica aplicada à obra de Thomas Mann”.
Bato a porta da geladeira. Ela se assusta. Disfarço – como se aquilo não tivesse sido um sintoma de irritação.
O ímã que uso para prender panfletos de delivery (um suposto pedaço do muro de Berlim) cai no chão. Acho um assunto.
 – Margherita ou peperoni? – brinco, sem convicção. 
– Mais tarde – ela responde, iludindo-se com a minha capacidade de absorver um golpe como esse de forma civilizada. 
(...)
Quem vai sair de casa sou eu. Não por superioridade moral ou alguma bobagem do tipo.
 O apartamento é dela. A TV de plasma é dela; o micro-ondas é dela. Só o videogame é meu.
 É difícil me despedir desse lugar. Podia jogar tudo o que tenho dentro da mala em quinze minutos, mas faço tudo de forma estilizada e lenta, como se fosse um ator ensaiando o seu primeiro kabuki.
Nada mal para quem acaba de ter uma conversa ríspida sobre “confiança”, “consideração” e “chifre”. 
Não, somos educados demais para usar esse termo. Quem leva “chifre” é porteiro de prédio, doméstica, trabalhador braçal e afins. Tratamos disso como um desencontro infeliz, algo que duas pessoas sensíveis, humanistas e poliglotas podem superar.
(...)
Estava tentando fechar a mala – empurrando as roupas de forma atabalhoada para dentro –, quando me veio uma questão: “Mas justo com o almofadinha, arrogante e escroque do doutor em semiótica?” Pois é...Retrocedo no meu afã de mártir cristão quando recordo de duas ou três escapadas, dois ou três casinhos que nunca chamei de traição. Sexo casual e ligeiro.
(...)
Eu sempre imaginei esse momento com trilha sonora. Mas nosso gosto musical é tão pedante, tão cuidadosamente estudado para nos fazer parecer inteligentes. Quem vai querer ouvir Philip Glass numa hora dessas? Quem?
Vou ligar o rádio no AM e esperar alguma música de verdade, alguma coisa que rime amor e dor e flor – e tenha uma segunda voz cantando em falsete.
(...)
Amigos vão nos manter afastados. Se a Mariana for no casamento da Lívia, o Marco não vai; se o Marco for no aniversário do Léo, a Mariana não será convidada. Mas, com o tempo, a vigilância irá afrouxar. Vamos nos esbarrar na saída de um cinema ou em uma manifestação contra a presença da Polícia Militar na USP. 
(...)
No futuro, você vai me apresentar seu filhinho de cinco anos – talvez no mesmo dia em que eu estiver começando um relacionamento com uma aspirante a atriz e autora de poemas eróticos.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Como descobrir se você está velho usando um simples achocolatado



1- Você sabe que está velho quando sente vontade de tomar um achocolatado e descobre que não existe mais esse produto na sua residência. Simples assim.

2- Você sabe que está velho quando resolve comprar um acholatado pronto, desses de caixinha, e se pega olhando a tabela nutritiva.

3-Você sabe que está velho quando olha a tabela nutritiva e se choca com a quantidade de açúcar e gordura concentrada naquela pequena caixa.

4- Você sabe que está velho quando volta pra casa e toma leite puro, sem o achocolatado mesmo, pois afinal você precisa garantir a quantidade de cálcio do dia.

5-Por fim, desde o inicio já dava pra saber que você está irremediavelmente velho, desde o momento que deixou de falar Toddy e Nescau para falar apenas achocolatado.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Motoristas orgulhosos

Você está dirigindo na pista do meio. Boa velocidade. Nem devagar nem rápido demais. Você olha no retrovisor e vê um carro na mesma velocidade, um pouco próximo mas não tão próximo, só que na pista à sua direita. Pouco depois você se dá conta de que precisa pegar a mesma pista deste carro que você olhou no retrovisor para não perder um retorno. Você ainda tem algum tempo pra trocar de pista. Então você vai lá, atocha o pé no acelerador, coloca a seta e começa o processo de conversão de pista. Bastava o outro carro manter a velocidade que ele estava desde o início dessa crônica, ou mesmo antes do seu início, que tudo daria certo. Mas não. O nosso amigo é orgulhoso. Pra ele não ia fazer a menor diferença ser ultrapassado, aquilo não era uma corrida de Fórmula 1, mas ele atocha mais ainda o pé no acelerador, você vai lá, pisa mais forte ainda. Um duelo bizarro em pleno sábado de sol, às três horas da tarde. No fim das contas, para não perder a saída, você desacelera e deixa ele passar.

É só comigo que acontece isso?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

um ano

_1:
eu queria te escrever uma poesia, mas só saiu um conto erótico mesmo. a gentileza ao me deixar entrar primeiro no ônibus, um sorriso educado na hora de pegar mais uma bebida na cozinha da amiga em comum. drogas. vila madalena. quer ser meu amigo no facebook?

_2:
chuva, bloco do baixo augusta, sp. voodoohop de domingo e uma varanda. esse beijo demorou, eim. por acaso eu esqueci meu boné com você? seu boné tá comigo, vamos nos encontrar e eu te devolvo? galeria vermelho, macarrão, banho frio, abraço quente.

_3:
itaú cultural, masp, mac, mam. vamo pro netão? acho que as coisas não estão bem, melhor ficarmos longe essa noite. que diabos você tem que todos os meus amigos gostam de você? mudei, vem conhecer minha casa nova.

_4:
se eu já não estivesse apaixonado, me apaixonaria por você essa noite. eu te odeio, você me odeia. a gente se ama.

_5:


_6:
e eu só posso dizer sou mais feliz com você, meu melhor presente de carnaval.