sábado, 22 de janeiro de 2011

E se, em vez de conversar, nós cantássemos?

Eu sou cinéfilo assumido. Adoro ver filmes, vejo-os sempre, acordo e durmo pensando nos filmes que eu vou ver ao longo do dia. Confesso: não há filme que eu não veja. Pode ser que eu torça o nariz a princípio, pode ser que eu definitivamente não queira vê-lo – mas o vejo mesmo assim. Sempre há algo para aprender com um filme, mesmo que ele seja ruim – ou muito ruim, às vezes.

Quero com esse texto expressar a minha simpatia por um gênero de filme: os musicais. Eu sei que muitos simplesmente não gostam de títulos como Cantando na Chuva, Minha Bela Dama, Hair, Moulin Rouge, Chicago e muitos outros, que não vou colocar aqui a fim de economizar espaço e deixar esse texto mais dinâmico. Eu sei também que as pessoas reclamam bastante desses filmes porque eles retratam uma realidade que, honestamente, em nada se parece com a realidade, a não ser que um de nós chega à padaria, pede três pães franceses e a atendente dá saltos e piruetas, embaladas por uma alegre canção, em vez de simplesmente atender o seu pedido, recolher o dinheiro e lhe entregar o produto.

Admito: os filmes musicais não são verossímeis. No entanto, refuto minha própria afirmação: eles trabalham com a verossimilhança, tanto quanto qualquer outro filme de qualquer outro gênero. Pode parecer paradoxal, mas não há engano – essa é a estrutura dos musicais, eles trabalham com uma constante estilização da realidade, transformam-na em um elemento muito artístico, cujo efeito estético é notável tanto nos espectadores que gostam quanto nos que não gostam de toda aquela cantoria e toda aquela dança em vez de um desenvolvimento “convencional” do roteiro. Mas eu insisto: a distorção da realidade é para o filme musical o que a escuridão é para os filmes de terror. Até porque, sejamos sinceros, ninguém vive na escuridão impositiva que os filmes de terror nos mostram. Aí me deparo com quem adora personagens que acordam e, assustados, andam no escuro absoluto pela casa, mas criticam ferozmente os personagens que, sentados à mesa de um restaurante, simplesmente cantam. Desculpem-me, para mim isso é incoerente!

Conheço uma pessoa, não citarei nomes, ela talvez nunca leia esse texto. Essa pessoa adora espetáculos de balé; entretém-se ao ver aquelas lindas bailarinas numa sequência ininterrupta de piruetes fuetés, admira quando os rapazes jogam seus corpos ao ar, criando um perfeito tour em l’air. Essa pessoa principalmente compreende a finalidade do balé: representar através de movimentos corporais toda a história daqueles personagens e captar a emoção deles, trazendo-a para os seus atos. O balé, então, é uma representação artística de uma realidade. Curiosamente, essa pessoa não gosta – detesta, na verdade – os filmes musicais. E eu honestamente não entendo, haja vista que os números de canto e dança em filmes como Rent e A Noviça Rebelde são apenas formas alternativas de representar as realidades desses filmes – tal como o balé faz.

Além disso, eu gosto de gênero de filme porque ele é capaz de me mostrar outro lado da vida, um lado mais bonito. Eu honestamente gostaria de abrir o portão de casa, sair à rua e ser acompanhado numa canção por um grupo alegre de vizinhos gentis. E devemos admitir que é facílimo ser acompanhado nesses filmes: todos sabem a canção, todos conhecem o refrão da música, todos dançam tango – o que pode haver de mais bonito? E os personagens – protagonistas ou figurantes – transformam-se numa massa dançante, da qual sai um som vibrante e contagioso; assim, alego que os filmes musicais são também bastante democráticos. Enfim, não vou me estender mais, mas quero que fique claro: ver Satine cantando Elton John, presenciar Velma no Cell Block Tango e acompanhar a marcha pela desigualdade de Hairspray são momentos incomparáveis. Ouso ainda mais: invejáveis. Só pra constar: também sou simpático à causa das comédias românticas, mas sobre essas eu falo numa próxima vez.

6 comentários:

  1. Moulin Rouge foi o melhor filme que já assisti!
    Eu sou louca por filmes tbm, principalmente musicais.
    É como vc expressou em suas palavras, eles mostram um lado da vida mais bonito que COM CERTEZA qualquer um gostaria de ter.

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  2. Gozado. Isso me lembrou uma música do Legião Urbana que dizia que a vida deveria ser como um musical dos anos 30.

    Concordo com sua teoria, sempre compartilhei dela. Como fã ardoroso do gênero, penso que seria maravilhoso cantar em vez de conversar. Desde que a conversa fosse composta por Rodgers e Hammerstein... ;)

    Agora, algo aqui me lembrou um musical diferente: Dançando no escuro do Van Sant, vai meio de encontro ao que pensamos. Lembro da protagonista, Selma, afirmando que gostava de musicais porque, neles, tudo dava sempre certo. Van Sant, no entanto, pareceu disposto a negar essa teoria e fez um musical em que tudo dá errado. Por isso que, embora goste do filme, o odeie enquanto musical.

    Por isso, querido, cantemos na chuva o Do-Ré-Mi, que eu também canto daqui Your Song, feita especialmente pra você...

    =)

    Beijo e parabéns pela postagem!

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  3. Fico meio constrangido com a idéia de minha vida ser um musical. Já passou pela minha cabeça pensamentos do tipo "e se agora alguém começasse a cantar?" em situações extremamente bizarras; eu acho que sairia da cena e ficaria num canto até o povo terminar a apresentação.

    Tem um filme de comédiazinha americano que eu não lembro o nome agora (e sei também que não é uma grande referência pra compartilhar) que os caras exploram o momento em que a música acaba, e as pessoas não sabem mais o que fazer.

    Consegue imaginar a cara da sua atendente da padaria depois de saltitar (provavelmente com você) alegremente enquanto embala os pães? "er, são, hun, 2 reais" ela vai dizer constrangida e ofegante.

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  4. Adorei a postagem, e dou apoio a todos os defensores do gênero musical. Para começar, identifico-me completamente com o primeiro parágrafo e concordo plenamente quanto a verossimilhança. Todos os filmes necessitam que parta do espectador essa vontade de adentrar o mundo criado, afinal, são poucos os filmes nus e crus como a realidade.

    Moulin Rouge é incrível, com aquelas infindáveis citações, Chicago tem uma sofisticação que é só dele, O Mágico de Oz com a Dorothy qye canta Over The Rainbow ou até o marcante som de "the hills are alive with the sound of music" que entoa a Noviça Rebelde. E, por fim, digam, não são adoráveis todos os sorrisos, danças e músicas em Singin' In The Rain?

    E aguardo o texto sobre as comédias românticas. Um abraço.

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  5. Muito bom o post, relamente é bem interessante, os musicais por si bastam. O efeito que nos causa e sem palavras a vida se passando ali em nossa frente.muito showwwww.Anderson

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  6. eu tabem gosto muito de ver filmes adoro muito legal demais,eu viajo entre os filmes

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