sábado, 20 de março de 2010

Ensaio para a velhice

Estou vendo o tempo passar e não sei o que isso quer dizer.

Vejo o contraste da virilidade presente em meu pai nos retratos antigos com os cabelos grisalhos da realidade que se põe a minha frente.

Quando pequeno, prometi para mim mesmo que, mesmo na inevitável ruptura com a idade tenra, conservaria em mim a vitalidade pura e sincera das crianças, unida a insaciável sede de viver pelas coisas boas e simples, sempre.

Hoje, aos 30, me afundei na ilusão de que estava perdendo o controle da situação. “A Crise” veio diante do espelho, que me insultava com sua franqueza ao expor que nada é eterno.

Essência? sabedoria? experiência? O que nos faz maduros? Os anos que se passam? A seriedade para o ato de trabalhar/viver/trabalhar? Esquecer a vida, esquecer o passado.

Não pai, não é por esse caminho que vou. Não quero chegar ao fim da vida com tristeza nos olhos, mas também não quero decepcionar aqueles que depositam em mim a esperança de que um dia crescerei.

Fiz minha escolha, num pacote completo com todos os erros e acertos, toda a dor e prazer, toda facilidade e dificuldade. Nem pior nem melhor, apenas um caminho.

8 comentários:

  1. Uau, lindo texto. Tbm mantenho esse sonho de conservar a "vitalidade pura e sincera das crianças", mas já não posso mais dar piruetas de ginástica olímpica como antigamente. Só algumas poucas e com toda minha vagareza. Será q chego aos 30 ainda capaz de fazer essas coisas?

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  2. oq nos faz maduros...

    a pergunta sem resposta...
    pq esquecer demais tb é imaturidade

    =/

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  3. eu pensava que seria pura e sincera pra sempre. "qual o que?"

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  4. Estou um tanto mais desiludido. As coisas não foram/nao vão pelos caminhos que deveriam. E é preciso reinventar-se continuamente. Viver é duro, uma experiência intensa, boa, mas devastadora. E seguimos.

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  5. Sabe, quando eu fiz 30 me deu esse desespero: "O que eu fiz com a minha vida? Não era assim que eu sonhava as coisas pra mim.
    E assim passei pela década dos 30...
    Sentindo que minha juventude tinha acabado e eu tinha ficado pra trás.
    Quando fiz 40 pensei:
    Não me sinto velha, não pareço velha e realmente não sou nem um pouco velha de forma nenhuma.
    Assim, tenha paciência.
    Com 30 parece que o mundo acabou, mas com 40 bem resolvidos você vê que ele só começou!
    Delícia ser maduro e dono de si!

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  6. Será que o que nos faz maduros é o mesmo que nos faz podres?

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Belo. É bem verdade que os fios de cabelo desertores no travesseiro toda manhã, as ruguinhas surgindo como uma simpática Dona Morte a dizer olá, tudo indica o inexorável fim. Inventamos, há poucas décadas, a velhice. A velhice não existia, a não ser para poucos. Agora, em vez de 40 anos, vivemos 80, 90 - dos quais mais da metade sob a angústia de olhar no espelho e só ver perdas. Envelhecer é bizarro, é o corpo estranhando a hora extra.

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