segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Num momento


Quo vadis Tempus fugit?

Pequenos papeis picados, aros de oculos, rugas, lenços bordados, terno escuro, cachimbo, cadeira de balanço, jornal. Poeira suavemente flutuante no ar sendo iluminada pela luz do sol, na penumbra. Silencio. Silencio gelado de igreja, silencio com som de madeira, silencio cortado pelo tiquetaquear vagaroso do cuco na sala de jantar. Cilios. Olhos. Sobrancelha. Enfeites de natal. Chocolate no ar. Sino da igreja. Longe. Galo cantando, longe, barulho de agua, longe, fumaça, nuvem, lua, sol.
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Nunca poderia pensar. Não nasceu para pensar. Não nasceu. Havia sido construido.
Movimentava-se. Parava. Nunca morreria... mas poderia ainda, ser desativado.
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Tralhas, porcarias, babiloques, percevejos, clips, filmes velhos, slides, selos, dados, cortador de unha, parafusos, bitucas, cds, comprimidos, pilhas, camisinhas, gameboy, estetoscopio, latinhas, livros, caixinhas, compasso, iPod, colher, mapas, batata frita, canivete, globo, notas fiscais, perfume, lanterna, controle remoto, despertador. A gaveta fecha fora fica um barbante.
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Uma aranha andava por sua perna lentamente, olhou de novo e viu uma sombra, olhou mais de perto e viu que sua perna estava suja de carvão, examinou mais ainda e percebeu que aquela coisa escura em sua perna era um hematoma.

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As pessoas se parecem as vezes com edificios. Grandes, pequenos, ricos, humildes, solidos, frageis, grandiosos, fora de moda, modernos, desejaveis, insuportaveis, misteriosos, pateticos, imponentes, frios, elegantes, charmosos, desengonçados, magicos, curiosos, malditos, bonitos, feios, altos, baixos, imundos, limpos, isolados, alegres, iluminados. Existem ainda pessoas confortaveis ou espaçosas, edificios nervosos ou tristes.
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A medida que ia envelhecendo, não deixava de manter aquele ar retrô e aquela aparencia nobre que só o tempo confere. Não poderia no entanto mais estar ali, naquele mesmo lugar, onde tudo era moderno. Sua presença anacrônica incitava inquietação.

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Trabalhou 57 anos naquele predio, agora os dois iriam desaparecer. Ali seria construido um shopping center com muitos funcionarios novos e temporarios.

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Foram quase 1900 anos depois de Cristo que descobrimos o conforto. A luz eletrica é o maior bem tecnologico da humanidade, a mais importante descoberta depois do fogo. A luz eletrica dá independencia divina e prepara a humanidade para uma incrivel jornada. Os primeiros passos cosmicos sob suas proprias pernas. A humanidade sai do primario e entra para o ginasio.
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3 comentários:

  1. obrigado pelos comentarios meus amigos. Todavia é o penultimo post neste Blog, o proximo me despedirei. Não gosto de F1, futebol, samba, cachaça, forró... me sinto meio deslocado aqui. Anyway, bjs pra vcs que foram tolerantes e leram meu texto.

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