segunda-feira, 6 de julho de 2009

Segunda-Feira



Pulou da cama num salto só. Nem parecia que era segunda-feira e que lá fora chovia e fazia um frio tremendo.
Catou suas coisas e foi para o chuveiro, era necessário se apressar, o tempo passava voando e não queria perder um segundo se quer.
Era incomum, pois na maioria dos casos as pessoas odeiam a segunda, mas ele não, ficava radiante.
Vestiu a roupa mais bonita que tinha, se perfumou, colocou sapatos bem lustrados, ajeitou seus óculos e se olhou algumas vezes no espelho. Segunda-feira era o dia que ele se sentia mais bonito.
Colocou seu sobretudo, pegou seu guarda-chuva, saiu do quarto, trancou a porta, foi para a saída e se dirigiu ao metrô.
Conseguiu pegar a mesma linha de todas as segundas, sentou no mesmo banco de sempre, estava ansioso para a próxima parada. Todas as pessoas que embarcavam naquela parada entraram, menos uma.
Ficou desolado, desde que a conhecerá nunca havia falhado uma segunda-feira. Era sagrado, segunda era o dia de encontrar a mulher mais amável e frágil que já virá em toda a sua vida, mas ela não entrou.
Sabia pouco sobre ela, mas estava empenhado em conhecê-la melhor, porque era doce e encantadora demais.
Na dúvida, se segurou para não se aproximar de duas garotas que sempre embarcavam junto dela e perguntar por que a moça não havia vindo.
Não aguentou. Quando percebeu já estava na frente delas perguntando qual o motivo da ausência.
Elas se entreolharam, ficaram receosas em falar, até que uma delas disse, com os olhos lacrimejando: - Beth se foi ontem à tarde. Você é o Frederico?
Tinha um nó na garganta, mas respondeu que era e então a mesma moça o entregou uma carta.
Com a carta nas mãos, as pernas bambas e um coração destruído, desceu numa parada qualquer. Sentado na praça, com olhos cheios de lágrimas leu a carta que trazia uma grafia fina e graciosa.

Querido Frederico!

Quase não o conheço, mas o estimo demais desde o primeiro momento que você me segurou aquela vez dentro do metrô. Se não fosse você, teria caído e me machucado e o meu estado não permiti fortes abalos.
Víamo-nos apenas uma vez por semana e várias vezes você me perguntava por que eu não pegava o metrô àquela hora nos outros dias da semana. Fugia, não queria contar a verdade, porque eu sabia que o meu tempo era limitado. Mas você me fazia tão bem e parecia feliz quando me via que preferi nada dizer. Talvez eu tenha errado, mas fiz uma escolha.
Segunda-feira é o dia do meu tratamento, por isso nos encontrávamos, mas desde a última quarta-feira não consigo mais sair da cama, minhas pernas não me obedecem e o meu corpo está mais cansado do que de costume.
Já percebi que minhas horas estão terminando, por isso uso minhas últimas forças para te escrever essas linhas, apenas para te demonstrar o quão bem fizestes às minhas segundas-feiras, foram dias mágicos, não importando se chovia ou se fazia sol.

Que fiques bem para sempre e que continues a transformar a segunda-feira de outras pessoas.

Com eterno carinho, Beth.


Ao invés de ficar desnorteado, sorriu levemente e agradeceu por ter podido conhecer uma pessoa tão incrível em uma segunda-feira que podia ter sido tão sem graça.